Sensor publica ótimo artigo de de Fernando Brito, no Tijolaço. Transcrito no Conversa Afiada.
Inteligência militar, ao contrário do que pensa o raciocínio medíocre, não é espionagem e vigilância ideológica.
É
estudo e formação de conhecimento geopolítico, estratégico, e suas
repercussões no planejamento de defesa nacional, criando mecanismos de
dissuasão a ambições econômicas que, afinal, são as forças que movem os
processos de dominação, do qual os processos armados são meros vetores.
E
o Brasil a tem, embora mal disseminada até mesmo dentro das Forças
Armadas, onde teima em resistir uma visão – felizmente minoritária – de
considerar-se uma “gendarmeria nacional”, cujo papel principal seria o
de interferir nos processos políticos da sociedade, em lugar de
encará-la como um todo a quem lhes cabe proteger, física e
economicamente.
Uma das provas de que ela existe é o trabalho dos capitães de fragata Luciano Ponce Carvalho Judice e Charles Pacheco Piñon, “A defesa do ouro negro da Amazônia Azul“.
Amazônia
Azul, na linguagem militar, é a área marítima dentro da qual se situa a
província petrolífera do pré-sal e o livro trata de estudar suas
necessidades de defesa e, por isso, as ameaças que nossa soberania pode
sofrer ali.
Destaco, comentando, um trecho do livro, onde os
autores analisam o aumento do interesse estratégico dos EUA pelo
Atlântico Sul”, evidenciado pela reativação da Quarta Frota , em junho
de 2008 – criada durante a II Guerra, foi desativada nos anos 50.
Cabe
neste ponto ressaltar o baixo custo de extração da área do Polígono do
Pré-sal, que atualmente encontra-se em um patamar inferior a US$10,00 o
barril, em relação a outras áreas petrolíferas do mundo, custo esse
inclusive inferior aos campos petrolíferos existente no Pós-sal da Bacia
de Campos, por serem mais antigos. Em termos de comparações
internacionais, de acordo com dados de 2013, compilados pelo periódico Petroleum Intelligence Weekly, os campos petrolíferos do tight oil nos EUA, por exemplo, teriam custos de extração variando entre US$ 56,00 e US$93,00; o offshore do
Golfo do México estadunidense teria custos entre US$ 41,00 e US$70,00; e
o Mar do Norte teria custos entre US$ 27,00 e US$83,00. Tais dados
explicam a queda prevista pela AIE [Agência Internacional de Energia] na
citação anterior, considerando a manutenção do preço de mercado do
barril de petróleo na faixa atual de US$ 30,00, e evidenciam como é
alvissareiro o baixo custo extrativo do Pré-sal, após os investimentos
tecnológicos já realizados. Enfim, a ativação de uma Esquadra a partir
de um Comando de Força Naval (…) é coerente com o conceito de
proatividade estratégica marítima discutido no capítulo teórico inicial
deste trabalho. Dentro da visão de atuação global estadunidense, haveria
a preocupação de manter uma estrutura permanente que realize
planejamentos com vistas a conformar o futuro a seu favor. Nota-se
assim, pela ativação da Quarta Esquadra em 2008, uma antevisão de que o
Atlântico Sul passaria a ter uma elevada importância estratégica,
consoante a possibilidade de diversificação de oferta de combustíveis
fósseis, numa área distante do conflagrado Oriente Médio, que agora está
ameaçada pelo Estado Islâmico, sem depender do trânsito marítimo por
perigosos gargalos, como o estreito de Ormuz. Não por acaso o Polígono
do Pré-sal foi incluído no denominado “Triângulo Dourado”.
Triângulo Dourado que o quinta-colunismo de O Globo não vacilou,há seis meses, em classificar como patrimônio inútil.
E
quem pensa que os interesses militares dos EUA se expressam
exclusivamente com porta-aviões e destróieres, segue o estudo dos dois
capitães:
Para finalizar a abordagem da estrutura de comando
estadunidense, em termos de proatividade operacional para a segurança
marítima, com notabilizado interesse para este estudo, destaca-se ainda a
JOINT INTERAGENCY TASK FORCE – SOUTH (JIATF- South).
A JIATF-South é uma organização subordinada ao US Southern Command (US SOUTHCOM) [Comando Sul] cuja
missão é conduzir operações interagências contra tráfico ilícito,
notadamente de drogas, cometido por embarcações e aeronaves na área de
responsabilidade daquele comando, que envolve o mar do Caribe e o
Atlântico Sul. Para tal, essa Força-Tarefa concentra seus esforços na
detecção e acompanhamento de alvos marítimos e aéreos, processamento de
conhecimentos de inteligência e compartilhamento de informações para
possibilitar a condução de ações de interrupção, interdição e apreensão
antidrogas junto a países colaboradores. O JIATF-South é composto por
representantes do DoD, DHS e Department of Justice (DoJ). A organização
também conta com pessoal oriundo do Drug Enforcement Administration
(DEA), FBI, Imigration and Customs Enforcement (ICE), CBP, USCG, USN, US
Air Force (USAF), Defense Intelligence Agency (DIA), National
Security Agency (NSA) e ONI, bem como de Oficiais de Ligação de diversos
países da América do Sul, incluindo o Brasil.
E concluem os dois analistas de estratégia:
É
digno de nota que agentes da Polícia Federal do Brasil compõem o
Estado-Maior dessa força, cooperação institucional que ainda não
encontra paralelo em nosso próprio Estado, em termos de operação
integrada.
Quem acha que a atenção dada pelos
norte-americanos à integração com nossa Polícia Federal e instituições
judiciais e parajudiciais é preocupação com drogas, apenas, continue
achando, de bobo que é. Os estudos da ONU mostram que o Brasil é irrelevante como fonte das drogas traficadas para os EUA.
O “barato” deles aqui é outro.
PS: O livro, muito importante para quem se interessa pelo tema, está disponível, gratuitamente, no site da Escola de Guerra Naval.
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