José Álvaro de Lima Cardoso
Dos três
grupos básicos de interesses (políticos corruptos, os super ricos e o imperialismo
norte-americano) na operação do golpe no Brasil, o capital internacional, principalmente o norte-americano, é
disparado, a força predominante. Não foram os ineptos procuradores golpistas,
ou um juiz medíocre de primeira instância - ambos os grupos em busca de fama e
dinheiro e sem nenhum compromisso com a soberania do Brasil - que destruíram, sozinhos, o setor de
engenharia nacional. Tampouco foram eles, isoladamente, que provocaram, somente
em 2015, um prejuízo na economia brasileira equivalente a R$ 140 bilhões (2,5%
do PIB).
É ingenuidade pensar que foram os
operadores visíveis da Lava Jato que colocaram na cadeia, cometendo as maiores atrocidades
legais, alguns dos maiores capitalistas do país, proprietários de empresas que
investem em todos os continentes. Só tem um poder que
está acima desse, que é o imperialismo norte-americano. A capacidade de articular interesses, o financiamento, e
as técnicas dali advindos foram essenciais no sucesso do golpe.
Com o passar dos anos, com mais acesso a informações
hoje restritas à grupos privilegiados, completaremos a montagem do quebra-cabeças
do golpe de Estado perpetrado em 2016. Que foi, talvez, o mais sórdido entre todos
os já desferidos contra o Brasil e o seu povo. No processo atual, todavia, muito
em decorrência da existência da Internet, estamos tendo oportunidade de tomar
conhecimento e denunciar inúmeros aspectos do que vêm ocorrendo, em tempo real.
Sabe-se, por exemplo, (e neste caso o esforço intelectual é bastante modesto) que
alguns dos grupos de direita, surgidos como cogumelos, de forma “espontânea”, a
partir de 2013 para engrossar o golpe, longe de serem ingênuos ou mal
informados, são alavancados pelos dólares dos irmãos Koch. Segundo
a revista Forbes, cada um dos irmãos possui 42,9 bilhões de dólares e estão em
sexto e sétimo lugar na lista de bilionários mundiais. São filhos (tem um terceiro) de Fred Chase Koch
(1900-1967), empresário do ramo de petróleo, e admirador de Benito Mussolini,
além de ser um dos fundadores da ultradireitista John Birch Society, de1958.
. Vários analistas, destaque para Luiz Alberto
Moniz Bandeira, autor de mais de 20 obras, já documentaram bem o envolvimento
da Lava Jato com as estruturas de espionagem do Império Americano. Segundo este
cuidadoso estudioso da história e da política, a operação Lava Jato,
instrumento central do golpe, desde o seu início esteve em articulação com o
Departamento de Justiça, e com as agências de espionagem americanas (NSA, a
CIA, o FBI). Os procedimentos ilegais utilizados na Operação, prisões
arbitrárias, vazamento seletivo de delações de criminosos, desrespeito aos
princípios mais elementares da democracia (como a presunção de inocência), e a
mobilização da opinião pública contra pessoas delatadas, são técnicas
largamente utilizadas pela CIA em golpes e sabotagens mundo afora.
Blindados pela mídia, a arrogância e o descaso com a opinião pública é
tão grande que, sem fazer questão de esconder, a Lava Jato fez acordos de
colaboração com o departamento de justiça dos EUA, com troca de informações de
um lado e outro, para uso inclusive, das estruturas jurídicas americanas em
processos contra a Petrobrás. Vejam que tipo de cidadão construímos no Brasil. A
sabujice é tão grande que, pode-se ler na imprensa, os procuradores e policiais
estavam explodindo de orgulho de trabalhar com as organizações policiais e
jurídicas norte-americanas.
O interesse do capital
internacional, essencialmente o norte-americano, obviamente é ampliar o acesso
e o controle sobre fontes de recursos naturais estratégicos, em momento de
queda da taxa de lucro ao nível internacional (terra, água, petróleo, minérios,
e toda a biodiversidade da Amazônia). Mas no golpe há todo um interesse
geopolítico, de alinhar o Brasil nas políticas dos EUA, como ocorreu em todos
os golpes. Conforme o jornalista Pepe Escobar
(O Brasil no epicentro da guerra híbrida, de julho de 2016), os
países que compõem os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foram
os primeiros alvos da Guerra Híbrida. Este conceito foi desenvolvido pelos
militares norte-americanos, que pode ser definido, segundo o jornalista, pela
frase “a política é a continuidade da guerra por meios linguísticos”. Dentre as
várias razões dos EUA para destruir os BRICS, uma possivelmente foi decisiva: a
ideia dos países do Bloco, de operar o comércio internacional utilizando suas
próprias moedas, e não o dólar norte-americano.
Moniz Bandeira observou recentemente que os Estados Unidos, no período 1898
e 1994, patrocinaram, somente na América Latina, 41 casos de golpes de Estado
para mudança de regime. Isso representa a derrubada de um governo a cada 28
meses em um século. No Brasil, segundo o historiador, os Estados Unidos
encorajaram a prática do lawfare (guerra jurídica), elemento utilizado no golpe
de Estado. Sérgio Moro participou, como descreve Moniz Bandeira, de inúmeras
atividades com a comunidade de informações dos EUA, e a própria embaixada dos
Estados Unidos no Brasil. O Procurador
Geral da República Rodrigo Janot, foi a Washington, em fevereiro de 2015, tendo
se reunido com o Departamento de Justiça norte-americano, para discutir
assuntos relativos à Petrobrás.
O governo golpista, neste ano,
retomou com os Estados
Unidos, em segredo, negociações para um acordo sobre o uso de uma base militar
brasileira no Maranhão visando o lançamento de foguetes norte-americanos. Essas
negociações, que tinham sido encerradas em 2003, foram retomadas por Serra,
ex-ministro das relações exteriores, que prometeu à Chevron desmanchar a Lei de
Partilha. A Base de Alcântara é considerada a mais bem localizada do mundo,
para o lançamento de foguetes, o que significa, dentre outras vantagens,
economia de combustível. A meta dos golpistas, que nunca tiveram projeto de
nação, é transformar o Brasil numa espécie de proterado dos EUA. Para os
verdadeiros brasileiros, não há outro caminho a não ser lutar até derrotar o golpe
e todas as suas nefastas consequências.
Economista.
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