quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Brasil do pós-golpe, verdadeiro paraíso...para as multinacionais.





*José Álvaro de Lima Cardoso
     No dia 07 último, em Córdoba, na Argentina, o presidente da Fiat, Cristiano Rattazzi, defendeu que a regulamentação trabalhista do mundo todo deveria ser “flexibilizada” de forma semelhante ao que foi feito no Brasil, pelo governo golpista. Se referindo ao pais, afirmou que “hoje, temos um país sério, depois de doze anos, onde foi uma palhaçada total”. Segundo Rattazzi, no Brasil de hoje, no que refere à legislação trabalhista "melhor, é impossível“. Os executivos das gigantes multinacionais do petróleo também não têm poupado elogios à direção da Petrobrás, justamente em relação àquilo que seria essencial o país ter conservado, no que se refere à lei de Partilha: exigências de conteúdo local, exclusividade na exploração do óleo e compromisso com o desenvolvimento.
     O mesmo fenômeno ocorre em outros setores. O governo arrecadou R$ 12,1 bilhões com o leilão de quatro usinas hidrelétricas operadas pela (Cemig), No dia 27 de setembro, chineses, franceses e italianos arremataram em leilão 4 importantes usinas hidrelétricas operadas pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a um valor que equivale a míseros 2% do que o Brasil gasta anualmente com os serviços da dívida pública. Atingido o objetivo de arrematar o seu lote, os executivos italianos comemoraram como se tivessem conquistado a Copa do Mundo de Futebol, de forma invicta.
     Basicamente não há crescimento do afluxo de investimentos estrangeiros no Brasil. Os capitais que que têm vindo, vêm para comprar ativos em processo de liquidação. Vender ativos em meio a maior recessão da história não decorre de burrice. É política de traição nacional, mesmo. Os “desinvestimentos forçados” pela Lava Jato na Petrobras têm aumentado muito a oferta de ativos brasileiros baratos. Além de comprar patrimônio estratégico por pechincha, uma parte destes supostos investimentos são empréstimos das matrizes para as suas próprias subsidiárias no Brasil, visando fazer negócio com câmbio, ou seja, aproveitam o diferencial de juros para fazer dinheiro, já que o Brasil pratica historicamente as mais altas taxas do planeta.
     As alegações dos golpistas para o torra-torra de ativos, em petróleo e gás, ou no setor elétrico, se referem à supostas deficiências operacionais, fragilidades de governança ou elevados gastos com folha de pessoal. São falsos argumentos. Estão entregando patrimônio estratégico a preço de banana, para tentar cobrir o maior déficit público da história, e servir às multinacionais. Recentemente foram leiloadas duas usinas de São Paulo, em Ilha Solteira e Jupiá, arrematadas pela empresa China Three Gorges. Segundo os dirigentes sindicais, feito o negócio, a empresa chinesa imediatamente demitiu todos os trabalhadores e, ato contínuo, fez proposta de readmissão nas mesmas funções, mas com remuneração muito menor. Este será o comportamento padrão dos “investidores” estrangeiros no Brasil, nesta conjuntura pós-golpe.   
     As multinacionais que atuam no Brasil têm muitos motivos para rir à toa. A contrarreforma trabalhista que entra em vigor em novembro, significará uma transferência de riqueza da classe trabalhadora para as empresas, especialmente as grandes, como nunca foi visto na história do Brasil. A aplicação das regras da referida lei, na prática da negociação coletiva, conduzirá à uma elevação da pobreza, em um nível que possivelmente jamais tenhamos assistido. Comparados com o roubo de renda e salários da nova lei trabalhista, os valores estimados como provenientes da corrupção no Brasil, que tanto ocupou a farsa da Operação Lava Jato, representarão meros “trocados”. Isso sem considerar todo o conjunto de atrocidades que está sendo cometido contra o país, em todas as áreas.
     A espinha dorsal do programa econômico golpista, é absolutamente implacável com os trabalhadores, especialmente os mais pobres, e completamente dócil aos interesses das multinacionais. É que o golpe não está brincando em serviço e precisa atender, rapidamente, três eixos básicos: a) aumentar a taxa de exploração dos trabalhadores; b) pavimentar os caminhos para as principais fontes de matérias primas do mundo; c) abrir frentes de “negócios da China”, como as privatizações, o que estão encaminhando nos vários setores.
                                                                                                              *Economista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário