José
Álvaro de Lima Cardoso.
O país atravessa a mais grave recessão da história, com quase três anos
de queda da produção industrial, queda da renda e elevação do desemprego. O lucro
líquido dos 4 maiores bancos do Brasil cresceu 10,4% no 3º trimestre deste ano em
relação ao mesmo período de 2016. Segundo estudo da empresa Economatica, a soma
dos lucros do Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander no período entre
julho e setembro, alcançou R$ 13,6 bilhões ante R$ 12,3 bilhões no mesmo
período do ano passado. O maior lucro foi o do Itaú Unibanco, que chegou a R$ 6,077
bilhões. Dos três bancos, dois são privados, um inclusive
estrangeiro.
Os bancos privados no Brasil quase não emprestam, ou seja, não cumprem a
função que deveria ser a razão de sua existência, a intermediação e
disponibilização do crédito. Para termos uma ideia, em Santa Catarina os bancos
privados respondem por apenas 10% do crédito disponível, não intermediam os
programas sociais do governo e empregam apenas 30% dos bancários. Ademais,
pagam salários que equivalem a 86% dos salários dos bancários dos bancos
públicos, segundo a RAIS 2016. Esse é o
quadro em todo o país: os bancos privados praticamente não disponibilizam
crédito, exploram seus trabalhadores acima da média do setor, não desempenham
função social nenhum e faturam lucros exorbitantes, totalmente descolados da
situação econômica geral do País, o que mostra que algo está profundamente
errado.
O
sistema financeiro é um dos principais grupos de interesse do golpe de Estado
que está sendo desenvolvido no Brasil. O golpe foi desferido por interesses
econômicos muito concretos. Por exemplo, recentemente foi concedido ao banco
Itaú (que teve mais de R$ 6 bilhões de lucros líquidos no terceiro trimestre
deste ano), pelo Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), ligado à
Receita Federal, o perdão de impostos que totalizavam R$ 25 bilhões. O valor
dos impostos, relativos à fusão Itaú/Unibanco realizada em 2008, é praticamente
o orçamento deste ano do Bolsa Família, que tira da fome quase 50 milhões de
brasileiros. Isso num ano em que o governo terá o maior déficit fiscal da
história, pretexto a partir do qual o governo ilegítimo está vendendo empresas
públicas estratégicas, à preço de banana.
A chamada Emenda da Morte (EC 95), que
limitou os gastos da despesa primária federal a partir de 2017 à inflação, foi
claramente uma inspiração direta do capital financeiro. A Emenda atinge diretamente
a soberania nacional. O congelamento do gasto público, que valerá por 20 anos,
tem o objetivo expresso de pagar ainda mais juros da dívida pública, o que é de
uma subserviência absoluta ao capital financeiro. As despesas públicas irão decrescer
a sua participação relativa no PIB, toda vez que houver crescimento econômico,
o que só poderia vir mesmo através de um golpe contra o povo. A proposta não
aplica aos juros a mesma lógica de corrigi-los pela inflação, o que revela que o
objetivo é mesmo transferir recursos da sociedade para o setor financeiro, já
que os juros praticados no Brasil são os mais elevados do mundo.
Noticia a imprensa que o governo golpista
está para enviar ao Congresso a nova lei de resolução bancária, que tornará
legal a injeção de dinheiro público, via Tesouro Nacional para salvar bancos
com problemas financeiros. Atualmente isso é proibido pela Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), que veio numa situação de grave crise fiscal na
década de 1990, para, supostamente garantir por parte dos governantes maior
responsabilidade no tratamento dos gastos públicos. Um detalhe “quase sem
importância” é que o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, foi
economista-chefe do banco Itaú e tem laços estreitos com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e Banco Mundial. Há fortes indicações que a nomeação de
Goldfajn, após o golpe em 2016, foi aprovada pelo FMI, pelo Tesouro norte-americano
e pelos representantes do sistema financeiro de Wall Street. Ou seja, são as
raposas mais ardilosas, administrando o galinheiro. E o pior é que boa parte
das “galinhas” ainda têm dúvidas que o Brasil sofreu um golpe de Estado.
*
Economista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário