quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A decisiva intervenção estrangeira no golpe de Estado.




José Álvaro de Lima Cardoso.
     A direção da Petrobrás licitou, no dia 27 de outubro, seis dos oito blocos de exploração petrolífera nas águas profundas do pré-sal. O valor de venda dos blocos foi, na prática, uma doação para as multinacionais. Os R$ 6,15 bilhões arrecadados equivalem ao que é gasto em cinco dias com juros da dívida pública pelo Brasil. Somente o perdão que o governo golpista concedeu ao banco Itaú, R$ 25 bilhões (dívidas de imposto de renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), na fusão com o Unibanco), representa mais de quatro vezes o valor de venda dos blocos.
     Para estes leilões de áreas do pré-sal já participaram grandes multinacionais, agora já com as principais regras da lei de Partilha decapitadas, como José Serra havia prometido à Chevron, em 2010. O fim das bases da Lei de partilha, claro, era uma das promessas do golpe, justamente por possibilitar o leilão de áreas do pré-sal, sem a presença da Petrobrás. Estão desmontando a Petrobrás e vendendo a riqueza do pré-sal, sem muito alarde, apesar das permanentes denúncias dos trabalhadores petroleiros, que, não por acaso, raramente são divulgadas na grande imprensa.  
     O golpe de Estado no Brasil deve ser entendido no contexto do cerco que os governos populares da América Latina sofrem há alguns anos, vindo do Império do Norte, em função das fontes de matérias primas essenciais, e por razões geopolíticas. Sem obter sucesso pela via eleitoral, em Honduras, Paraguai e Brasil, auxiliaram na aplicação de golpes, valendo-se da mídia, judiciário e da direita parlamentar desses países. Outros governos populares da América do Sul estão sob cerrada pressão dos EUA também, sendo o caso mais dramático, o da Venezuela, essencialmente por causa das imensas reservas petrolíferas.
     Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, Washington já tentou derrubar mais de 50 governos, a maior parte dos quais plenamente democráticos, bombardeou populações civis de mais de 30 nações e tentou assassinar mais de 50 líderes estrangeiros. Segundo o professor Moniz Bandeira, citando o historiador norte-americano John Coatsworth, entre 1898 e 1994, os Estados Unidos patrocinaram 41 golpes de Estado somente na América Latina, o que corresponde à derrubada de um governo a cada 28 meses, no espaço de um século. Curiosamente, passado um ano de golpe, nem o comportamento mais submisso e as ações mais entreguistas da história (desmonte da Petrobrás, fim da lei de Partilha, vendas de ativos estratégicos, do pré-sal, de usinas hidrelétricas do Sistema Eletrobrás e uma parte da Amazônia) têm sido suficientes para convencer alguns acerca do protagonismo imperialista no golpe.
      O conjunto de ações que tem sido encaminhado no Brasil visa compensar, do ponto de vista do capital, a maior crise da história do capitalismo, que se arrasta já por dez anos. A crise destruiu muitos empregos na produção, aumentou as dívidas públicas nos países desenvolvidos e produziu um sentimento de revolta e exclusão em vários segmentos na classe média, no mundo todo. O que se assiste no mundo, como uma dimensão dessa crise, é um evidente desgaste no próprio sistema de representação política.      Observa-se, além disso, uma contradição crescente entre o funcionamento do sistema capitalista, hegemonizado pelo capital financeiro, e a prática da democracia.
     O imperialismo vem aplicando golpes no mundo todo: Oriente Médio, América Latina. Na América Latina, somente de 2009 para cá, três governos democraticamente eleitos já sofreram golpes de Estado, sempre liderados pelo capital financeiro (Honduras, Paraguai e Brasil). No Brasil, estão querendo implantar até as últimas consequências, as medidas recomendadas pelo Consenso de Washington para os países periféricos. Medidas que visam, justamente, manter o país na condição de dependente, e produtor de commodities agrícolas e minerais, e insumos para os países ricos. Quem não perceber a decisiva influencia imperialista na destruição de direitos e no entreguismo no Brasil, terá muitas dificuldades para entender minimamente o xadrez conjuntural.  

                                                                                                             *Economista.

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