*José Álvaro de Lima Cardoso
A inflação no Brasil, apesar
de estar sob controle, ainda é alta para os padrões internacionais e esgota boa
parte das energias nacionais, nas famílias, empresas e governo. No Brasil, o
seu principal antídoto tem sido as mais elevadas taxas de juros do planeta,
fazendo com que, em alguns momentos, o remédio quase mate o paciente. Como no país
não existe controle de preços (apenas regulação de alguns preços essenciais
como medicamentos, comunicação, eletricidade, combustível e outros, que exercem
grande influência na formação dos demais preços da economia), o governo tenta
controlar a inflação de forma indireta, através dos juros. Ao estabelecer a taxa
de juros básica da economia o governo objetiva atuar sobre os preços via os
chamados meios de transmissão da política monetária. Ao manobrar a taxa de
juros o governo influencia o crédito, a taxa de câmbio, o valor dos ativos,
visando acelerar ou esfriar a atividade econômica. Influenciando dessa forma,
por exemplo, os níveis de produção e emprego.
Alguns economistas têm citado a “armadilha” em que ingressou a economia
brasileira, que combina baixo crescimento com inflação relativamente alta. O que
seria o pior dos mundos, no que se refere aos indicadores macroeconômicos. Apesar
do país estar crescendo pouco, a inflação, na interpretação desses analistas, se
encontra em patamares ameaçadores.
O fato concreto, porém, é que a inflação vem caindo nos últimos meses, o
que esvazia a própria base concreta e imediata das críticas. O IGP-M/FGV, por exemplo, cujos preços por atacado têm peso
de 60% do indicador, vem apresentando deflação nos últimos três meses. No
varejo os indicadores mostram também desaceleração de preços. O custo
de vida no município de São Paulo, por exemplo, em junho, não apresentou
variação em relação a maio, segundo cálculos do DIEESE. Alguns grupos de
consumo, inclusive, como Alimentação (-0,27%) e Transporte (-0,27%)
apresentaram queda de preços em relação ao mês anterior. Nos últimos meses o
ICV-DIEESE caiu seguidamente até junho: março (0,81%); abril (0,57%); maio (0,14%);
junho (0%). O INPC-IBGE apresenta a
mesma tendência: respetivamente, 0,82%, 0,78%, 0,60% e 0,26%. No mês de julho todas
as 18 capitais onde DIEESE realiza a pesquisa mensal da Cesta Básica de
Alimentos apresentaram redução dos preços. Além disso, no acumulado de 12
meses, a maioria das capitais aumentou o preço da cesta básica abaixo da média
geral de inflação.
*Economista
e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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