quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O grande parasita da nação impõe sua política de guerra.




                                                                                      José Álvaro de Lima Cardoso.    
     O país atravessa a mais grave recessão da história, com dois anos e meio de queda da produção industrial, diminuição da renda e elevação do desemprego. Assim mesmo, o lucro líquido dos 4 maiores bancos do Brasil cresceu 10,4% no 3º trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2016. A soma dos lucros do Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander no período entre julho e setembro, alcançou R$ 13,6 bilhões ante R$ 12,3 bilhões no mesmo período do ano passado. O maior lucro foi o do Itaú Unibanco, que chegou a R$ 6,077 bilhões. Dos três bancos, dois são privados, um inclusive, estrangeiro. 
     O setor financeiro no Brasil se apropria de cerca de R$ 600 bilhões por ano, em juros da dívida pública e de quase 50% do orçamento púbico federal. Além disso, não cumpre a função que deveria ser a razão de sua existência que é a disponibilização e intermediação do crédito, e fatura lucros exorbitantes, totalmente descolados da realidade econômica geral do País. O setor financeiro privado é como um grande parasita, uma “solitária” gigante, que vive de juros e absorve 6% ou 7% do PIB nacional sem apertar um parafuso. O que o Brasil que trabalha, ganha sustentando esse sistema parasitário? Empobrecimento e penúria para a população, e impossibilidade do pais se desenvolver.
     O Congresso acabou de aprovar a contrarreforma trabalhista, que coloca os direitos trabalhistas de volta ao século XIX. Somente com a queda de renda decorrente dessa medida, assistiremos, nos próximos anos a maior transferência de renda dos trabalhadores para a burguesia de toda a história do Brasil. Como as novas regras desfavorecem completamente o trabalho, a renda irá cair dramaticamente e os salários dos trabalhadores irão perder poder aquisitivo. A contrarreforma veio para isso mesmo: reduzir o custo da força de trabalho, para compensar a crise mundial do capitalismo, que afeta os lucros dos grandes grupos econômicos. Somente os empresários que não dependem do mercado interno, ou que estão muito equivocados na análise da conjuntura, é que podem estar contentes com a destruição de direitos. Mesmo para os empresários que exportam todo o seu produto, é muito temerário apostar numa saída que tornará a vida em sociedade no Brasil, insuportável nas próximas décadas.
     A dilapidação de direitos trabalhistas compõe uma estratégia mundial do capital. Os princípios da contrarreforma trabalhista, com adaptações em cada país, foram implantados em mais de 110 países. Porém, no contexto brasileiro, cuja população vinha num processo de melhoria das suas condições de vida na última década antes do golpe, a contrarreforma trabalhista jamais poderia ter sido aprovada num processo democrático. Ela só poderia ser implantada mesmo, em um processo de golpe radical contra a democracia. O conjunto de ações do golpe vai contra os interesses da maioria e do mercado consumidor interno, a começar pelo seu núcleo central: a) destruição da regulação trabalhista; b) congelamento de gastos por 20 anos (Emenda da Morte); c) destruição da seguridade social; e assim por diante.
    Está também no centro do golpe a destruição da indústria e a transformação do Brasil num fornecedor de matérias primas baratas para os centros industriais dos países ricos. Por isso estão desmontando rapidamente a Petrobrás e vendendo poços do pré-sal a menos de dois dólares o barril, verdadeiro crime de lesa-pátria. Estão destruindo os mecanismos de que o Estado dispõe para promover a recuperação da economia. Aprovaram o fim da TJLP, criando a TLP, que trabalhará com taxas próximas às do mercado, que pratica as maiores taxas do planeta. O BNDES, que foi fundamental no enfrentamento da crise a partir de 2008, voltou a ter níveis de empréstimos de 2003. Estão liquidando o BNDES como instrumento de política industrial.
      A fórmula de política econômica que está sendo implementada no Brasil, um ultra neoliberalismo anacrônico, representa um assalto a renda e as condições de vida do povo brasileiro. Tal política fracassou em todo o mundo. Claro, um fracasso do ponto de vista da nação, porque as minorias enriquecem com as privatizações e o torra-torra de patrimônio público. Se preparam agora para destruir a seguridade social, um sistema fundamental para 100 milhões de compatriotas. Na verdade pretendem implodir o sistema público de seguridade social, uma encomenda do sistema financeiro privado.  
     Se implementarem até o fim essa agenda de guerra, tendo ou não eleições em 2018, deverá haver, mais cedo ou mais tarde, reação social. O conjunto de maldades que está sendo encaminhado contra o povo e contra o país, se tornará cada vez mais evidente, até para os mais crédulos. Ficará cada vez mais claro que foi aplicado um golpe dos poderosos, menos de 1% da população, contra mais de 99% dos brasileiros. É uma questão de tempo.      Neste contexto, qual o sentido de o empresariado não especulativo e ligado ao mercado interno apoiar a destruição do mercado consumidor e não cerrar fileiras contra todas essas políticas? Será em função do processo de alienação política, dos ganhos com o rentismo, ou é um pouco de cada coisa?
                                                                                                            *Economista.

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