Por Tainara Machado | Valor
SÃO PAULO -
(Nota ampliada às 17h16) SÃO PAULO – A valorização do real em relação ao dólar é resultado da percepção dos investidores globais de que há oportunidades de investimento mais atrativas aqui do que no restante do mundo, e não culpa da guerra cambial, segundo Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia em 2008. “Gritar com os banqueiros centrais nos países desenvolvidos não vai resolver, eles têm mais coisas com o que se preocupar”, afirmou Krugman, enfatizando a pressão doméstica que o presidente do Fed, Ben Bernanke, enfrenta hoje para estimular a economia dos EUA.
Para Krugman, o crescimento do Brasil não é exuberante e o país está envolvido em uma onda de otimismo que não deveria ser atribuída ao desempenho econômico, mas ao fraco avanço no restante do mundo, afirmou o economista, que nesta quarta-feira participou do “Seminário Internacional sobre Pequenos Negócios”, promovido pelo Serviço de Apoio Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com apoio do Valor.
Embora tenha considerado o real sobrevalorizado, Krugman estima que o Brasil continuará a ser destino de fluxos de capitais no longo prazo, “o que é desconfortável para um país que está mostrando crescente habilidade da indústria manufatureira. O real forte era a última coisa que o Brasil precisava”, afirmou.
Além da política monetária dos países desenvolvidos, Krugman atribuiu a valorização do real em relação ao dólar ao comportamento dos preços das commodities, que continuarão em tendência de alta por causa da demanda dos países emergentes, principalmente da Ásia.
O economista, porém, diz que a valorização do real é um problema que pode ser, em parte, enfrentado pela imposição de impostos e limites que desencorajem a vinda desses capitais para o país. “Se não há ameaças à inflação é possível ainda cortar a taxa básica e juros”, afirmou.
Para ele, no entanto, não há uma fórmula simples para enfrentar o problema de baixo crescimento da indústria, acentuado pela valorização cambial. “No longo prazo, o real apreciado e déficit em conta corrente é uma situação que não pode se estender no longo prazo. É um problema antigo e o governo faz o que pode”, afirmou.
Em relação à afirmação de Delfim Netto, que também participou do seminário, de que o país precisará de 150 milhões de empregos de boa qualidade para atender à população em idade economicamente ativa em 2020, Krugman enfatizou que, no longo prazo, a tendência é de que a indústria gere cada vez menos empregos, com a automatização crescente dos processos.
EUA: a coisa melhorou
Sobre a situação nos Estados Unidos, a avaliação de Krugman é de ela é terrível, mas não desesperadora. De acordo com suas estimativas, o Produto Interno Bruto (PIB) americano está hoje US$ 1 trilhão abaixo do potencial. “Mas a situação não é desesperadora e está melhorando. O mercado de trabalho está dando sinais de melhora, o mercado imobiliário também, em parte porque não construímos praticamente nenhuma casa nos últimos seis anos”, afirmou.
Krugman também voltou a afirmar que a política monetária do Banco Central americano, o Fed, deveria ser muito mais expansionista do que é hoje, apesar das críticas de economistas mais conservadores, que afirmam que a injeção de liquidez no sistema financeiro ameaça a inflação.
Segundo ele, para alcançar a meta de inflação, de cerca de 2% nos Estados Unidos, e diminuir o desemprego, hoje pouco acima de 8%, seria necessário que a taxa básica de juros do país fosse negativa em 4,5%. “No entanto, o Fed esbarrou em um problema que pode ser resumido a uma palavra: zero. Não é possível tornar a taxa básica negativa”, afirmou.
Mundo afastou risco sistêmico
A análise do economista é de que o mundo não corre mais o risco de pânico sistêmico no setor financeiro, mas a saúde das economias desenvolvidas não foi restaurada. Para ele, parte do pânico observado após a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, foi dissipada por causa do suporte mais forte dado pelos governos ao sistema financeiro, uma certeza que até então não existia.
Apesar disso, observou Krugman, o cenário ainda é desastroso. “A economia real, medida em termos de crescimento do Produto Interno Bruto, está voltando somente agora aos níveis de 2008, o que não é suficiente se levarmos em conta o crescimento demográfico no período”.
Krugman comentou ainda que hoje o mundo está de “ponta-cabeça”, em relação ao que era o cenário em sua primeira visita ao Brasil, em 1991. “Naquele momento, acabávamos de deixar a década perdida na América Latina, tínhamos hiperinflação aqui no Brasil, um mundo muito diferente do que vivemos hoje. Hoje o Brasil não está em crise, mas o meu país (Estados Unidos) está. O mundo virou de ponta-cabeça em muitos aspectos”, afirmou.
(Tainara Machado | Valor)
Para Krugman, o crescimento do Brasil não é exuberante e o país está envolvido em uma onda de otimismo que não deveria ser atribuída ao desempenho econômico, mas ao fraco avanço no restante do mundo, afirmou o economista, que nesta quarta-feira participou do “Seminário Internacional sobre Pequenos Negócios”, promovido pelo Serviço de Apoio Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com apoio do Valor.
Embora tenha considerado o real sobrevalorizado, Krugman estima que o Brasil continuará a ser destino de fluxos de capitais no longo prazo, “o que é desconfortável para um país que está mostrando crescente habilidade da indústria manufatureira. O real forte era a última coisa que o Brasil precisava”, afirmou.
Além da política monetária dos países desenvolvidos, Krugman atribuiu a valorização do real em relação ao dólar ao comportamento dos preços das commodities, que continuarão em tendência de alta por causa da demanda dos países emergentes, principalmente da Ásia.
O economista, porém, diz que a valorização do real é um problema que pode ser, em parte, enfrentado pela imposição de impostos e limites que desencorajem a vinda desses capitais para o país. “Se não há ameaças à inflação é possível ainda cortar a taxa básica e juros”, afirmou.
Para ele, no entanto, não há uma fórmula simples para enfrentar o problema de baixo crescimento da indústria, acentuado pela valorização cambial. “No longo prazo, o real apreciado e déficit em conta corrente é uma situação que não pode se estender no longo prazo. É um problema antigo e o governo faz o que pode”, afirmou.
Em relação à afirmação de Delfim Netto, que também participou do seminário, de que o país precisará de 150 milhões de empregos de boa qualidade para atender à população em idade economicamente ativa em 2020, Krugman enfatizou que, no longo prazo, a tendência é de que a indústria gere cada vez menos empregos, com a automatização crescente dos processos.
EUA: a coisa melhorou
Sobre a situação nos Estados Unidos, a avaliação de Krugman é de ela é terrível, mas não desesperadora. De acordo com suas estimativas, o Produto Interno Bruto (PIB) americano está hoje US$ 1 trilhão abaixo do potencial. “Mas a situação não é desesperadora e está melhorando. O mercado de trabalho está dando sinais de melhora, o mercado imobiliário também, em parte porque não construímos praticamente nenhuma casa nos últimos seis anos”, afirmou.
Krugman também voltou a afirmar que a política monetária do Banco Central americano, o Fed, deveria ser muito mais expansionista do que é hoje, apesar das críticas de economistas mais conservadores, que afirmam que a injeção de liquidez no sistema financeiro ameaça a inflação.
Segundo ele, para alcançar a meta de inflação, de cerca de 2% nos Estados Unidos, e diminuir o desemprego, hoje pouco acima de 8%, seria necessário que a taxa básica de juros do país fosse negativa em 4,5%. “No entanto, o Fed esbarrou em um problema que pode ser resumido a uma palavra: zero. Não é possível tornar a taxa básica negativa”, afirmou.
Mundo afastou risco sistêmico
A análise do economista é de que o mundo não corre mais o risco de pânico sistêmico no setor financeiro, mas a saúde das economias desenvolvidas não foi restaurada. Para ele, parte do pânico observado após a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, foi dissipada por causa do suporte mais forte dado pelos governos ao sistema financeiro, uma certeza que até então não existia.
Apesar disso, observou Krugman, o cenário ainda é desastroso. “A economia real, medida em termos de crescimento do Produto Interno Bruto, está voltando somente agora aos níveis de 2008, o que não é suficiente se levarmos em conta o crescimento demográfico no período”.
Krugman comentou ainda que hoje o mundo está de “ponta-cabeça”, em relação ao que era o cenário em sua primeira visita ao Brasil, em 1991. “Naquele momento, acabávamos de deixar a década perdida na América Latina, tínhamos hiperinflação aqui no Brasil, um mundo muito diferente do que vivemos hoje. Hoje o Brasil não está em crise, mas o meu país (Estados Unidos) está. O mundo virou de ponta-cabeça em muitos aspectos”, afirmou.
(Tainara Machado | Valor)
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