por Armando Coelho Neto, no Jornal GGN
Vivi mais da metade de minha vida
dentro da Polícia Federal e fui além do tempo necessário para
aposentadoria forçada. Para surpresa de muitos, se tivesse que eleger
meus piores dias na instituição (pessoal e profissional), certamente foi
durante a gestão do Partido dos Trabalhadores. Se de um lado sofri,
hoje, aquele infortúnio me serve como selo de isenção no que digo sobre o
PT. Não tenho saudade de governo algum, nem de PF alguma antes de
Lula/Dilma. Tenho sérias dúvidas quanto a coerência moral e cidadã dos
que dizem o contrário, e mais incertezas ainda quanto ao caráter idôneo
dos que dentro ou fora daquela instituição gritou “Fora Dilma”.
Nasci pobre e continuo pobre. Se ser
corrupto é ter dinheiro roubado não o tenho. Na PF, atuei entre outras
áreas na corregedoria, unidade na qual busquei o aprimoramento ético e
moral dos servidores e melhores resultados da atividade fim. Como
representante sindical, transformar aquela autarquia em serviço público e
em polícia cidadã foi uma obsessão utópica nunca negligenciada. Dentro
da PF, combati as ingerências políticas e não foram raros os momentos
nos quais entrei em choque com a administração, contrariei interesses de
chefes de plantão.
Nesse sentido, não sei o que passa na
cabeça de aparentes homens de bem,de dentro ou de fora da PF, até no
seio de minha família, quando imaginam que defendo corrupto e/ou a
corrupção. Só mesmo o ódio disseminado pelo coronelismo eletrônico pode
ser determinante para esse travamento mental. Sequer se dão ao trabalho
de elaborar questões elementares, do gênero: se ele não é ladrão, o que
esse cidadão está querendo dizer? Se teve uma vida assim ou assado, qual
sua real preocupação? Por que não incensa Sérgio Moro e sua equipe? Por
que não assina os abaixo-assinados oriundos da legião messiânica da
Republiqueta de Curitiba?
Não sou jurista, intelectual, nem
aceito rótulos. Sou um cidadão inquieto diante das injustiças sociais,
atormentado com o descaso quanto à base da pirâmide de Maslow. O secular
flagelo humano é meu eixo de pensamento, pano de fundo, questão
preliminar em minhas análises conjunturais. Desse modo, não consigo me
desconectar de uma ideia: se 500 anos não foram suficientes para tornar
nossa sociedade mais justa, os tímidos doze anos petistas menos ainda.
Mas, certamente, são doze anos que entram para a história como a mais
fértil semente de justiça lançada sobre o solo pindorama. Diante disso, a
pior fase de minha história pessoal e funcional dentro da PF perde em
importância.
Não sou um órfão do PT nem de gestão
nenhuma. Nunca perdi “boquinha” na PF e quanto mais o tempo passa, mais
vejo gatos nas tubas da PF. Quaisquer sons que delas brotam saem um
“word behind words” (palavras por trás das palavras), como dizem os
ingleses. Os delegados perderam o discurso e a burra ideia de que o
problema do Brasil é o PT faliu. Não afinam um discurso sólido diante da
evidência do golpe. A “Farsa Jato” veio para destruir Lula/PT e os
rumores de abafa são para salvar Temer/PSDB. O novo impostor da pasta da
Justiça não reconhece a instituição e para ele Farsa Jato é Ministério
Público – uma afronta aos delegados que carregam o piano.
Portanto, caríssimos, o “Fora Leandro
Daiello” perdeu força e um magote de puxa-saco já o defende. Daiello
seria a garantia da caça ao PT e de impunidade de Fora Temer. A luta
para que a Farsa Jato seja “erga omnes” (para todos) é tão utópica
quanto a esperança de que o ex-stf retome a ordem democrática e anule o
golpe. Desse modo, enquanto o lixo se acumula, os urubus vagueiam lá no
alto. O obscuro urubu que sobrevoa o céu do Brasil se confunde com o
preto-toga e o preto colete-federal. Eis a estranha metáfora que os
delegados da PF se recusam a entender.
Os delegados da PF precisam de
humildade para reconhecer que foram usados. Precisam provar que não são
Patos da Fiesp e abrir seus arquivos! Organizem-se, conversem com a
delegacia de combate aos crimes ambientais e mostrem quem compra ilhas,
polui os rios, devasta nossas florestas e contrabandeia nossos biomas.
Dialoguem com a delegacia de crimes fazendários e mostrem por que a rua
25 de Março sonega num dia o faturamento de muitos municípios em um mês.
Mostrem por que se apreende mais droga que vai para o exterior do que a
destinada ao consumo interno.
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