*José Álvaro de Lima Cardoso.
O
governo arrecadou R$ 12,1 bilhões com o leilão de quatro usinas hidrelétricas
operadas pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), no dia 27 de
setembro. As usinas foram arrematadas pelos chineses, franceses e italianos.
Estes últimos, atingido o objetivo de arrematar o seu lote, comemoraram como se
tivessem conquistado a Copa do Mundo de Futebol, de forma invicta. Os R$ 12,1
bilhões arrecadados com a venda, que é algo em torno de míseros 2% do que o
Brasil gasta com os serviços da dívida pública, será usado para cobrir parte do
rombo das contas públicas deste ano, de R$ 159 bilhões, o maior da história.
Mais uma
vez, praticamente não houve reação da sociedade e dos trabalhadores, em relação
à essa pura e simples entrega do patrimônio nacional para empresas estrangeiras,
a preço de banana. Com previsíveis e graves efeitos, inclusive, sobre a vida
das gerações futuras, que, por exemplo, pagarão preços mais altos pelos
serviços de energia elétrica. Fenômeno que, aliás, ocorreu sempre que empresas
desse setor essencial foram privatizadas.
O
governo anunciou que pretende arrecadar com a venda do Sistema Eletrobrás entre
R$ 20 e R$ 30 bilhões. Mas o faturamento anual da empresa é de R$ 60
bilhões e, segundo cálculos de especialistas, os ativos do Sistema valem cerca
de R$ 370 bilhões. Ou seja, estão torrando um patrimônio nacional
estratégico, que irá tornar o Brasil dependente de decisões de multinacionais
da área de energia, por menos de 10% de valor real dos ativos. Ademais, os rios
que alimentam o sistema, irão deixar de atender as populações e serem, na
prática, privatizados. O abastecimento humano, portanto, será diretamente
afetado, com grande certeza. A queima desse patrimônio estratégico,
possivelmente está na fatura do golpe, pois, nos EUA e em países da Europa
existem grandes problemas de falta de água, já que boa parte dos rios desses
países são poluídos.
Uma das tarefas do golpe é destruir os
mecanismos de que o Estado dispõe para promover o desenvolvimento nacional, e a
privatização de setores estratégicos está perfeitamente dentro dessa lógica. Por
exemplo, acabaram de aprovar o fim da TJLP, criando a TLP, que terá taxas
próximas às do mercado, descartando, portanto, as possibilidades de crédito
barato para viabilizar o crescimento industrial. Estão desarticulando, de caso
pensado, toda a estrutura produtiva que o Brasil construiu ao longo de décadas,
desde Getúlio, fundamental para garantir uma indústria de base nacional. Com a
Petrobrás estão usando tática diferente, para evitar reação da sociedade: desmontam
a companhia, sem alarde, para facilitar o processo de venda do controle
acionário para estrangeiros. Na agenda de guerra que implementam, esvaziam o
Estado brasileiro, tirando-se do controle de setores estratégicos, inclusive depenando
o sistema de defesa nacional.
Na citada agenda de guerra a indústria
também não tem lugar. As medidas que estão tomando aprofundam o processo de
desindustrialização que já vem ocorrendo há vários anos, ao mesmo tempo que internacionalizam
mais a economia brasileira, tornando o país uma espécie de plataforma de
matérias primas das multinacionais. Além disso, aos poucos definham o mercado
consumidor interno que, até 2014, vinham crescendo continuamente por 10 anos
seguidos. A fórmula de política econômica que está sendo implementada no
Brasil, um ultra neoliberalismo anacrônico, representa um assalto a renda e as
condições de vida do povo brasileiro, política que fracassou em todo o mundo.
Claro, um fracasso do ponto de vista da nação, porque as minorias enriquecem
com as privatizações e o torra-torra de patrimônio púbico.
A esperança é que com o passar do tempo, cada vez mais fique evidente,
que as medidas que estão sendo implementadas não passam de um grande saco de
maldades contra o Brasil e contra a esmagadora maioria do povo. Até mesmo para aqueles
mais “distraídos”. A única saída para a situação em que nos encontramos é que a
maioria perceba que os poderosos, que representam menos de 1% da população,
aplicaram um golpe sórdido, contra mais de 99% dos brasileiros. Até que esse
dia chegue, fica valendo no País a frase do prestigiado professor polonês, Zigmunt
Bauman, que intitula este despretensioso artigo.
*Economista.
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