sexta-feira, 26 de junho de 2015

A esquerda brasileira, a Petrobras e a questão nacional

Por Rennan Martins no Blog dos Desenvolvimentistas


Há, em consideráveis setores da esquerda brasileira, uma incompreensão preocupante no que se refere a questão nacional e da soberania. Quando confrontados com a bandeira da Petrobras e da importância do controle estatal sobre o petróleo, reagem desconfiados, apontando o perigo de um suposto nacionalismo xenófobo e fascista. Seja por imaturidade ideológica ou falta de domínio teórico, o fato é que essa postura contribui decisivamente para a apatia frente ao duro ataque em curso que objetiva rapinar o pré-sal.
Pelas mesmas razões acima apontadas e por receio de serem confundidos com “defensores de corruptos”, essa esquerda apoia acriticamente a Operação Lava Jato. Não enxerga os fortes interesses geopolíticos nela atuantes e é complacente frente a sistemática violação ao Estado de Direito por parte do juiz Sergio Moro. Na esperança de finalmente fazer valer a lei para o empresariado corruptor e patrimonialista, não denunciam o viés político das investigações e vazamentos, esquecendo-se que a parcialidade por si já anula a possibilidade de fazer justiça. Assistem a destruição das bases produtivas nacionais sem qualquer sobressalto.
O nacionalismo por si não é reacionário e nem se associa automaticamente ao fascismo, tal interpretação é fruto de uma visão eurocêntrica e colonizada. No contexto da América Latina, historicamente submetida a forças primeiramente coloniais e depois imperiais, o nacionalismo ascendeu com caráter libertador e igualitário, de repúdio a dependência político-econômica frente a potências estrangeiras.
O verdadeiro nacionalismo reconhece a pluralidade e autonomia dos povos, e o direito deles de se desenvolver de forma independente, sob suas próprias instituições, sem a pretensão ocidental de impôr o Estado liberal como ideal de democracia. Os povos e nações precisam ter respeitados sua autodeterminação e a possibilidade de dispôr de seus recursos sem pressões imperiais que visem explorá-los. Uma nação de economia dependente e primária se vê forçada a ceder as exigências dos desenvolvidos, trata-se da eterna troca de toneladas de ouro por espelhinhos.
Hannah Arendt, em sua obra Origens do Totalitarismo, na parte II, segundo capítulo (O pensamento racial antes do racismo), denuncia como o nazifascismo perverteu a questão nacional de seus valores originais:
Embora seja óbvio que o racismo é a principal arma ideológica da política imperialista, ainda se crê na antiga e errada noção de que o racismo é uma espécie de exagerado nacionalismo. […]
O racismo deliberadamente irrompeu através de todas as fronteiras nacionais, definidas por padrões geográficos, linguísticos, tradicionais ou quaisquer outros, e negou a existência político-nacional como tal. […]
Historicamente falando, os racistas, embora assumissem posições aparentemente ultranacionalistas, foram piores patriotas que os representantes de todas as outras ideologias internacionais; foram os únicos que negaram o princípio sobre o qual se constroem as organizações nacionais de povos – princípio da igualdade e solidariedade de todos os povos, garantido pela ideia de humanidade.
O que o fascismo faz é instrumentalizar o sentimento nacional, que visa a soberania, autodeterminação e independência, para fins imperiais e de sujeição de outros povos ditos “inferiores”. Inflama-se o nacionalismo a tal ponto que este se contradiz, passando a admitir que outros Estados nacionais sejam dominados política e economicamente, acarretando, no limite, em episódios inumanos e genocidas.
Portanto, passou da hora da esquerda tupiniquim chegar ao entendimento de que sem soberania e desenvolvimento não podemos praticar a justiça social. Para construirmos um país democrático, plural e de bem-estar social, precisamos de um projeto nacional que nos forneça as condições materiais para tanto.
Como essa postura se traduz em prática na atual conjuntura política? Com a denúncia sistemática do ataque a Petrobras que visa usurpar o pré-sal e utilizar a Operação Lava Jato como instrumento para o retrocesso econômico brasileiro. O imperialismo existe e não está aí de brincadeira, não é por acaso que o Departamento de Justiça norte-americano está “colaborando” com as investigações as empreiteiras, e nem munido de boas intenções o fato do Banco Mundial ter selado acordo de “cooperação” com o Ministério Público Federal.

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