Uma manobra da oposição impediu que a
Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul aprovasse uma
manifestação de repúdio à forma com que o Congresso paraguaio destituiu
do cargo Fernando Lugo. "Interesses dos brasileiros que vivem naquele
país, especialmente os dos brasiguaios, devem estar acima de quaisquer
outros", disse ruralista. “Imaginem se os parlamentares paraguaios nos
convencerem de que o processo foi legítimo?”, emendou senador Ana Amélia
Lemos (PP-RS)
Najla Passos
Data: 26/06/2012
Brasília - Uma manobra da oposição impediu
que a Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul)
aprovasse, nesta terça (26), em reunião ordinária, uma manifestação de
repúdio à forma com que o congresso paraguaio destituiu do cargo o agora
ex-presidente Fernando Lugo. O deputado José Stédile (PSB-RS), autor da
proposta, considerou frustrante o desfecho da reunião, esvaziada após
os ruralistas perceberem que não teriam maioria para barrar a proposta.
Embora vários parlamentares tenham passado pela reunião, na hora da votação, encontravam presentes apenas 11 membros. O quórum necessário era de 14. “É frustrante porque o parlamento brasileiro perdeu a oportunidade de condenar o que ocorreu no Paraguai, por falta de quórum, já que a sessão foi esvaziada propositadamente, para que a representação brasileira não conseguisse manifestar sua posição. Isso tudo é lamentável para a consolidação da democracia na América Latina”, afirmou.
De acordo com ele, o Paraguai não é mais uma democracia e, portanto, não deve participar dos organismos do Mercosul, incluindo o parlamento. “O Paraguai possui três grandes partidos fechados, que dominam quase 100% do parlamento e fazem o que querem, como destituir um presidente sem lhe assegurar o direito de se defender. As eleições para o parlamento são ilícitas, porque o povo não vota diretamente nos seus representantes, escolhidos por meio de listas partidárias”, acrescentou.
No início da reunião, o deputado apresentou proposta de declaração de repúdio, sugerindo, inclusive, a suspensão da participação da delegação de parlamentares paraguaios na próxima reunião do Parlasul, prevista para ocorrer em 2/7, em Montevidéu, no Uruguai. A medida, porém, foi condenada pela maioria dos colegas, que defenderam o direito à voz da representação daquele país que, ao contrário da brasileira, ela é eleita por voto direto da população.
Por sugestão do deputado Nilton Lima (PT-SP) e do presidente da representação brasileira, senador Roberto Requião (PMDB-PR), Stédile excluiu o trecho que falava da suspensão. Mas manteve o repúdio. Ainda assim, parlamentares da oposição se recusaram a apoiar o documento. A principal alegação foi a defesa dos “brasiguaios”, os latifundiários brasileiros que se instalaram naquele país e condenavam o governo Lugo por não agir de forma enérgica com os sem-terra paraguaios, que reivindicam a reforma agrária.
O deputado Júlio Campos (DEM-MT) ironizou o entendimento de que o que ocorreu no Paraguai foi, de fato, um golpe de estado. “Não sei se mudou a forma de se dar golpes de estado no mundo, mas este pseudo-golpe foi referendado pelo Supremo Tribunal Federal do Paraguai. Além disso, não vi nem uma manifestação do povo morrendo de amores pelo senhor Fernando Lugo”, avaliou.
Segundo o parlamentar, os interesses dos brasileiros que vivem naquele país, especialmente os dos brasiguaios, devem estar acima de quaisquer outros. “Somos de Mato Grosso, estado que faz fronteira com o Paraguai, e já recebemos inúmeros pedidos para que acalmássemos a presidente Dilma, para que ela não entre com retaliações. Os interesses brasileiros estão acima dos esquerdismos”, acrescentou.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) pediu "prudência" na tomada de decisão. “Imaginem se, na reunião, os parlamentares paraguaios nos convencerem de que o processo foi legítimo?”, alegou. Ela relatou que também recebeu ligações de brasiguaios preocupados com possíveis retaliações ao país que possam prejudicá-los. “As condenações ou restrições que os governos possam fazer, como está fazendo Chávez [Hugo Chaves, presidente da Venezuela] com o petróleo, também prejudicarão brasileiros. O Paraguai já é o quarto maior produtor de soja, muito em função da participação dos brasileiros”.
Requião contra-argumentou que 80% da soja paraguaia é produzida por cerca de 600 brasiguaios. Mas observou que, na maioria dos casos, nem deveriam levar este nome. “São pessoas que vivem no Paraguai, frequentam as escolas de lá e cantam o hino nacional paraguaio”, apontou.
O presidente da representação brasileira manteve firme sua posição de repúdio ao golpe, alegando que o Paraguai já vivia, há muito tempo, uma instabilidade grande causada pela falta de apoio do legislativo às medidas tomadas pelo executivo. “Ficamos sem embaixador paraguaio no Brasil por três anos. O atual foi nomeado há 30 dias. Itaipu também ficou sem diretor porque o Congresso não homologava as indicações do presidente”, acrescentou.
Embora vários parlamentares tenham passado pela reunião, na hora da votação, encontravam presentes apenas 11 membros. O quórum necessário era de 14. “É frustrante porque o parlamento brasileiro perdeu a oportunidade de condenar o que ocorreu no Paraguai, por falta de quórum, já que a sessão foi esvaziada propositadamente, para que a representação brasileira não conseguisse manifestar sua posição. Isso tudo é lamentável para a consolidação da democracia na América Latina”, afirmou.
De acordo com ele, o Paraguai não é mais uma democracia e, portanto, não deve participar dos organismos do Mercosul, incluindo o parlamento. “O Paraguai possui três grandes partidos fechados, que dominam quase 100% do parlamento e fazem o que querem, como destituir um presidente sem lhe assegurar o direito de se defender. As eleições para o parlamento são ilícitas, porque o povo não vota diretamente nos seus representantes, escolhidos por meio de listas partidárias”, acrescentou.
No início da reunião, o deputado apresentou proposta de declaração de repúdio, sugerindo, inclusive, a suspensão da participação da delegação de parlamentares paraguaios na próxima reunião do Parlasul, prevista para ocorrer em 2/7, em Montevidéu, no Uruguai. A medida, porém, foi condenada pela maioria dos colegas, que defenderam o direito à voz da representação daquele país que, ao contrário da brasileira, ela é eleita por voto direto da população.
Por sugestão do deputado Nilton Lima (PT-SP) e do presidente da representação brasileira, senador Roberto Requião (PMDB-PR), Stédile excluiu o trecho que falava da suspensão. Mas manteve o repúdio. Ainda assim, parlamentares da oposição se recusaram a apoiar o documento. A principal alegação foi a defesa dos “brasiguaios”, os latifundiários brasileiros que se instalaram naquele país e condenavam o governo Lugo por não agir de forma enérgica com os sem-terra paraguaios, que reivindicam a reforma agrária.
O deputado Júlio Campos (DEM-MT) ironizou o entendimento de que o que ocorreu no Paraguai foi, de fato, um golpe de estado. “Não sei se mudou a forma de se dar golpes de estado no mundo, mas este pseudo-golpe foi referendado pelo Supremo Tribunal Federal do Paraguai. Além disso, não vi nem uma manifestação do povo morrendo de amores pelo senhor Fernando Lugo”, avaliou.
Segundo o parlamentar, os interesses dos brasileiros que vivem naquele país, especialmente os dos brasiguaios, devem estar acima de quaisquer outros. “Somos de Mato Grosso, estado que faz fronteira com o Paraguai, e já recebemos inúmeros pedidos para que acalmássemos a presidente Dilma, para que ela não entre com retaliações. Os interesses brasileiros estão acima dos esquerdismos”, acrescentou.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) pediu "prudência" na tomada de decisão. “Imaginem se, na reunião, os parlamentares paraguaios nos convencerem de que o processo foi legítimo?”, alegou. Ela relatou que também recebeu ligações de brasiguaios preocupados com possíveis retaliações ao país que possam prejudicá-los. “As condenações ou restrições que os governos possam fazer, como está fazendo Chávez [Hugo Chaves, presidente da Venezuela] com o petróleo, também prejudicarão brasileiros. O Paraguai já é o quarto maior produtor de soja, muito em função da participação dos brasileiros”.
Requião contra-argumentou que 80% da soja paraguaia é produzida por cerca de 600 brasiguaios. Mas observou que, na maioria dos casos, nem deveriam levar este nome. “São pessoas que vivem no Paraguai, frequentam as escolas de lá e cantam o hino nacional paraguaio”, apontou.
O presidente da representação brasileira manteve firme sua posição de repúdio ao golpe, alegando que o Paraguai já vivia, há muito tempo, uma instabilidade grande causada pela falta de apoio do legislativo às medidas tomadas pelo executivo. “Ficamos sem embaixador paraguaio no Brasil por três anos. O atual foi nomeado há 30 dias. Itaipu também ficou sem diretor porque o Congresso não homologava as indicações do presidente”, acrescentou.
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