quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Stiglitz: Loucura econômica da Europa não pode durar sempre


Transcrito do site Carta Maior

Esquerda.net

postado em: 19/01/2015
Em artigo publicado neste domingo no jornal espanhol “El Pais”  (disponível em inglês emproject-syndicate.org ), Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001, considera que os EUA estão a mostrar sinais de recuperação, mas lentamente e com prejuízos a longo prazo, e põe em contraste a situação da Europa, em que “a brecha entre onde a Europa está e onde poderia estar na ausência da crise continua a crescer”.

Stiglitz salienta: “Na maioria dos países da União Europeia, o PIB per capita é menor ao de antes da crise. Uma meia década perdida está a converter-se rapidamente numa década inteira perdida. Por detrás das estatísticas, as vidas arruínam-se, os sonhos desvanecem-se, e as famílias desintegram-se (ou não se formam) a par da estagnação – que chega a ser depressão em alguns lugares – que se arrasta ano após ano”.

Para o economista, o sofrimento da Europa é “autoinfligido” devido a um conjunto, “sem precedentes”, de más decisões econômicas, “começando pela criação do euro”.

O prêmio Nobel da Economia 2001 refere que as previsões dos funcionários europeus sobre as consequências das suas políticas têm sido erradas e aponta que “as previsões falharam, não porque os países da UE não aplicaram as políticas prescritas, mas porque os modelos sobre os quais essas políticas se basearam têm graves deficiências”. E exemplifica com o caso da Grécia, em que o país está mais endividado do que em 2010, porque “o impacto fiscal da austeridade prejudicou a produção”.

“Agora a Grécia põe à prova mais uma vez a Europa”, assinala o economista, lembrando que o Syriza “se comprometeu a renegociar os termos do resgate”, que está à frente das sondagens e avisando que “se o Syriza ganhar mas não chegar ao poder”, um motivo importante será o medo. Considerando que “a menos que a estrutura da zona euro se reforme e a austeridade seja revertida, a Europa não recuperará”, Stiglitz diz que “o drama da Europa está longe de terminar”, realça a “vitalidade das suas democracias”, mas aponta que “o euro despojou os cidadãos – sobretudo nos países em crise – de qualquer decisão que eles pudessem ter sobre o seu destino económico”, denunciando que apesar da derrota eleitoral de vários governos “os novos governos continuaram pelo mesmo rumo, o mesmo que é ditado de Bruxelas, Frankfurt e Berlim”.

Realçando que “o problema não é a Grécia”, mas a Europa, Stiglitz afirma: “Se a Europa não mudar a sua maneira de atuar – se não reforma a zona euro e recusa a austeridade – uma reação popular será inevitável”.

Stiglitz termina o artigo afirmando que “esta loucura econômica não pode continuar para sempre”, salientando que “a democracia não permitirá” e questionando “quanto mais dor terá a Europa de suportar antes de se restabelecer o senso comum?”




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