*José Álvaro
de Lima Cardoso.
Os
pesquisadores afirmam que a quarta revolução
industrial, em andamento, será a mais profunda transformação tecnológica
que já ocorreu, com grande impulso às forças produtivas em geral. Será mais abrangente
que as anteriores, terá tempo de maturação menor, e incluirá várias dimensões: física, digital e biológica, etc. Por ironia da história, a
chegada dos desafios da quarta revolução industrial coincide com o mais sórdido
golpe de Estado da história do Brasil, que está promovendo a destruição da
economia e do Estado nacional. Estão pretendendo implantar, até as últimas
consequências, as medidas recomendadas pelo Consenso de Washington para os
países periféricos. Procuram aprofundar a condição de dependência do país, transformando-o
definitivamente num mero fornecedor de commodities agrícolas e minerais para a
indústria dos países ricos.
Como enfrentar os desafios trazidos pela indústria
4.0 (assim também denominada a quarta revolução industrial) se os
golpistas já cortaram metade das verbas destinadas ao Ministério da
Ciência e Tecnologia e o orçamento deste ano para a área já é o menor de todos
os tempos, equivalente a 1/3 do que foi investido durante os governos
anteriores. O corte do orçamento para a ciência e tecnologia está causando danos
que permanecerão por muitos anos, como por exemplo, o desmonte de grupos de
pesquisa estratégica para o país, internacionalmente respeitados. Esta política
de destruição da ciência e tecnologia não está sendo cometida apenas por
estupidez. É uma política deliberada, visando destruir o pouco que o Brasil vinha
construindo nessas áreas. Se o projeto é tornar definitivamente o país um mero
fornecedor de matérias-primas, não há necessidade de desenvolver ciência e
tecnologia.
Tanto é
assim que uma das primeiras ações do golpe de Estado foi a interrupção do
programa de enriquecimento de urânio e de todas as demais etapas do ciclo do
combustível nuclear, através da prisão do seu líder, o Almirante Othon Luiz
Pinheiro da Silva. O respeitado cientista foi responsável por uma das mais exitosas
experiências mundiais no desenvolvimento, com tecnologia nacional, da instalação
nuclear para submarinos, incluindo a fabricação no Brasil, de todos os
equipamentos e componentes. O Almirante Othon também coordenou a definição do
mais moderno programa de construção de centrais nucleares e armazenamento de
rejeitos, projetos que foram interrompidos a partir de sua prisão ainda em
2015.
A
lista de atrocidades contra a ciência e a tecnologia é grande. Estão cortando,
por exemplo, o orçamento das universidades públicas, justamente um instrumento fundamental
para a formação de profissionais nas áreas tecnológicas, especialmente nas
áreas de Engenharia e Ciências da Computação. As
universidades têm também papel essencial na pesquisa, função que passa a ficar dramaticamente
prejudicada pelos cortes de recursos.
Não há
incentivos ao desenvolvimento da indústria, pelo contrário, estão
destruindo os mecanismos de que o Estado ainda dispõe para promover a
recuperação da economia, como por exemplo, o crédito via BNDES, banco que estão
enfraquecendo. Ademais, acabaram de aprovar o fim da Taxa de Juros de Longo
prazo (TJLP), que trabalho com juros subsidiados, criando a TLP, que terá taxas
próximas às do mercado. Mercado este, que pratica as mais altas taxas de juros
do planeta.
A partir da destruição da indústria nacional, que já vem num
processo de perdas em décadas, o grande capital internacional já se apropria
desse vazio em nosso mercado interno. Com o agravante que a economia
brasileira é dominada em setores estratégicos pelo capital multinacional, cujos
centros decisórios e tecnológicos se localizam fora do Brasil. Sem centros de
tecnologia é reduzida a capacidade de realização de inovações na indústria, o
que dificulta os avanços na produtividade. O fato de não haver centros de
tecnologias no Brasil implica que o grau de inovação é mais baixo, o que leva à
produtividade menor, e assim por diante, num movimento de recuo em cadeia.
No processo de enfraquecimento da
capacidade de ação interna e externa do Estado, estão desmontando a Petrobrás e
vendendo o pré-sal a preços de banana. Isso tudo dificulta sobremaneira a
retomada da industrialização, para a qual a Petrobrás é fundamental. Além disso,
estão internacionalizando ainda mais a economia brasileira, tornando o país uma
plataforma de matérias primas das multinacionais, por baixo preço, visando
compensar a queda da taxa de lucros ao nível mundial. Se houver correlação de
forças (por exemplo, com um golpe militar, que é um desdobramento possível), vão
vender também a Petrobrás, como pretendiam nos anos de 1990 (na gestão FHC),
quando mudaram até o nome para Petrobrax. Por enquanto, estão desmontando a
empresa, sem alarde, para facilitar o processo de venda do controle acionário
para estrangeiros, no médio prazo.
A
desfaçatez é tão grande que, segundo os jornais, recentemente o
governo enviou um projeto ao Congresso Nacional um projeto que pretende
flexibilizar o registro de engenheiros estrangeiros no Brasil, facilitando a
sua entrada. Isso tendo o pais, segundo levantamento das organizações da
categoria, 50 mil engenheiros em situação de desemprego. No
Brasil, o problema não é que o governo não tenha projeto nacional de
desenvolvimento. É muito mais grave que isso. O Estado nacional foi tomado
literalmente de assalto e está sendo rifado. Estão desarticulando toda a
estrutura produtiva que o Brasil construiu ao longo de décadas, desde Getúlio,
fundamental para garantir uma indústria de base nacional, mesmo que com
limitações. Essa estrutura havia sobrevivido em parte ao primeiro ataque
neoliberal na década de 1990, comandada por FHC, que, que foi a primeira grande
nuvem de gafanhotos que atacou o Brasil. Aquela primeira nuvem é “fichinha”,
comparada com os estragos causados pelo governo atual.
*Economista
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