domingo, 25 de junho de 2017

Irão intensificar os ataques aos direitos e à economia do país.




                                                                                 *José Álvaro de Lima Cardoso.
     Se o golpe de Estado conseguir realizar todas as suas metas, irá destruir o Estado brasileiro. A democracia já foi restringida pela própria operação do golpe e, em função da politização do judiciário, vivemos um Estado de exceção. Mas a tendência é o espaço democrático se estreitar ainda mais. A Operação Lava Jato, criada para ser uma alavanca fundamental do golpe e criminalizar a esquerda, esteve sempre em articulação com o Departamento de Justiça americano, e com as agências de espionagem americanas (NSA, a CIA, o FBI). Utilizaram todas as ilegalidades possíveis, como prisões arbitrárias, vazamentos seletivos, desobediência ao princípio fundamental de presunção de inocência, etc. A Lava Jato, na realidade, desde o início foi um instrumento de ataque aos partidos de esquerda e ao Estado brasileiro.
     Recentemente foi divulgada reportagem de Gustavo Aranda, publicada no site Jornalistas Livres, que revela os métodos de que se vale Sérgio Moro para obter “provas” contra seus inimigos. A matéria mostra como se dá a articulação da Lava Jato com a polícia norte-americana, com o objetivo de criminalizar os alvos da operação, ou seja, lideranças dos partidos de esquerda no Brasil. Tudo isso feito sem informar as autoridades brasileiras, incluindo Ministério Público, e atropelando a legislação nacional que trata do assunto. A reportagem mostra que Moro encaminhou a criação de CPF e conta bancária falsos para servir aos objetivos da polícia dos EUA. Isto está divulgado na mídia, faz parte de uma sucessão de graves ilegalidades cometidas por Sérgio Moro, e as autoridades competentes não fazem absolutamente nada. Precisa desenhar?
     Um dos capítulos mais sórdidos do golpe foi a prisão do Vice Almirante e Engenheiro Othon Luís Pinheiro da Silva, principal responsável pelas maiores conquistas históricas na área de tecnológica nuclear no Brasil. Segundo o pessoal da área, ele concebeu o programa do submarino nuclear brasileiro e foi o principal responsável pela conquista da independência na tecnologia do ciclo de combustível, que colocou o Brasil em posição de destaque na matéria. Para os especialistas na área o Vice Almirante é considerado um patriota e um herói brasileiro. Para o judiciário que participou do golpe é um corrupto. O fato concreto é que, conforme vários testemunhos, a hipótese de corrupção não combina com a biografia do Almirante.
     O Almirante foi acusado pelo Ministério Público de receber R$ 4,5 milhões, supostamente como propina relativa à construção de usina nuclear Angra 3, quando exerceu o cargo de presidente da Eletronuclear, entre 2005 e 2015. O esquema estaria ligado, segundo a denúncia, à um contrato aditivo no valor R$ 1,24 bilhões, firmado entre a Eletronuclear (controladora da usina) e a construtora Andrade Gutierrez. O nome do Almirante foi citado pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez, Rogério Nora de Sá, em uma delação premiada. Segundo o delator, o almirante teria pedido 1% do valor do contrato como propina, ainda que o percentual pelo qual ele foi condenado seja de 0,36% do valor do contrato.  A condenação em 2015, foi duríssima: 43 anos de prisão, o que, para um homem de 77 anos, representa prisão perpétua. Uma condenação desse tipo, para um cientista que é considerado um herói pelos seus pares, é uma ironia cruel, num pais em que bandidos, acusados de receber R$ 50 milhões, para o qual estão disponíveis vídeos, gravações, depoimentos, e outros, estão livres para continuar cometendo crimes.
     Há um justificado temor dos especialistas de que os documentos confiscados pela Lava Jato possam violar os segredos das tecnologias nacionais e do programa nuclear brasileiro, fundamentais para a continuidade do programa. Esse é um risco evidente. Vários autores, como Luiz Alberto Moniz Bandeira, vêm destacando os vínculos do juiz Sérgio Moro, com instituições norte-americanas de informações e do Estado. Moniz Bandeira, profundo conhecedor do assunto explica que a metodologia que foi aplicado no Brasil é uma “técnica do golpe”, bastante complexa e sofisticada, antiga, e que derrubou muitos governos no mundo todo. Segundo o historiador, um dos aspectos fundamentais na aplicação nessa técnica é disfarçar a participação e a responsabilidade dos EUA com o golpe de Estado, visando manter as aparências no campo diplomático.
     Em entrevista na edição de junho da Revista Piauí, o ex-prefeito Fernando Haddad revelou que, durante as manifestações de 2013, as “Jornadas de Junho”, tanto Dilma quanto o ex-presidente Lula foram alertados pelos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Erdogan, sobre a possibilidade de que os protestos estivessem sendo patrocinados por corporações, localizadas inclusive, fora do Brasil. Na entrevista, Haddad menciona também um estudo gráfico que teria analisado também naquela ocasião, que indicava que a movimentação e o padrão nas redes sociais, de convocação para as manifestações, estavam longe de serem espontâneos, mas decorriam de organização e sofisticada tecnologia. Foi também em 2013, lembremos, que vazaram documentos da Agência de Segurança Nacional Norte-Americana (NSA), que revelaram que Dilma e o núcleo do seu governo estavam sendo espionados pelo governo estadunidense.
        O Brasil ajudou a fundar, e era antes do golpe um ativo participante do BRICS. Este projeto entrou diretamente em rota de colisão com os interesses estadunidenses. Ameaçando inclusive a hegemonia dos EUA no mundo. Não por acaso, conforme lembra Moniz Bandeira, as três potências principais dos BRICS (China, Brasil e Rússia) estão sofrendo ataques simultaneamente, em várias frentes, já faz algum tempo. Entre as inúmeras razões imperialistas para perpetrar o golpe no Brasil, possivelmente uma das mais importantes foi a articulação nos BRICS para substituir o dólar norte-americano como moeda de curso global nas transações internacionais, utilizando as respectivas moedas nacionais. Podemos imaginar o que essa substituição significará para a economia americana. Isso irá abalar a vantagem estratégica da economia estadunidense, com o fato atual de que o grosso das transações comerciais se desenvolvem com base no dólar.
     Dos três países mencionados, o Brasil é o mais frágil, do ponto de vista da segurança nacional. Sofremos um dos golpes mais duros da história, com reação muito abaixo da necessária para impedir a derrota. Ainda no início de 2016, para dar um exemplo, o governo Dilma, já fortemente pressionado pela construção do golpe, negociou no Senado o projeto de fim da lei de Partilha, um dos objetivos estratégicos do golpe. Isto feito sob a estreita vigilância de lobbies das petroleiras, que em essência, era o projeto entreguista de Serra, promessa feita à petrolífera norte americana Chevron em 2010. Segundo revelação do Wikileaks em 2013, o senador teve encontros secretos com Patrícia Padral, diretora da Chevron no Brasil, nos quais, se eleito, reveria o modelo de Partilha, proposta defendida ardorosamente pelas multinacionais do petróleo.
     A ofensiva de destruição dos estados nacionais, pelo capital financeiro, especialmente os de origem estadunidense, é mundial. É só olhar o que aconteceu em países como Líbia, no Iraque, no Paquistão, na Ucrânia e Síria. Na América do Sul, os dois principais países atacados são Venezuela e Brasil. Não por coincidência as duas maiores reservas de Petróleo da região. No caso do Brasil, o interesse nas reservas da maior descoberta de petróleo do milênio, o pré-sal, foi decisivo. Mas não é só petróleo. É toda a biodiversidade da Amazônia, água, do nióbio, excelentes terras para produção de alimentos.
     Não temos o direito de nos deixar enganar. Quem realizou o golpe não irá se satisfazer com aquilo que foi divulgado ou encaminhado até agora: congelamento dos gastos sociais, terceirização sem limites, destruição da seguridade social, e liquidação dos sindicatos e dos direitos sociais e trabalhistas. Os golpistas têm uma cisão tática no que se refere ao governo Temer, que deve ser logo superada com o seu enterro, que é iminente. Mas a unidade estratégica em torno dos objetivos maiores do golpe permanece:  ataque muito mais profundo aos direitos do povo trabalhador, e à Economia nacional. Porém a realização da empreitada requer um mínimo de autoridade política, razão pela qual um governo com míseros 2% de popularidade não serve mais. Mas resolvida a divergência momentânea em torno do governo Temer, com a tática já novamente sincronizada, irão intensificar a carga para cima dos direitos sociais e trabalhistas.
                                                                                                           *Economista.


                                                                               

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