Por Eugênio Aragão
A publicação do Decreto nº 9188 no meio do
feriadão enforcado pela ministra Carmen Lúcia põe a nu a desfaçatez do
governo golpista e a pasmaceira que domina nossa sociedade. O Sr. Michel
Temer, que conseguiu se manter na presidência usurpada graças a um
leilão de ativos públicos a deputados, promove, agora, o leilão de todas
as sociedades de economia mista numa penada só. Banco do Brasil,
Eletrobrás, Petrobrás... a prata da casa pelas usuais misérias do
mercado que “precifica” a ganância de governos corruptos. Foi assim na
privatização de FHC, que rendeu míseros recursos não vistos por
brasileiras e brasileiros, supostamente usados, em parte, para garantir a
reeleição. Agora, com o caixa vazio, sem perspectiva de poder
distribuir prebendas para parlamentares que aderem, desde que bem pagos,
à liquidação de direitos, a venda das estatais é o derradeiro tiro na
dignidade do Brasil.
Que a mídia comercial nada diga, é natural. O
decreto teve que ser “prospectado” por assíduos leitores de diários
oficiais. Mas o pior é que a sociedade não se move. Aceitou sem reclamar
a derrubada da presidenta eleita por um legislativo ganancioso, vem
aceitando arroubos malcriados de juízes e até ministros do STF fora dos
autos, aceita a instalação de uma base americana na Amazônia, aceita a
venda da estação de lançamento de foguetes de Alcântara aos mesmos
americanos, aceita a entrega do pré-sal por preço de banana a
multinacionais estrangeiras, aceita mudança na lei de diretrizes e bases
por medida provisória, aceita a elevação da contribuição previdenciária
de servidores públicos sem qualquer debate sério, aceita o perdão de
dívidas a sonegadores endinheirados e bancos, aceita a reforma
trabalhista que acaba com qualquer perspectiva de dignidade no emprego,
aceita o perdão a trabalho indigno equiparado a escravo, aceita o
aumento em mais de 50% do gás de cozinha, aceita provocações e mais
provocações de um bando que se intitula governo sem qualquer
legitimidade. Sem reagir. Como se fôssemos todos feitos de goma
elástica, sem espinha dorsal.
Batemos
palmas a um discurso idiota e mal elaborado de “combate à corrupção”,
que só tem logrado destruir o parque industrial estratégico do país e
tirar o emprego de centenas de milhares de cidadãs e cidadãos. E
deixamos estar tudo como está: o usurpador do executivo vendendo o que é
nosso para se safar da justiça, ao mesmo tempo em que ricos delatores
são, depois de confessados seus crimes e inculpados os alvos políticos
da investigação, deixados em paz, a curtirem seu whisky de 30 anos no
novembro tão azul quanto o rótulo da garrafa da ilustre bebida.
E così la nave và...
No Chile, em que o liberalismo chicaguiano
venceu a esperança, foi preciso um sangrento golpe militar para a
tarefa de que aqui se desincumbem com a tranquilidade do ladrão de cofre
residencial que sabe a família de férias. Nada de gritos, choros ou
ranger de dentes. E ainda fazem dancinha de bunda gorda na nossa cara,
que nem o líder daquilo que ousam chamar de governo na Câmara dos
Deputados.
Cadê nossa altivez, nossa honra, nossa
autoestima? Será que valeu a pena sacar uma presidenta honesta por isso?
Por essa pinguela para a barbárie? Será que não pensamos nas nossas
filhas e nos nossos filhos, sem futuro, territorializados numa economia
globalizada? Sem ativos nacionais, nosso País está perdido. Está
condenado a ser um ator de terceira divisão nesse mundo de cão que se
nos desenha para as próximas décadas.
O que falta fazer para tirar o traseiro do
sofá, para tirar os dedos do smartphone e reagir? Quando nos atentarmos
para o estrago, será tarde demais e o Sr. Temer nada pagará, porque
estará descansando em paz com seu bilau televisado. Mas nós teremos
saudades do tempo em que poderíamos ter dado um rumo diferente a nosso
destino e não demos.
É melhor reagirmos. Antes tarde do que nunca.
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