terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Um projeto antinacional e entreguista




                                                                                                *José Álvaro de Lima Cardoso
    Tramita no Senado Projeto de Lei de José Serra (131/2015), que muda as regras de exploração das reservas do pré-sal (descoberta que mudou a condição do Brasil no mercado internacional de petróleo). O projeto acaba com o artigo da Lei que garante à Petrobrás participação mínima de 30% do consórcio vencedor de cada bloco licitado no pré-sal. Além disso, retira a estatal da condição de operadora única nas atividades de exploração de petróleo em águas profundas e ultra profundas no Brasil. Segundo o senador Serra o Projeto visa retirar da Petrobrás o “fardo” de ser a operadora única da maior reserva de petróleo do mundo descoberta neste século. A justificativa do projeto: “Torna-se imprescindível então a revogação da participação obrigatória da estatal no modelo de exploração de partilha de produção, bem como da condicionante de participação mínima da estatal de, ao menos, 30% da exploração e produção de petróleo do pré-sal em cada licitação.”
     Se aprovado o referido projeto, na prática, qualquer campo do pré-sal pode vir a ser explorado com 100% de participação estrangeira e zero de presença da estatal brasileira. Dentre outros argumentos o senador trouxe também como justificativa para o PLS 131 a possibilidade de que a Petrobrás não consiga abastecer o mercado de petróleo em 2020, se ficar como operadora única do pré-sal. A questão é que com os investimentos já realizados e os em andamento, a Petrobrás deverá estar produzindo 5,2 milhões de barris diários em 2020, o que tornará o Brasil um dos maiores exportadores mundiais de petróleo.  A empresa, em tempo recorde desde a descoberta do pré-sal em 2006, já está retirando mais de 800 mil barris diários dessa reserva, cuja exploração exige refinada tecnologia, a qual a Petrobrás é a maior detentora.
     O projeto de Serra, na verdade, visa cumprir promessa feita à multinacional norte americana Chevron em 2010, de rever o modelo de partilha e retirar a Petrobrás do controle das reservas existentes no pré-sal. Segundo revelação do Wikileaks em 2013, o senador teve encontros secretos com Patrícia Padral, diretora da Chevron no Brasil, nos quais, se eleito, reveria o modelo de Partilha, proposta defendida ardorosamente pelas multinacionais do petróleo. Tem uma fala de Serra nos vazamentos do Wikileaks que é a seguinte: "Não haverá ofertas" (possivelmente, ofertas das petroleiras estrangeiras nos leilões) "e então nós mostraremos a todos que o velho modelo funcionava… e nós vamos fazê-lo voltar."
     É claro que se o país tivesse uma opinião pública mais crítica, após as denúncias do Wikileaks, um projeto deste tipo não teria a menor possibilidade de, sequer, ser apresentado. Os argumentos utilizados pelo senador, que iludem parte dos incautos, vêm sendo fartamente desmistificados pelos especialistas (ver por exemplo, o excelente artigo do engenheiro Paulo Metri, Enganos na argumentação do senador José Serra”, divulgado em julho no Correio da Cidadania). O projeto vai claramente contra os interesses do Brasil e de seu povo. Qual a lógica da exclusividade de uma das maiores reservas petrolíferas do mundo ser apresentado como um “fardo” e um ônus para uma petrolífera que detêm a melhor tecnologia de exploração em águas profundas e ultra profundas do mundo?
                                                                           *Economista e supervisor técnico do DIEESE.

Nenhum comentário:

Postar um comentário