José Álvaro de Lima Cardoso.
A direção da Petrobrás licitou, no dia 27 de
outubro, seis dos oito blocos de exploração petrolífera nas águas profundas do
pré-sal. O valor de venda dos blocos foi, na prática, uma doação para as
multinacionais. Os R$ 6,15 bilhões arrecadados equivalem ao que é gasto em
cinco dias com juros da dívida pública pelo Brasil. Somente o perdão que o
governo golpista concedeu ao banco Itaú, R$ 25 bilhões (dívidas de imposto de
renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), na fusão com o
Unibanco), representa mais de quatro vezes o valor de venda dos blocos.
Para estes leilões de áreas do pré-sal já
participaram grandes multinacionais, agora já com as principais regras da lei
de Partilha decapitadas, como José Serra havia prometido à Chevron, em 2010. O
fim das bases da Lei de partilha, claro, era uma das promessas do golpe,
justamente por possibilitar o leilão de áreas do pré-sal, sem a presença da
Petrobrás. Estão desmontando a Petrobrás e vendendo a riqueza do pré-sal, sem
muito alarde, apesar das permanentes denúncias dos trabalhadores petroleiros,
que, não por acaso, raramente são divulgadas na grande imprensa.
O golpe
de Estado no Brasil deve ser entendido no contexto do cerco que os governos
populares da América Latina sofrem há alguns anos, vindo do Império do Norte,
em função das fontes de matérias primas essenciais, e por razões geopolíticas.
Sem obter sucesso pela via eleitoral, em Honduras, Paraguai e Brasil,
auxiliaram na aplicação de golpes, valendo-se da mídia, judiciário e da direita
parlamentar desses países. Outros governos populares da América do Sul estão
sob cerrada pressão dos EUA também, sendo o caso mais dramático, o da
Venezuela, essencialmente por causa das imensas reservas petrolíferas.
Desde o
fim da 2ª Guerra Mundial, Washington já tentou derrubar mais de 50 governos, a
maior parte dos quais plenamente democráticos, bombardeou populações civis de
mais de 30 nações e tentou assassinar mais de 50 líderes estrangeiros. Segundo
o professor Moniz Bandeira, citando o historiador norte-americano
John Coatsworth, entre 1898 e 1994, os Estados Unidos patrocinaram 41 golpes de
Estado somente na América Latina, o que corresponde à derrubada de um governo a
cada 28 meses, no espaço de um século. Curiosamente, passado um ano de golpe, nem o
comportamento mais submisso e as ações mais entreguistas da história (desmonte
da Petrobrás, fim da lei de Partilha, vendas de ativos estratégicos, do pré-sal,
de usinas hidrelétricas do Sistema Eletrobrás e uma parte da Amazônia) têm sido
suficientes para convencer alguns acerca do protagonismo imperialista no golpe.
O
conjunto de ações que tem sido encaminhado no Brasil visa compensar, do ponto de
vista do capital, a maior crise da história do capitalismo, que se arrasta já
por dez anos. A crise destruiu muitos empregos na produção, aumentou as dívidas
públicas nos países desenvolvidos e produziu um sentimento de revolta e
exclusão em vários segmentos na classe média, no mundo todo. O que se assiste
no mundo, como uma dimensão dessa crise, é um evidente desgaste no próprio
sistema de representação política. Observa-se,
além disso, uma contradição crescente entre o funcionamento do sistema capitalista,
hegemonizado pelo capital financeiro, e a prática da democracia.
O
imperialismo vem aplicando golpes no mundo todo: Oriente Médio, América Latina.
Na América Latina, somente de 2009 para cá, três governos democraticamente
eleitos já sofreram golpes de Estado, sempre liderados pelo capital financeiro
(Honduras, Paraguai e Brasil). No Brasil, estão querendo implantar até as
últimas consequências, as medidas recomendadas pelo Consenso de Washington para os
países periféricos. Medidas que visam, justamente, manter o país na condição de
dependente, e produtor de commodities agrícolas e minerais, e insumos para os
países ricos. Quem não perceber a decisiva influencia imperialista na
destruição de direitos e no entreguismo no Brasil, terá muitas dificuldades
para entender minimamente o xadrez conjuntural.
*Economista.
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