publicado em 23 de junho de 2015 no Viomundo
Emanuel Cancella: Sérgio Moro, a raposa e o galinheiro
da ATP – Ascom PDT / Agência Petroleira | 23 de junho de 2015, sugerido por Gustavo Santos
Cai a máscara de Sérgio Moro. Ao pedir ajuda aos Estados Unidos para
investigar duas das maiores empresas do Brasil – Odebrecht e Andrade
Gutierrez – o juiz da Lava Jato quer colocar a raposa cuidando do
galinheiro.
Sérgio Moro é um Dom Quixote às avessas. O que parece ser um gesto
“corajoso e nobre” de quem tenta a todo o custo acabar com a corrupção,
esconde intenções nefastas.
Em 2009, a Wikileaks publicou que o então candidato à Presidência da
República José Serra (PSDB) estava comprometido com interesses da
Chevron, a petrolífera estadunidense que protestou quando foi aprovado o
modelo de partilha.
A lei aprovada no governo Lula mantém a Petrobrás como operadora
única do pré-sal e também assegura à empresa brasileira, de saída, a
propriedade de 30% em cada campo a ser prospectado. Sem dúvida,
representou um avanço em relação ao que existia antes.
Aparentemente “bem intencionado”, Sérgio Moro caminha par e passo com
o vendilhão José Serra. Enquanto o primeiro chama os ianques para
“ajudar a investigar empresas brasileiras”, o senador do PSDB de São
Paulo já conseguiu que o Congresso aprovasse a votação em regime de
urgência do projeto de sua autoria que derruba o modelo de partilha e
retoma o modelo de concessão, estendendo para o pré-sal a fatídica Lei
9.478/97, de FHC, que, na prática, acabou com o monopólio estatal do
petróleo.
O modelo de concessão é o pior possível para o Brasil e os
brasileiros, deixando escoar pelo ralo toda a riqueza que deveria ser
utilizada para sanar os problemas sociais do país. Se o projeto de Serra
for aprovado, quem perde e a Petrobrás e o povo brasileiro.
Vão para o ralo, inclusive, os recursos que já estavam destinados à
saúde e educação, através dos royalties que seriam pagos à União.
Casado com uma advogada que está a serviço do PSDB e de petrolíferas
estrangeiras, as ações de Sérgio Mouro prejudicam a Petrobrás e
favorecem os interesses de petrolíferas como a Chevron. É inadmissível
que a Justiça não coloque o juiz Moro em suspeição, pelo envolvimento
direto dos interesses dos clientes de sua esposa com esse caso.
Apurar a corrupção é legítimo. Mas prejudicar a economia, a
engenharia e os projetos sociais do país é ilógico e deslegitima a forma
como esse processo caminha. Juntas, Odebrecht e Andrade Gutierrez são
responsáveis por mais de cem mil empregos. As duas empresas são as
maiores prestadoras de serviço do país e da Petrobrás, no Brasil e no
exterior. As concorrentes estadunidenses a essa altura estão festejando
as consequências da Lava Jato.
Com que autoridade um juiz do interior consegue abalar as maiores
empresas do país, sem medir as consequências do desemprego em massa?
Favorecendo abertamente os interesses das empresas norte-americanas que,
com certeza, se investigadas fossem, também cairiam nas malhas da
corrupção? Qual o plano B para evitar os prejuízos sociais e econômicos
para o país e a evasão de divisas?
Os Estados Unidos, agora chamados por Moro para ajudar a investigar
empresas nacionais, não reconhecem o mar territorial brasileiro (200
milhas).
Caso Serra consiga derrubar a Lei de Partilha e Moro, no rumo que
segue, consiga inviabilizar da concorrência as empresas nacionais e
impor novos prejuízos a Petrobrás, estarão esticando o tapete vermelho
para facilitar o domínio do imperialismo estadunidense no pré-sal.
O dono do WikiLeaks, Julian Assange, por suas incômodas revelações,
amarga no exílio, escondido há anos na Embaixada do Equador, em Londres.
No Brasil, o cinismo dos tucanos e da grande mídia não tem limites.
Insistem em travestir de heróis aqueles que querem acabar com o regime
de partilha, com a observância do conteúdo nacional e insistem em
destruir a Petrobrás – patrimônio do povo brasileiro – e a engenharia
nacional.
O juiz João Batista Damasceno, em um artigo corajoso, declarou:
“Tenho vergonha de ser juiz, mas não perco a garra e nem me dobro ao
cansaço”. Referia-se à impossibilidade de melhorar as condições do povo
no país em que vive, em face das dificuldades estruturais e
institucionais.
Como João Damasceno, existem inúmeros juízes que honram as suas
togas. Mas também existem aqueles que as envergonham. Sérgio Moro é um
falso herói. No Paraná, onde está jurisdicionado, os juízes fazem farra
com o dinheiro público, o que não parece causar qualquer desconforto ao
chefe da Lava Jato.
Os magistrados paranaenses têm regalias maiores comparados com o
resto do Brasil. Seus salários são 12 vezes maiores que a renda do
brasileiro médio (e seus abonos sequer estão incluídos nessa contagem),
contabilizando cerca de R$ 303,2 mil reais anuais a juízes em início de
carreira. Enquanto o trabalhador comum tem direito a 33% de adicional de
férias, apenas uma vez ao ano, os magistrados paranaenses têm direito a
50% de abono e duas férias por ano.
Existem confortos maiores aos desembargadores. Eles não só têm
direito a carro com motorista e café da tarde, como também recebem
frutas em seus gabinetes. Sem esquecer que os juízes de todo o país
ganharam recentemente o auxílio moradia, mesmo os que já possuam
residência. Mas o juiz Sérgio Moro se cala diante de tanta mordomia.
Tem juiz que se insurge e é punido, como Siro Darlan que foi afastado
da Vara da Infância e Juventude por criticar a aprovação do recebimento
pelos juízes de quase mil reais por mês, por dependente, como acréscimo
ao já vultoso salário. Os juízes não são deuses e muito menos
infalíveis. Alguns têm vergonha, outros são sem-vergonha mesmo. Ou pior,
utilizam-se de seus superpoderes sem levar em conta os interesses
nacionais.
Emanuel Cancella é secretário-geral do Sindipetro-RJ
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