Para Patrick Bond, professor de Economia da
Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, o círculo vicioso do
capitalismo, com produção como resposta para os problemas criados por
ele na sociedade e no sistema financeiro, esbarrou no problema
ambiental, que não é resolvido dentro dessa lógica. “Deixar apenas como
um mecanismo de mercado? Deixar os banqueiros salvarem o planeta? Não! É
maluquice!”, afirmou durante palestra na UFRJ.
Rodrigo Otávio
Data: 08/06/2012
Rio de Janeiro - “Não! Não é possível. O
mercado de carbono não vai resolver, ele está falhando”, afirmou Patrick
Bond, professor de economia da universidade de KwaZulu-Natal, na África
do Sul, em resposta à pergunta se o próprio capitalismo reverteria a
crise financeira e ambiental que fecundou, principal tema colocado
durante sua palestra “A Economia Política do Mercado de Carbono”.
A palestra foi realizada na quinta-feira (7), no XVII Encontro Nacional
de Economia Política, que acontece até sexta-feira na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apesar da greve nacional das
instituições federais de ensino superior.
Bond é taxativo ao descreditar os certificados negociáveis de empresas que reduziram suas emissões de gases poluentes como espaço regenarativo de mais produção, consumo e negócios. “Para mim e esse é o tipo de pergunta que devemos fazer quando queremos relativizar os problemas do capitalismo, ‘será que isso resolve o problema da produção?’. Usar a lógica de internalizar as externalidades não dá certo. O capitalismo não será bem sucedido em resolver um problema causado para o mercado com o mercado”, afirma.
Para o economista, o círculo vicioso do capitalismo, com produção como resposta para os problemas criados por ele na sociedade e no sistema financeiro, esbarrou no problema ambiental, que não é resolvido dentro dessa lógica. “Deixar apenas como um mecanismo de mercado? Deixar os banqueiros salvarem o planeta? Não! É maluquice!”, vocifera Bond.
Bond embasa sua oposição ao explicar que a resposta do mercado foi a “comoditização” do ambiente como a grande área de crescimento após a exaustão do ouro, da prata e da propriedade. “Recentemente uma rede internacional anunciou que tem três milhões de unidade do ambiente brasileiro para pôr no mercado mundial. O que é isso? Como se permite? Qual a ligação do Brasil com a privatização do ar?”, questiona.
Truques
Nesse novo mercado, o economista aponta um dos mecanismos que estão criando a bolha de carbono. “É um truque técnico para limitar a poluição e permitir que as grandes corporações poluam mais. Ou se paga outras companhias que poluam menos para uma espécie de tabela de compensações, ou se faz essa compensação com árvores que seqüestrem carbono no Brasil. E aí dizem, ‘poluímos mais no hemisfério Norte porque temos plantações que tiram esse carbono do ar no Brasil’”, afirma ele.
Citando truques, o sul-africano volta às raízes da criação do mercado de carbono. “A aposta sempre foi o ‘neoliberalismo do carbono’. Al Gore (ex-vice presidente dos Estados Unidos), em 1997, em Kyoto, disse que se a ONU aceitasse o comércio de carbono, para que as corporações continuassem a poluir, os EUA assinariam o protocolo. Foi uma chantagem. Só que depois, no Senado americano, a assinatura perdeu por 95 a 0. Ou seja, ele não assinou e impôs a lógica do mercado de carbono”.
Para ele, esse mecanismo, ao não consertar a questão climática, acaba virando mais um custo. “E eles não fazem nada. Estão apostando que os mercados de carbono continuarão a existir. E com o Brasil e a África do Sul acordados, significa um subimperilaismo do carbono”.
Sem saída
Bond classifica a questão central como a impossibilidade de se financiar uma transição para uma ampla economia pós-carbono com os preços e as formas que esse mercado está estipulando, que varia entre sete e 35 euros por tonelada. “o comércio não tem as pré-condições necessárias para estabelecer operações e transações líquidas, até por causa da quantidade desses certificados de emissões roubados e fraudados. Ou seja, esse mercado está minado”.
A resposta que o economista tateia recai em uma estratégia fora desse mercado em implantação, mas em um ponto ideológico a partir da crise ambiental. “Precisamos começar a descobrir como fica o ecossocialismo, lutar contra os yuppies-verdes e os ecocapitalistas que estão por aí. A questão deve chegar não só ao pagamento da dívida ecológica, mas também à restauração ecológica”.
Bond é taxativo ao descreditar os certificados negociáveis de empresas que reduziram suas emissões de gases poluentes como espaço regenarativo de mais produção, consumo e negócios. “Para mim e esse é o tipo de pergunta que devemos fazer quando queremos relativizar os problemas do capitalismo, ‘será que isso resolve o problema da produção?’. Usar a lógica de internalizar as externalidades não dá certo. O capitalismo não será bem sucedido em resolver um problema causado para o mercado com o mercado”, afirma.
Para o economista, o círculo vicioso do capitalismo, com produção como resposta para os problemas criados por ele na sociedade e no sistema financeiro, esbarrou no problema ambiental, que não é resolvido dentro dessa lógica. “Deixar apenas como um mecanismo de mercado? Deixar os banqueiros salvarem o planeta? Não! É maluquice!”, vocifera Bond.
Bond embasa sua oposição ao explicar que a resposta do mercado foi a “comoditização” do ambiente como a grande área de crescimento após a exaustão do ouro, da prata e da propriedade. “Recentemente uma rede internacional anunciou que tem três milhões de unidade do ambiente brasileiro para pôr no mercado mundial. O que é isso? Como se permite? Qual a ligação do Brasil com a privatização do ar?”, questiona.
Truques
Nesse novo mercado, o economista aponta um dos mecanismos que estão criando a bolha de carbono. “É um truque técnico para limitar a poluição e permitir que as grandes corporações poluam mais. Ou se paga outras companhias que poluam menos para uma espécie de tabela de compensações, ou se faz essa compensação com árvores que seqüestrem carbono no Brasil. E aí dizem, ‘poluímos mais no hemisfério Norte porque temos plantações que tiram esse carbono do ar no Brasil’”, afirma ele.
Citando truques, o sul-africano volta às raízes da criação do mercado de carbono. “A aposta sempre foi o ‘neoliberalismo do carbono’. Al Gore (ex-vice presidente dos Estados Unidos), em 1997, em Kyoto, disse que se a ONU aceitasse o comércio de carbono, para que as corporações continuassem a poluir, os EUA assinariam o protocolo. Foi uma chantagem. Só que depois, no Senado americano, a assinatura perdeu por 95 a 0. Ou seja, ele não assinou e impôs a lógica do mercado de carbono”.
Para ele, esse mecanismo, ao não consertar a questão climática, acaba virando mais um custo. “E eles não fazem nada. Estão apostando que os mercados de carbono continuarão a existir. E com o Brasil e a África do Sul acordados, significa um subimperilaismo do carbono”.
Sem saída
Bond classifica a questão central como a impossibilidade de se financiar uma transição para uma ampla economia pós-carbono com os preços e as formas que esse mercado está estipulando, que varia entre sete e 35 euros por tonelada. “o comércio não tem as pré-condições necessárias para estabelecer operações e transações líquidas, até por causa da quantidade desses certificados de emissões roubados e fraudados. Ou seja, esse mercado está minado”.
A resposta que o economista tateia recai em uma estratégia fora desse mercado em implantação, mas em um ponto ideológico a partir da crise ambiental. “Precisamos começar a descobrir como fica o ecossocialismo, lutar contra os yuppies-verdes e os ecocapitalistas que estão por aí. A questão deve chegar não só ao pagamento da dívida ecológica, mas também à restauração ecológica”.
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