Transcrito do Conversa Afiada.
Se nós, brasileiros, achamos relativamente pequena a nossa experiência democrática, de 70 anos, ou 50, se descontarmos os 20 de ditadura militar, a Venezuela não terá nenhuma, dissolvida no tempo a curta vivência de 20 anos em torno dos 1960 no século passado. Sendo a história deste nosso vizinho marcada pela figura mais típica e duradoura de ditador latinoamericano, o famoso Presidente Gómez, que reinou muitos anos e deu início, em 1922, à exploração do petróleo intimamente ligada aos Estados Unidos.
Esta é a primeira consideração preliminar a ser feita com relação à crise política da Venezuela, provavelmente a mais grave de suas inúmeras crises ao longo da história.
A segunda, a terceira e a quarta considerações preliminares decorrem da situação de dependência mútua entre a Venezuela e os Estados Unidos -- a maior reserva de petróleo do mundo e o maior consumidor mundial, separados por uma distância física pequena – e o sistema de dominação política armado pela potência maior para garantir o suprimento desta matéria-prima essencial: dominação que empreendeu a “americanização” de toda a elite econômico-social da Venezuela, e a separação cada vez maior que produziu na população venezuelana, entre esta elite minoritária dominante e a grande maioria crescente e empobrecida.
A quinta consideração preliminar é sobre a profunda dependência de quase toda a nossa mídia em relação aos interesses do Grande Capital, que faz todo o noticiário que recebemos no Brasil completa e vergonhosamente distorcido em relação à realidade da Venezuela de hoje.
Postas estas preliminares, pode-se tentar compreender e analisar a crise atual, a partir da reação nacionalista e socialista dos militares venezuelanos no final do século passado, chefiada pelo Coronel Hugo Chaves.
Eleito pelo voto popular em 1999, deu início a uma verdadeira revolução política de redução da pobreza, com as “Missiones“ sociais que trouxeram grandes e incontestáveis benefícios à maioria mais pobre e garantiram sua reeleição e sua vitória sobre a tentativa de golpe em 2002, que o manteve preso por 48 horas.
Morto por um câncer em 2013, antes de completar os 60 anos, ao final do seu terceiro mandato, deixou um legado político de natureza socialista – o bolivarianismo – que vem surpreendentemente resistindo a uma forte e crescente pressão da oposição conservadora que, aproveitando a drástica redução dos preços do petróleo, instaurou um clima de violência e desorganização econômica em todo o país insustentável por muito mais tempo.
Nicolas Maduro, presidente eleito pelo voto popular, convocou então uma Constituinte para, em caso de uma próxima derrota eleitoral, deixar inscritos na Constituição alguns dos importantes programas de redistribuição criados por Chaves.
O futuro próximo, entretanto, parece desastroso para o povo venezuelano. O Grande Capital não desistirá da intervenção restauradora dos seus privilégios e, tendo conseguido eliminar as duas resistências mais fortes que apoiavam o chavismo, com a eleição na Argentina e o golpe no Brasil, prepara o terreno caótico para o golpe final no bolivarianismo, se preciso com o uso da sua própria força militar em nome da restauração da democracia.
O Chavismo, entretanto, tem fortes raízes militares que podem reagir. Neste caso, a probabilidade pesa mais para o lado de uma guerra civil de dimensões imprevisíveis e de conseqüências catastróficas, para a Venezuela e para o nosso Continente Sulamericano.
Não teremos notícias fidedignas dos próximos acontecimentos porém não consigo, neste caso, deixar brotar meu otimismo visceral.
Roberto Saturnino Braga
Se nós, brasileiros, achamos relativamente pequena a nossa experiência democrática, de 70 anos, ou 50, se descontarmos os 20 de ditadura militar, a Venezuela não terá nenhuma, dissolvida no tempo a curta vivência de 20 anos em torno dos 1960 no século passado. Sendo a história deste nosso vizinho marcada pela figura mais típica e duradoura de ditador latinoamericano, o famoso Presidente Gómez, que reinou muitos anos e deu início, em 1922, à exploração do petróleo intimamente ligada aos Estados Unidos.
Esta é a primeira consideração preliminar a ser feita com relação à crise política da Venezuela, provavelmente a mais grave de suas inúmeras crises ao longo da história.
A segunda, a terceira e a quarta considerações preliminares decorrem da situação de dependência mútua entre a Venezuela e os Estados Unidos -- a maior reserva de petróleo do mundo e o maior consumidor mundial, separados por uma distância física pequena – e o sistema de dominação política armado pela potência maior para garantir o suprimento desta matéria-prima essencial: dominação que empreendeu a “americanização” de toda a elite econômico-social da Venezuela, e a separação cada vez maior que produziu na população venezuelana, entre esta elite minoritária dominante e a grande maioria crescente e empobrecida.
A quinta consideração preliminar é sobre a profunda dependência de quase toda a nossa mídia em relação aos interesses do Grande Capital, que faz todo o noticiário que recebemos no Brasil completa e vergonhosamente distorcido em relação à realidade da Venezuela de hoje.
Postas estas preliminares, pode-se tentar compreender e analisar a crise atual, a partir da reação nacionalista e socialista dos militares venezuelanos no final do século passado, chefiada pelo Coronel Hugo Chaves.
Eleito pelo voto popular em 1999, deu início a uma verdadeira revolução política de redução da pobreza, com as “Missiones“ sociais que trouxeram grandes e incontestáveis benefícios à maioria mais pobre e garantiram sua reeleição e sua vitória sobre a tentativa de golpe em 2002, que o manteve preso por 48 horas.
Morto por um câncer em 2013, antes de completar os 60 anos, ao final do seu terceiro mandato, deixou um legado político de natureza socialista – o bolivarianismo – que vem surpreendentemente resistindo a uma forte e crescente pressão da oposição conservadora que, aproveitando a drástica redução dos preços do petróleo, instaurou um clima de violência e desorganização econômica em todo o país insustentável por muito mais tempo.
Nicolas Maduro, presidente eleito pelo voto popular, convocou então uma Constituinte para, em caso de uma próxima derrota eleitoral, deixar inscritos na Constituição alguns dos importantes programas de redistribuição criados por Chaves.
O futuro próximo, entretanto, parece desastroso para o povo venezuelano. O Grande Capital não desistirá da intervenção restauradora dos seus privilégios e, tendo conseguido eliminar as duas resistências mais fortes que apoiavam o chavismo, com a eleição na Argentina e o golpe no Brasil, prepara o terreno caótico para o golpe final no bolivarianismo, se preciso com o uso da sua própria força militar em nome da restauração da democracia.
O Chavismo, entretanto, tem fortes raízes militares que podem reagir. Neste caso, a probabilidade pesa mais para o lado de uma guerra civil de dimensões imprevisíveis e de conseqüências catastróficas, para a Venezuela e para o nosso Continente Sulamericano.
Não teremos notícias fidedignas dos próximos acontecimentos porém não consigo, neste caso, deixar brotar meu otimismo visceral.
Roberto Saturnino Braga
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