*José Álvaro de Lima Cardoso.
As
campanhas salariais dos trabalhadores se desenrolam num dos momentos mais
difíceis da história dos trabalhadores e do povo brasileiro. Atravessamos uma
das mais áridas conjunturas da história, que combina: pior crise do capitalismo
mundial; mais grave depressão da história do Brasil e um golpe de Estado. Golpe
dos mais sórdidos contra o povo e os trabalhadores.
Segundo os dados do Produto
Interno Bruto (PIB) relativos ao primeiro trimestre, o país recuou ao patamar
de produção do final de 2010. Foram oito quedas trimestrais seguidas no PIB, a maior
sequência já registrada na história do país. Na comparação com o 2º trimestre
de 2014, o produto recuou 8%. O consumo das famílias, um dos motores
fundamentais da economia, equivalente a 65% do PIB, segue em queda. O número de
desempregados chegou a 14,5 milhões com forte impacto sobre a massa salarial. Os
investimentos estão parados, desde antes do golpe, e se encontra no menor nível
em 15 anos. Alguns setores industriais chegam a 50% de taxa de ociosidade da
produção.
Os golpistas querem enfrentar este quadro tenebroso, através da destruição
dos programas e direitos sociais, fundamentais para o povo, especialmente em
momentos de depressão econômica como o atual. O ataques atingem a esmagadora
maioria da população, que vive direta ou indiretamente dos frutos de seu
trabalho. No entanto, como a seguridade social e os direitos básicos são o alvo
principal da investida, estão na linha de tiro principalmente os mais vulneráveis:
mais pobres, idosos, mulheres, etc. Como, mesmo com limitações, quem pode
defender os trabalhadores, especialmente os que se encontram na base da pirâmide
salarial, são os sindicatos, estes viraram um dos alvos centrais dos ataques. Querendo
ou não, as entidades sindicais atuam como a primeira e a mais importante linha
de defesa dos trabalhadores, por isso os golpistas almejam o seu aniquilamento.
Nesta conjuntura, as
campanhas salarias que estão conseguindo repor as perdas salariais do período e
manter os direitos sociais e os relativos às condições de trabalho, podem ser
consideradas vitoriosas. É só considerar que, segundo o Balanço das Negociações
do DIEESE, em 2016 a proporção de acordos que não conseguiram nem
mesmo recompor o poder de compra dos salários foi de 37%; a parcela de
reajustes parcelados em mais de uma vez foi de 29,6%; e os reajustes
escalonados por faixas de salários alcançou 32,4%.
A realidade das negociações coletivas de
2016 e 2017 revela que é imprescindível manter o espírito de luta, apesar da
extrema adversidade. Os trabalhadores devem se precaver, mas não temer a
derrota. As vitórias que os trabalhadores, através de seus sindicatos, vêm
obtendo, não têm caído do céu. Quando ocorrem, são resultado da organização das
campanhas e da mobilização das categorias. A habilidade negocial das comissões
de negociação tem sido importante, mas os elementos decisivos são a determinação
e a coragem dos trabalhadores. Temperados, claro, pela lucidez tática e
estratégica das suas direções.
Neste ano, porém, as campanhas salariais
atuais possuem uma especificidade fundamental. Mesmo quando as campanhas são dadas
como encerradas, quando se conquista o que tem sido possível da pauta reivindicada,
os trabalhadores não podem recolher suas armas e voltar para casa. Mesmo quando
concluídas as lutas específicas da categoria, a luta geral contra o golpe não se
encerra. É uma luta maior, contra a destruição dos direitos gerais dos
trabalhadores e aposentados, contra a entrega do petróleo, da biodiversidade da
Amazônia, contra a venda de terras a estrangeiros, contra a entrega do Aquífero
Guarani e a privatização das estatais. É uma luta em defesa do Brasil e da
classe trabalhadora no seu conjunto.
Economista.
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