O novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou, há alguns dias, que,
no financiamento a empresas, é preciso abandonar o "patrimonialismo" e
apoiar a "igualdade de oportunidades" e a "impessoalidade" do Estado.
O que o Ministro quis dizer com isso?
Será
que ele estava sugerindo que acredita que uma empresa nacional, que
paga dos mais altos juros do mundo, dispõe das mesmas oportunidades que
empresas estrangeiras que captam recursos a juros dez vezes mais baixos
em seus países de origem, ou recebem descarada ajuda governamental, de
países como a Espanha, recentemente condenada pela UE por financiar e
apoiar, desde a última década do século passado, "ilegalmente", segundo
as regras europeias, a internacionalização de suas empresas,
especialmente na América Latina?
Os
Estados não costumam ser impessoais. Eles servem às nações na
formulação e execução de estratégias, estabelecidas segundo a época e os
desafios, escolhendo os setores nacionais que irão apoiar, para a
execução de projetos e programas voltados para a conquista do
desenvolvimento, e de poder e projeção econômica, militar e
geopolítica, em um mundo cada vez mais competitivo.
Dizer
que o Estado deve ser "impessoal" em um planeta em que a Europa e os
EUA, principalmente, funcionam na base do lobby - com a permanente
troca de favores entre políticos, estado e iniciativa privada - em que o
Pentágono, por exemplo, escolhe, há anos, na base do compadrio, as
empresas que irão participar do desenvolvimento e fabricação de suas
armas e sistemas, fartamente financiados com dinheiro do contribuinte, e
com acesso vetado por lei para empresas estrangeiras como a Embraer,
obrigada a se associar a uma empresa local para vender aviões à USAF; e
existem bancos de fomento que tem como única missão apoiar setores e
empreendedores locais, como é o caso do Eximbank, e de outras
instituições congêneres da Coréia, Japão, Alemanha, só pode ser um
devaneio romântico ou um insulto à inteligência da Nação.
Todos
os países - ou ao menos os de maior sucesso, sempre investiram em
cientistas, empreendedores, ideias, empresas e projetos. E para cada
Krupp, Rockfeller, Agnelli, Volkswagen, Bayer, Boeing, bem sucedidos, há
bilhões em recursos em dinheiro público aplicados em dezenas de
empreendedores e empresas que irão fracassar, em um processo permanente
de tentativa e erro, que é fiel retrato de como caminham as nações
("capitalistas" ou "socialistas") e a humanidade.
Está
certo, vamos acabar com o "patrimonialismo". Mas o que representa o
governo pagar bilhões de reais em juros, dos mais altos do mundo, aos
bancos e aos sistema financeiro, todos os anos, senão o mais inútil
"patrimonialismo"?
O
que o Brasil precisa, não é deixar de financiar suas empresas - como
fez o BNDES, por exemplo, com o consórcio do qual tomava parte o
Bradesco, na polêmica privatização, a preço irrisório, da Vale do Rio
Doce, nos anos 1990.
E,
sim, escolher, abertamente, publicamente, como deve investir seus
recursos, em benefício do país e dos brasileiros, e fazê-lo
decididamente, com critérios transparentes, e sem hipocrisia, como
fazem as outras nações do mundo.
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