sexta-feira, 22 de junho de 2012

Pai de Michelle Bachelet morreu por causa das torturas de seus colegas de armas



Investigação do Serviço Médico Legal chileno confirmou o que a família já sabia: o general Alberto Michelet morreu por causa das torturas que sofreu enquanto permaneceu preso durante o golpe militar. Na época, ele escreveu para a família: “Me quebraram por dentro, me encontrei com camaradas aos quais conheci por 20 anos, alunos meus, que me trataram como um delinquente ou como a um cachorro”. O artigo é de Christian Palma.
Data: 21/06/2012
Santiago - O general Alberto Bachelet, pai de Michelle, a ex-presidenta socialista do Chile, foi um homem honesto e enérgico defensor da democracia, que foi destruída quando Augusto Pinochet e outros altos oficiais chilenos deram o golpe de Estado de 11 de setembro de 1973, sendo o bombardeio a La Moneda o ícone dessa jornada sangrenta que terminou com o presidente Salvador Allende morto no palácio presidencial chileno.

O alto escalão das forças armadas vinha tramando havia meses esta ação de extermínio contra o governo da Unidade Popular, devidamente eleito nas urnas. Entretanto, muitos militares, defensores da república chilena, se negaram sistematicamente a apoiar o golpe de Estado. Um deles foi o general da Força Aérea do Chile (FACH), Alberto Bachelet, que nessa época trabalhava na unidade de abastecimento e preços do governo de Allende. Michelle tinha, nessa época, 21 anos e começava uma carreira na medicina que a ligaria por toda a vida ao serviço público.

Nesse mesmo dia, Bachelet foi detido por seus colegas de armas no Ministério de Defesa. Embora tenha sido liberado na mesma noite, três dias depois foi tirado de sua casa e preso novamente, acusado de “traição à pátria”. Humilhado e torturado morreu seis meses depois na prisão.

“Me quebraram por dentro - nunca soube odiar ninguém - sempre pensei que o ser humano é o mais maravilhoso desta criação e deve ser respeitado como tal, mas me encontrei com camaradas aos quais conheci por 20 anos, alunos meus, que me trataram como um delinquente ou como a um cachorro”, escreveu o general Bachelet da prisão a sua família antes de morrer.

Michelle Bachelet e sua mãe foram embora, exiladas na Alemanha. Ao voltar ao país, ela começou uma metódica carreira que a converteu na primeira mulher presidente do Chile, em 2006. Antes, foi a primeira ministra de Defesa da América Latina, posto no qual se encontrou mais de uma vez com aqueles que ordenaram torturar seu pai. A todos deu a mão. Todos sabiam que algum dia se saberia a verdade.

Verdade que chegou quarta-feira (20), quando o ministro especial Mario Carroza entregou as conclusões do Serviço Médico Legal (SML) que investigava as circunstâncias que rodearam a morte de Bachelet. A perícia estabeleceu que o oficial faleceu por causa das torturas que sofreu enquanto permaneceu preso na Academia de Guerra Aérea, durante o golpe militar.

O pai da ex-presidenta faleceu mais tarde no interior da prisão pública após sofrer uma parada cardiorrespiratória em março de 1974. O “traidor da pátria” foi golpeado pelos próprios membros das Forças Armadas e organismos de inteligência da ditadura encabeçada por Pinochet.

“O laudo do Serviço Médico Legal chegou há uma semana e efetivamente afirma que todos os interrogatórios a que foi submetido o general Bachelet agravaram sua situação coronária e que, provavelmente, foram a causa da morte do general. O Serviço aponta que foram as torturas, ainda que se possa pedir outra perícia, mas suas definições são conclusivas”, disse o magistrado.

Também estariam identificadas as pessoas que realizaram os interrogatórios com o general Bachelet. Nesse sentido, é provável que o juiz Carroza determine decisões judiciais nos próximos dias.

A viúva do general Alberto Bachelet, Ángela Jeria, disse aos meios de comunicação locais que foi “muito importante” que a justiça chilena estabelecesse que seu marido foi sido morto por causa das torturas aplicadas por seus colegas de armas quando foi acusado como traidor da pátria por haver participado do governo de Salvador Allende.

A mãe de Michelle Bachelet assegurou que o laudo do SML “confirma algo que eu e a minha filha sabíamos há muito tempo”.

Nesse sentido, Jeria insistiu que “eu e minha filha sempre estivemos convencidas que isso tinha acontecido e vimos quanto ele sofreu depois de ter ficado detido na Academia, depois de levá-lo ao hospital por causa das torturas”.

Finalmente, disse que este laudo chega num momento onde “muita gente trata de questionar e ocultar tudo o que aconteceu em 17 anos de ditadura”.

Tradução: Libório Junior

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