DESAFIOS
PARA RIO + 20
Clemente
Ganz Lúcio*
No período de
14 a 22 de junho a cidade do Rio de Janeiro recepcionará a
Conferência das
Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável. Chama-se Rio+20
porque
acontece 20 anos depois da primeira Cúpula, ocorrida na mesma
cidade, sobre
"Meio Ambiente e Desenvolvimento". Muitos militantes
socioambientais
consideram a Conferência de 92 um ponto de chegada - leia-se, a
construção de
acordos marco - de uma longa caminhada de disputas, lutas e
negociações
iniciadas na Conferência de Estocolmo em 1972. Portanto, já
passaram-se
quarenta anos desde que se iniciou o debate mundial sobre as
questões
relacionadas ao meio ambiente.
É visível que a
questão ambiental, a mudança climática e o aquecimento global
entraram na
agenda dos organismos multipartirias, dos governos, dos
empresários, dos
trabalhadores, das diversas organizações da sociedade civil e
começam a fazer
parte das preocupações das pessoas em vários cantos do planeta.
Entretanto,
mesmo depois de quatro décadas, diferentes atores sociais
expressam graves
preocupações com os resultados alcançados até o momento em
relação à agenda da
sustentabilidade ambiental, bem como apontam a urgência de
decisões que
enfrentem os riscos ambientais claramente indicados desde a Rio
92. De lá para
cá, inúmeros outros riscos foram identificados que indicam que a
nossa relação
- da humanidade - com o planeta esta péssima!
Os inúmeros
estudos produzidos por cientistas e especialistas, organizações
ambientais e
não governamentais, os Relatórios das Nações Unidas, entre
outros, indicam que
a relação com a nossa casa e com os demais serem vivos com os
quais compartilhamos
o mesmo espaço, vai muito mal. A nossa presença tem cada vez
mais um alto
impacto ambiental, expresso na perda da biodiversidade e das
florestas, na
poluição dos solos, do ar, da água, dos rios, lagos e mares. A
ONU, em
relatório recente, reafirma que os atuais impactos da mudança
climática geram
alta fragilidade dos ecossistemas e elevam os riscos da
insegurança alimentar.
Estimativas
demográficas prospectam em 9 bilhões o números de humanos que
habitarão o
planeta em 2030. Relatório da WWWF - Pegada Ecológica - indica que atualmente já usamos
50% a mais de
recursos do que o planeta pode fornecer. Caso conseguíssemos
promover a
inclusão econômica de todos, quantos planetas Terra seria
necessário para manter
esse atual padrão de consumo?
Mesmo sem antes
superar as desigualdades, a pobreza e a miséria, o planeta já
"pede
água" e indica que esta prestes a "jogar a toalha". Como
poderemos simultaneamente superar a pobreza, a miséria e as
desigualdades,
promovendo bem estar e qualidade de vida para todos e garantir
sustentabilidade
ambiental? Este é o nosso desafio!
No Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social realizamos um debate
propositivo visando à
produção de um posicionamento comum sobre a agenda da
Conferência Rio+20. Mesmo
diante da diversidade de opiniões e posicionamentos das mais de
70
organizações, conseguimos chegar a um denominador comum que
destaca os
seguintes desafios e diretrizes de ação:
É primordial que na
Conferência
Rio+20 se construa um compromisso político irreversível
com o
desenvolvimento sustentável que considere que: (a) são
inseparáveis na vida
prática as dimensões ambientais, sociais e econômicas e é
fundamental construir
novas bases de sustentação política, ética, cultural, jurídica,
estética e
moral para o desenvolvimento; (b) a equidade - entre pessoas,
países e regiões
- e a liberdade são fundamentos transversais às políticas e
ações de promoção
do desenvolvimento sustentável.
A construção de agendas nacionais
de
desenvolvimento sustentável são
instrumentos que, orientadas por metas e indicadores,
devem apontar
estratégias em cada
contexto
histórico e social para o desenvolvimento sustentável.
É urgente uma nova governança
multilateral
participativa para promover a efetividade do
desenvolvimento sustentável,
incluindo-se o financiamento
para
apoiar mudanças globais no sistema produtivo, no modo de consumo
e de
distribuição.
A integra desse posicionamento
estratégico pode ser
acessada em http://www.cdes.gov.br/evento/8424/evento-acordo-para-o-desenvolvimento-sustentavel.html).
A efetividade
dessas e de tantas outra propostas apresentadas depende de
muitas coisas, entre
elas, da capacidade dos movimentos sociais, da sociedade civil
organizada, dos
governos, entre outros, de colocarem em debate deliberativo,
escolhas que
precisam ser feitas em cada contexto histórico. Trata-se de um
desafio
essencialmente político, que requer a presença de estadistas e
líderes capazes
de mobilizarem a sociedade para outro caminho. Onde estarão
eles? Qual é o
caminho?
* Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES –
Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social e do Conselho de
Administração do CGEE –
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos.
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