terça-feira, 24 de abril de 2012

Eficiência não vem de coisas fáceis


Harold Sirkin tem motivos pessoais e profissionais para se interessar pelo Brasil. Seu filho, Davi, estuda português e, em breve, passará uma temporada aqui a fim de aperfeiçoar o idioma. Davi ficou empolgado com as grandes nações emergentes depois de ler um livro escrito pelo pai.
Sócio sênior do escritório do Boston Consulting Group (BCG) em Chicago, Sirkin é coautor de Globalidade: Competindo com todo mundo de todos os lugares por tudo, que foi escolhido pela revista The Economist como um dos melhores livros de negócios de 2008. A obra explora as estratégias das empresas para competir dentro da globalidade, que seria o último estágio da globalização.
Também é autor do estudo "Produzindo na América, de novo", que apresentou pessoalmente a Barack Obama na Casa Branca. As conclusões do trabalho eram música para os ouvidos do presidente americano: as indústrias estão migrando da China de volta para os Estados Unidos. Em visita a São Paulo, na semana passada, Sirkin conversou com o Estado. A seguir trechos da entrevista.

Por que o senhor acredita que a indústria americana está se tornando competitiva novamente?
Na verdade, é simples. Em 2001, a China entrou na Organização Mundial de Comércio. Na época, os salários chineses eram US$ 0,58 por hora. Como os salários nos EUA eram altos, por que não produzir na China? O pêndulo, então, balançou na direção da China. Já vimos isso no passado com o Japão. No final da década de 60, o Japão mandava televisões, rádios e carros para os EUA. Se você ler as revistas e jornais de negócios da época, a história era que o Japão ia dominar o mundo. O que aconteceu? O pêndulo balançou na direção contrária. Os salários subiram no Japão.

Todos pensaram que com os chineses seria diferente...
Mas a história se repete. Foi a mesma coisa com os Tigres Asiáticos - Cingapura, Taiwan, Hong Kong e Coreia do Sul - na década de 90. O que acontece agora é que a China é muito maior, então leva mais tempo para o pêndulo voltar. Os salários na China estão subindo entre 15% e 20% ao ano. Hoje, a produtividade nos EUA é 2,5 a 3 vezes a da China. A diferença de custos na China em relação aos EUA era de cerca de 30%. Com o tempo, foi diminuindo. Em 2015, a diferença entre produzir na China e nos EUA será de menos de 10% - e é preciso acrescentar custos como transporte, estoques, perdas, risco político.

O Japão entrou em uma longa recessão quando o pêndulo voltou para os EUA. O que vai acontecer com a China?
Não acredito que esse é o futuro da China. Será mais parecido com os Tigres Asiáticos. A história se repete, mas você tem opções diferentes dependendo do que faz. As fábricas não vão fechar na China, mas produzir para o mercado local.

Qual será o impacto da robotização?
É uma mudança importante. Várias companhias podem ilustrar isso, mas o melhor exemplo é a NatLabs, na Flórida, que faz implantes dentários. Eles costumavam fazer tudo na China. São produtos muito personalizados - do ponto de vista estético e médico cada implante é específico para uma pessoa. Eles pegavam os moldes, enviavam para a China, e os implantes faziam todo o caminho de volta. Só que a empresa percebeu que poderia fazer a mesma coisa na Flórida, com mais qualidade, por meio da inovação. O aparelho escaneia sua boca e produz os dentes em um terço do tempo, com mais qualidade e mais barato que na China.

Na América Latina, quem se sairá melhor: México ou Brasil?
Depende do que acontecer em cada país. Certamente o Brasil é abençoado com agricultura, recursos naturais, pessoal qualificado. Tem companhias de primeira linha como Vale e Embraer. O México também tem muitos ativos, mas alguns problemas. Um deles é a violência.
Mas hoje o México está mais competitivo que o Brasil por causa do câmbio, não é?
Para a indústria, sim. Mas, se você pensar qual economia vai crescer mais, é difícil dizer. Na indústria, o Brasil tem uma desvantagem por causa do seu sucesso. É um país bem sucedido na agricultura e em recursos minerais - ativos que muitos países adorariam ter. O Brasil tem superávit com a China! É um padrão de crescimento diferente. E quando isso ocorre, a moeda se move, torna o Brasil mais caro e as coisas ficam difíceis para a indústria.

O Brasil sofre da doença holandesa?
Não está nem perto disso (desindustrialização). Mas o País tem que pensar em uma estratégia nacional. Não estudo a política brasileira, mas o País tem de decidir o que deseja ser. Se quer, por exemplo, ser como a Austrália. Pode ser um caminho bem sucedido, mas acredito que um país grande como o Brasil, precisa ter equilíbrio. E isso significa possuir um setor industrial.

Como é possível tornar a indústria competitiva com o real forte?
É a mesma coisa nos EUA. A questão é se tornar eficiente. Deixe-me dar alguns dados sobre os EUA, que talvez se repitam no Brasil. Hoje os Estados Unidos produzem 2,5 vezes mais valor adicionado na indústria do que em 1972. E fazem isso com 30% menos trabalho. O que aconteceu? Por causa do Japão, Tigres Asiáticos e China, as empresas americanas tiveram que se tornar mais eficientes ou faliriam. O país se tornou uma plataforma industrial muito eficiente. Se isso vai acontecer no Brasil, não sei. Depende das políticas implementadas e também da sorte.

O que um país precisa fazer para se tornar eficiente?
Depende da pressão econômica sobre as empresas. Não é algo que os países possam fazer especificamente. Os governos podem ajudar, dar incentivos fiscais. Mas a realidade é que você precisa incentivar a eficiência en vez de tornar as coisas fáceis. A eficiência não vem de despejar dinheiro em um setor. É o oposto.

Medidas protecionistas são justificáveis para salvar empresas?
São justificáveis em alguns casos, se não permanecerem por muito tempo. Na crise, a indústria automotiva teve muitos problemas e amplo acesso a fundos governamentais. Mas foi dado um prazo para a reestruturação. O que vemos hoje é que, provavelmente, o dinheiro será devolvido e o contribuinte não sairá perdendo. E os empregos não serão perdidos.

Colunista da BusinessWeek.com e colaborador da coluna "Perspectivas Globais dos Negócios", do New York Times. É co-autor das obras "Pay back: colhendo os benefícios da inovação" e "Globalidade", que foi pela The Economist como um dos melhores livros de negócios de 2008.

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