do site Carta Maior
Faltando apenas uma semana para o primeiro turno das eleições presidenciais francesas os dois principais candidatos mediram suas forças e sua capacidade de mobilização em duas gigantescas concentrações em Paris. As pesquisas parecem ter congelado em um mesmo marcador: a vitória de François Hollande. No sábado passado, os ponteiros das pesquisas voltaram a colocar Hollande acima de Sarkozy no primeiro turno e ampliaram a margem de vitória do socialista no segundo turno, em 6 de maio.
Eduardo Febbro - De Paris
Data: 15/04/2012 Paris - A confrontação eleitoral ocupou as ruas. Faltando apenas uma semana para o primeiro turno das eleições presidenciais francesas os dois principais candidatos mediram suas forças e sua capacidade de mobilização em duas gigantescas concentrações ao final das quais não há um ganhador, mas sim um imitador, o presidente candidato Nicolas Sarkozy. O chefe de Estado convocou seus partidários à Place de la Concorde depois que seu rival socialista François Hollande chamou os seus apoiadores para se concentrar em Vincennes. Sarkozy copiou o dia, a hora e até usou o truque de adiantar a hora oficial de seu discurso para ganhar de François Hollande. Estes truques revelam as dúvidas e as preocupações que atingem o campo conservador.
As pesquisas parecem ter congelado em um mesmo marcador: a vitória de François Hollande. No sábado passado, os ponteiros das pesquisas voltaram a colocar Hollande acima de Sarkozy no primeiro turno e ampliaram a margem de vitória do socialista no segundo turno marcado para o próximo 6 de maio. A confrontação filosófica é apaixonante: um candidato presidente que se apresenta como o salvador de uma “civilização” em perigo, que agita todos os espantalhos do medo, o medo do vermelho, dos estrangeiros, dos mercados; o outro, o socialista, que fez da raiva contra as injustiças concentradas nesta década de governos de direita o seu fio condutor, que fala de concórdia, que desarticula o medo com sua postura ponderada, com sua lentidão calculada. A oposição é total, até no silêncio. Nicolas Sarkozy funciona como uma sinfonia extravagante. François Hollande como uma delicada sonata.
Sarkozy na Place de la Concorde e Hollande em Vincennes, ambos promoveram uma concentração de aproximadamente cem mil pessoas. O objetivo dos dois comícios era distinto: para Sarkozy, tratava-se de mobilizar suas tropas e de oferecer uma demonstração de forças, enquanto que o candidato socialista buscava protagonizar um “momento festivo” para deixar claro que, digam o que digam as pesquisas, a disputa “não está ganha”. Os dois candidatos lutam no sentido contrário: Hollande adverte para que ninguém se iluda em acreditar que as pesquisas de opinião já garantiram a vitória, e Sarkozy para animar seu eleitorado diante dos prognósticos negativos das pesquisas.
Nicolas Sarkozy, com seu estilo autoritário e nervoso, dirigiu-se à “maioria silenciosa” dizendo: “povo da França, não tenham medo, eles não ganharão se vocês decidirem que vocês querem ganhar”. O discurso de Sarkozy foi tão confuso quanto sua campanha. Uma grande mistura em um ritmo tão trepidante e enredado que, por momentos, não se sabia se quem estava falando era um liberal, um social democrata, um político da extrema direita, um centrista ou um tecnocrata de Bruxelas. Sarkozy pediu emprestado a cada um desses setores um pouco de seus conteúdos. O presidente candidato permitiu-se até o luxo de roubar referências culturais do candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon.
Como um boxeador que luta contra vários espectros no ringue, Sarkozy acusou seus adversários de “dilapidar a herança da França eterna”, defendeu a urgência de controlar as fronteiras para frear a imigração, questionou a validade do livre comércio, atacou o Banco Central Europeu (BCE) e pediu ajuda para ganhar. Tudo num só programa! Os papeis se inverteram nesta campanha. Nicolas Sarkozy tirou o traje de presidente para ser candidato e deixar esquecido o balanço de sua gestão. Ao mesmo tempo, o candidato socialista adotou uma postura quase de chefe de Estado em exercício, sereno, sempre flutuando nas alturas.
No comício de Vincennes, François Hollande colocou o acento nas “falsas evidências das pesquisas “ e na “euforia”. O candidato da rosa socialista evocou essa “esperança calma, firme, lúcida” que se sente crescer no país. “Não tenham medo. Eles estão dispostos a tudo, mas nós estamos prontos para presidir a França”, disse Hollande á multidão. Respondendo diretamente à estratégia que a direita usou durante a semana com o discurso do medo e do caos que invadiriam a França em caso de vitória socialista,
Hollande declarou: “Eles dizem que depois virá o caos. Não. Depois deles virá a mudança”. Logo em seguida, o candidato socialista desqualificou a ideia segundo a qual existe uma maioria sem voz, a qual se dirigiu Sarkozy na Place de la Concorde: “não há uma minoria ruidosa e uma maioria calada”, rebateu.
O combate frontal entre Sarkozy e Hollande restaurou na França a esquecida e insuperável oposição entre a esquerda e a direita. Esse antagonismo reencarnado nestas eleições presidenciais deixou muito para trás os demais candidatos. Só a extrema-direita da Frente Nacional e a esquerda radical de Jean Luc Mélenchon tem um espaço de escuta consequente no eleitorado. É paradoxal que Nicolas Sarkozy tenha repetido em seu comício o esquema que seus próprios aliados e conselheiros questionam.
A imprensa francesa registrou esta semana da profunda incerteza que se apoderou do campo conservador. Não sabem se é o caso de guinar para a direita, de viajar mais uma vez pelos territórios da extrema-direita ou de dar uma volta para o centro. “Nossas ideias não estão colando”, reconheceu, sob anonimato, um conselheiro de Sarkozy citado pelo Le Monde. O comício do presidente candidato foi uma síntese dessa dúvida: um pouco de cada coisa, um giro do timão para a direita, outro para o centro, uma passagem pela socialdemocracia e assim por diante. O barco liberal-conservador navega para as urnas com um timão sem rumo e sem uma mensagem precisa.
Tradução: Katarina Peixoto
As pesquisas parecem ter congelado em um mesmo marcador: a vitória de François Hollande. No sábado passado, os ponteiros das pesquisas voltaram a colocar Hollande acima de Sarkozy no primeiro turno e ampliaram a margem de vitória do socialista no segundo turno marcado para o próximo 6 de maio. A confrontação filosófica é apaixonante: um candidato presidente que se apresenta como o salvador de uma “civilização” em perigo, que agita todos os espantalhos do medo, o medo do vermelho, dos estrangeiros, dos mercados; o outro, o socialista, que fez da raiva contra as injustiças concentradas nesta década de governos de direita o seu fio condutor, que fala de concórdia, que desarticula o medo com sua postura ponderada, com sua lentidão calculada. A oposição é total, até no silêncio. Nicolas Sarkozy funciona como uma sinfonia extravagante. François Hollande como uma delicada sonata.
Sarkozy na Place de la Concorde e Hollande em Vincennes, ambos promoveram uma concentração de aproximadamente cem mil pessoas. O objetivo dos dois comícios era distinto: para Sarkozy, tratava-se de mobilizar suas tropas e de oferecer uma demonstração de forças, enquanto que o candidato socialista buscava protagonizar um “momento festivo” para deixar claro que, digam o que digam as pesquisas, a disputa “não está ganha”. Os dois candidatos lutam no sentido contrário: Hollande adverte para que ninguém se iluda em acreditar que as pesquisas de opinião já garantiram a vitória, e Sarkozy para animar seu eleitorado diante dos prognósticos negativos das pesquisas.
Nicolas Sarkozy, com seu estilo autoritário e nervoso, dirigiu-se à “maioria silenciosa” dizendo: “povo da França, não tenham medo, eles não ganharão se vocês decidirem que vocês querem ganhar”. O discurso de Sarkozy foi tão confuso quanto sua campanha. Uma grande mistura em um ritmo tão trepidante e enredado que, por momentos, não se sabia se quem estava falando era um liberal, um social democrata, um político da extrema direita, um centrista ou um tecnocrata de Bruxelas. Sarkozy pediu emprestado a cada um desses setores um pouco de seus conteúdos. O presidente candidato permitiu-se até o luxo de roubar referências culturais do candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon.
Como um boxeador que luta contra vários espectros no ringue, Sarkozy acusou seus adversários de “dilapidar a herança da França eterna”, defendeu a urgência de controlar as fronteiras para frear a imigração, questionou a validade do livre comércio, atacou o Banco Central Europeu (BCE) e pediu ajuda para ganhar. Tudo num só programa! Os papeis se inverteram nesta campanha. Nicolas Sarkozy tirou o traje de presidente para ser candidato e deixar esquecido o balanço de sua gestão. Ao mesmo tempo, o candidato socialista adotou uma postura quase de chefe de Estado em exercício, sereno, sempre flutuando nas alturas.
No comício de Vincennes, François Hollande colocou o acento nas “falsas evidências das pesquisas “ e na “euforia”. O candidato da rosa socialista evocou essa “esperança calma, firme, lúcida” que se sente crescer no país. “Não tenham medo. Eles estão dispostos a tudo, mas nós estamos prontos para presidir a França”, disse Hollande á multidão. Respondendo diretamente à estratégia que a direita usou durante a semana com o discurso do medo e do caos que invadiriam a França em caso de vitória socialista,
Hollande declarou: “Eles dizem que depois virá o caos. Não. Depois deles virá a mudança”. Logo em seguida, o candidato socialista desqualificou a ideia segundo a qual existe uma maioria sem voz, a qual se dirigiu Sarkozy na Place de la Concorde: “não há uma minoria ruidosa e uma maioria calada”, rebateu.
O combate frontal entre Sarkozy e Hollande restaurou na França a esquecida e insuperável oposição entre a esquerda e a direita. Esse antagonismo reencarnado nestas eleições presidenciais deixou muito para trás os demais candidatos. Só a extrema-direita da Frente Nacional e a esquerda radical de Jean Luc Mélenchon tem um espaço de escuta consequente no eleitorado. É paradoxal que Nicolas Sarkozy tenha repetido em seu comício o esquema que seus próprios aliados e conselheiros questionam.
A imprensa francesa registrou esta semana da profunda incerteza que se apoderou do campo conservador. Não sabem se é o caso de guinar para a direita, de viajar mais uma vez pelos territórios da extrema-direita ou de dar uma volta para o centro. “Nossas ideias não estão colando”, reconheceu, sob anonimato, um conselheiro de Sarkozy citado pelo Le Monde. O comício do presidente candidato foi uma síntese dessa dúvida: um pouco de cada coisa, um giro do timão para a direita, outro para o centro, uma passagem pela socialdemocracia e assim por diante. O barco liberal-conservador navega para as urnas com um timão sem rumo e sem uma mensagem precisa.
Tradução: Katarina Peixoto
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