“É ingênuo
imaginar que os partidos políticos governam. São meras marionetes de
algo que não aparece. Encontra-se, porém, em todos os espaços da
sociedade. Absolutamente insensível.
Todos se voltam contra o
aparente. O governante, pertencente às diversas agremiações, leva a
culpa de tudo. Não pode, na maioria das vezes, agir.
Encontra-se
manietado por quem tudo pode. [E por quem] Domina os meios de
comunicação. Regula os fluxos da vida social. Avança nas consciências.
Altera os códigos de conduta. Manipula de acordo com sua vontade.
Quem
é esse novo leviatã? Este monstro que domina todos os movimentos da
sociedade. Envolve todos os atores. Imobiliza as iniciativas
individuais. Tolhe as ações coletivas que se coloquem contra seus
desígnios.
Todos são – de uma maneira ou de outra –
dominados por este novo e único dirigente da sociedade. Não é difícil se
captar quem seja esse leviatã dos tempos contemporâneos.
Claro, é o Poder Econômico. Em suas fontes centrais ou em sua imensa constelação é sempre ele quem dirige os acontecimentos políticos e sociais. É sempre ele que dá a última palavra.
Os
mecanismos de controle do Poder Econômico, aqui e por toda a parte,
mostram-se frágeis em mantê-lo em limites éticos e socialmente válidos.
São bancos centrais que se submetem aos seus fiscalizados.
Comissões
de valores mobiliários que chegam atrasadas no controle das grandes
aventuras nas bolsas de valores. As superintendências de seguros mal
aparelhadas para examinar os cálculos atuariais.
Um grande
emaranhado de instituições que, ao invés, de proteger à cidadania levam
caos por toda a parte. São empresas que quebram. Bancos que rompem
parâmetros de tarifas.
Inescrupulosos avançam em uma cruzada sem
precedentes em busca do mero ganho especulativo. Há situações
vexatórias. Essas levam os observadores e vítimas ao desespero. À
descrença.Sempre
se ouviu falar do Fundo Monetário Internacional – FMI – como o baluarte
da defesa da integridade das moedas. Trincheira da rigidez financeira.
Da moralidade.
Assim
é se lhe parece. A realidade que vem à tona, no entanto, é bem
diferente. Um diretor-gerente do FMI, já acusado por estupro, é agora
indiciado por proxenetismo.
Exatamente isto. Um dirigente
internacional, acima de todos os governos, senhor de nossos destinos, é
um vil explorador de lenocínio. Faz da prostituição um seu segundo
emprego.
A figura de Strauss-Kahn, agora respondendo pelo crime
de proxenetismo, pode – é bem possível – ser erguida como a imagem de
determinadas personalidades do segmento econômico-financeiro.
Faltam
alguns traços de sobriedade para conviver com os fluxos que mantêm os
dutos da sociedade em atividade. São exploradores de seres humanos, tal
como os proxenetas.
Estes, também, merecem as críticas dirigidas aos políticos – pecadores por excelência. Não os únicos, porém. É bom abrir os olhos para ver. A realidade é bem mais ampla.
Muitos Strauss-Kahan andam por ai.”
FONTE: escrito por Claudio Lembo, advogado, professor e ex-governador (DEM) de São Paulo
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