sexta-feira, 3 de maio de 2013

Uma escolha perigosa



 Os resultados do balanço de transações correntes do primeiro trimestre revelaram déficit de US$ 24,85 bilhões, o dobro do verificado em igual período do ano passado, de US$ 12,06 bilhões. Em 12 meses, o déficit atingiu US$ 67,03 bilhões, bem acima dos US$ 54,25 bilhões totalizados no ano passado. A balança comercial apresentou US$ 5,16 bilhões de déficit no primeiro trimestre, pior desempenho da série histórica iniciada há 20 anos. As indicações são de que o mês de abril manteve a tendência de déficit. A estimativa para o déficit em transações correntes no ano é de US$ 67 bilhões, que deverão ser cobertos como investimentos diretos em montante estimado em US$ 65 bilhões. Na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), o déficit em conta corrente passou de 2,41% para 2,93%, pior índice desde 2002, ano que o Brasil recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para fechar as suas contas.
     Mesmo com diferenças importantes em relação a outros momentos enfrentados pelo país - câmbio flutuante, que permite absorver choques cambiais, reservas externas e o fato do Brasil ser credor líquido internacional – a situação preocupa. O país vem, há algum tempo, dependendo de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) para fechar suas contas externas. O problema é que no primeiro trimestre deste ano, os investimentos estrangeiros diretos somaram apenas pouco mais da metade do déficit, US$ 13,26 bilhões, abaixo dos US$ 15 bilhões de igual período no ano passado. Além do mais, no primeiro bimestre, aumentaram em 222% as remessas de lucros e dividendos das filiais de multinacionais para as suas matrizes, em relação ao mesmo período em 2012.
     Como se sabe aquilo que é chamado “absorção de poupança externa”, significa na prática, capitais em busca de valorização adquirindo empresas brasileiras: desde 2004, foram 1.296 empresas transferidas para controle de empresas estrangeiras. Estamos financiando déficit externo com a venda de empresas nacionais, o que significa mais remessas de lucros no futuro. Cerca de 60% do aumento do déficit em conta corrente no primeiro trimestre deve-se a piora do comércio exterior, em função da queda nos preços dos produtos exportados pelo Brasil, predominantemente commodities agrícolas e minerais.
     A política econômica brasileira deve mirar a melhoria de condições de vida da maioria da população, sempre numa perspectiva de longo prazo. Cobrir déficit externo com investimentos estrangeiros significa, no limite, subordinar os interesses do país ao capital especulativo, que anda vagando pelo mundo em busca de oportunidades de investimentos. Não adianta imaginar que, como querem alguns setores, aumentando graus de liberalização financeira e aprofundando a internacionalização da economia iremos enfrentar adequadamente os problemas nacionais. Essa opção implicaria em aumentar ainda mais as fragilidades da economia brasileira, na medida em que, a qualquer momento e por seu exclusivo interesse, os capitais retornam para as economias centrais. O enfrentamento dos problemas nacionais, mais do que nunca, implica na redefinição da inserção do Brasil na ordem global, preservando os interesses do país. O Brasil não pode cair na ilusão de que irá solucionar adequadamente seus problemas com base na internacionalização e no crescente risco de desindustrialização de sua economia.
                                                                          *José Álvaro de Lima Cardoso, Economista e técnico do DIEESE.

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