*José Álvaro de Lima Cardoso.
A
Federação Única dos Petroleiros (FUP) recentemente exigiu a renúncia do presidente
da Petrobrás, Pedro Parente, por “ilegitimidade na origem, destruição do
patrimônio público e interesses escusos”. O pedido de renúncia se baseia,
segundo documento da FUP, na “clara intenção de destruir a empresa”, pela
"alienação patrimonial por preços irrisórios" e pela estratégia de
"apequenamento da Petrobras".
Segundo
a FUP, enquanto Temer agoniza, a direção da Petrobrás continua vendendo os
ativos da empresa à preço de banana. Recentemente a direção da Petrobrás
colocou à venda de dois grandes campos de gás natural no Amazonas: Azulão, na
Bacia do Amazonas, e o Campo de Juruá, na Bacia do Solimões. Em maio o
presidente da Petrobrás tinha comunicado também a venda da refinaria de
Pasadena, nos Estados Unidos, e sua participação na Petrobras Oil & Gas
B.V., na África. A Federação vem denunciando que a meta dos atuais gestores
para a venda de ativos era de US$ 16 bilhões até 2016, mas já liquidaram quase
US$ 50 bilhões até o momento. Entregaram partes de Carcará, Iara e Lapa, áreas
do pré-sal que foram arrematadas pela norueguesa Statoil e pela francesa Total
por valores irrisórios. Segundo informações da Federação, mais de 60% das
sondas de perfuração que a Petrobras dispunha em 2013 já estão paradas, fazendo
as reservas da empresa recuarem aos níveis que tinha há 15 anos atrás.
São
capítulos manjados de um conhecido roteiro: sucatear a empresa para vender seus
ativos a preços irrisórios. Na década de 1990, nas privatizações do governo
FHC, fizeram isso em larga escala. Em face da dificuldade política que seria
colocar à venda a Petrobrás como um todo, pela importância e simbolismo que a
empresa representa, estão loteando os ativos aos pedaços, à preços miseráveis.
É uma estratégia que, se não for interrompida a tempo, em poucos anos tornará o
Brasil um mero exportador de óleo cru, intenção destacada dos golpistas. O
projeto é tornar o Brasil um fornecedor de matérias-primas para os países do
centro capitalista. Não por acaso, a refinaria de Pasadena, já está à venda.
Como a
história é um carro alegre, a Lava Jato, instrumento político do golpe, acabou
de ser desfeita como força tarefa (parece que só os membros da operação não
sabiam que isso iria ocorrer). É que aconteceu algo que não estava nos planos:
as denúncias alcançaram os chefes do golpe. Todos estão na cadeia ou caíram em
desgraça, o que não estava no roteiro. Claro a operação só foi desativada, após
retirar do poder uma presidenta inocente e contribuir decisivamente para o
desmonte da economia brasileira. A operação esteve sempre em articulação com o
Departamento de Justiça americano, e com as agências de espionagem americanas
(NSA, a CIA, o FBI). Usaram todos os procedimentos ilegais possíveis: prisões
arbitrárias, vazamento seletivo de delações de criminosos, desrespeito à presunção
de inocência. Incendiaram a opinião púbica, contra pessoas delatadas,
espalhando o ódio na sociedade, com a conivência do STF.
Comparado ao verdadeiro custo do golpe, os
R$ 6,2 bilhões que os membros da Lava Jato dizem ter descoberto em valores
desviados por corrupção (valor superestimado pelos procuradores para valorizar
a operação) não passam de “trocados”. Por exemplo, se compararmos com o custo
da destruição do setor de engenharia nacional, que abriu espaços para os
capitais norte-americanos e que liquidou cerca de mais de um milhão de empregos
somente na construção civil, decorrência da brutal depressão econômica, alavancada
pela Lava Jato. Talvez seja possível quantificar o custo dos quase três milhões
de empregos formais incinerados em 2015 e 2016 em decorrência da Lava Jato, em
valores monetários, mas é impossível quantificar o sofrimento humano que isso representa.
Um dos interesses
chaves do capital norte-americano no golpe, é a ampliação do acesso e o
controle sobre fontes de recursos naturais estratégicos, em momento de queda da
taxa de lucro ao nível internacional (terra, água, petróleo, minérios, e toda a
biodiversidade da Amazônia). Mas há também todo um interesse geopolítico, de
alinhar o Brasil com as políticas dos EUA, como ocorreu em outros golpes.
Conforme o jornalista Pepe Escobar (O
Brasil no epicentro da guerra híbrida, de julho de 2016), os países que
compõem os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foram os
primeiros alvos da Guerra Híbrida. Este conceito foi desenvolvido pelos
militares norte-americanos, que pode ser definido, segundo o jornalista, como “a
política é a continuidade da guerra por meios linguísticos”. Dentre as várias
razões dos EUA para tentar destruir os BRICS, uma possivelmente foi decisiva: a
ideia dos países do Bloco, de operar o comércio internacional utilizando suas
próprias moedas, e não o dólar norte-americano.
Certamente
não foi por acaso que uma das primeiras medidas da coalização golpista foi
aprovar o projeto de Serra que, na prática, acaba com a Lei de Partilha,
promessa feita pelo senador à petrolífera norte-americana Chevron. Também não
deve ter sido por coincidência a vinda para o Brasil, em agosto de 2013,
embaixadora dos EUA, Liliana Ayalde, que tinha trabalhado no Paraguai entre
2008 e 2011, e saiu pouco antes do golpe parlamentar ocorrido naquele país. À
medida que formos avançando na montagem do quebra-cabeça do golpe, as coisas
ficarão ainda mais claras. É fundamental entendermos a complexidade do processo
para interromper os danos ao Brasil e aos trabalhadores.
*Economista.
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