Os resultados do balanço de
transações correntes do primeiro trimestre revelaram déficit de US$ 24,85
bilhões, o dobro do verificado em igual período do ano passado, de US$ 12,06
bilhões. Em 12 meses, o déficit atingiu US$ 67,03 bilhões, bem acima dos US$
54,25 bilhões totalizados no ano passado. A balança comercial apresentou US$
5,16 bilhões de déficit no primeiro trimestre, pior desempenho da série
histórica iniciada há 20 anos. As indicações são de que o mês de abril manteve
a tendência de déficit. A estimativa para o déficit em transações correntes no
ano é de US$ 67 bilhões, que deverão ser cobertos como investimentos diretos em
montante estimado em US$ 65 bilhões. Na comparação com o Produto Interno Bruto
(PIB), o déficit em conta corrente passou de 2,41% para 2,93%, pior índice
desde 2002, ano que o Brasil recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI)
para fechar as suas contas.
Mesmo com diferenças importantes em
relação a outros momentos enfrentados pelo país - câmbio flutuante, que permite
absorver choques cambiais, reservas externas e o fato do Brasil ser credor
líquido internacional – a situação preocupa. O país vem, há algum tempo,
dependendo de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) para fechar suas contas
externas. O problema é que no primeiro trimestre deste ano, os investimentos
estrangeiros diretos somaram apenas pouco mais da metade do déficit, US$ 13,26
bilhões, abaixo dos US$ 15 bilhões de igual período no ano passado. Além do
mais, no primeiro bimestre, aumentaram em 222% as remessas de lucros e
dividendos das filiais de multinacionais para as suas matrizes, em relação ao
mesmo período em 2012.
Como se sabe aquilo que é chamado
“absorção de poupança externa”, significa na prática, capitais em busca de
valorização adquirindo empresas brasileiras: desde 2004, foram 1.296 empresas
transferidas para controle de empresas estrangeiras. Estamos financiando
déficit externo com a venda de empresas nacionais, o que significa mais
remessas de lucros no futuro. Cerca de 60% do aumento do déficit em conta
corrente no primeiro trimestre deve-se a piora do comércio exterior, em função
da queda nos preços dos produtos exportados pelo Brasil, predominantemente
commodities agrícolas e minerais.
A política econômica brasileira deve mirar
a melhoria de condições de vida da maioria da população, sempre numa
perspectiva de longo prazo. Cobrir déficit externo com investimentos
estrangeiros significa, no limite, subordinar os interesses do país ao capital
especulativo, que anda vagando pelo mundo em busca de oportunidades de
investimentos. Não adianta imaginar que, como querem alguns setores, aumentando
graus de liberalização financeira e aprofundando a internacionalização da
economia iremos enfrentar adequadamente os problemas nacionais. Essa opção
implicaria em aumentar ainda mais as fragilidades da economia brasileira, na
medida em que, a qualquer momento e por seu exclusivo interesse, os capitais
retornam para as economias centrais. O enfrentamento dos problemas nacionais,
mais do que nunca, implica na redefinição da inserção do Brasil na ordem
global, preservando os interesses do país. O Brasil não pode cair na ilusão de
que irá solucionar adequadamente seus problemas com base na internacionalização
e no crescente risco de desindustrialização de sua economia.
*José Álvaro de Lima Cardoso, Economista e técnico do DIEESE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário