José Álvaro de Lima Cardoso.
Os estudos apontam que a chamada quarta
revolução industrial, será mais profunda que as anteriores. As
revoluções industriais (RI) anteriores também foram radicais, mas seus tempos
de maturação foram mais prolongados. O processo atual é mais veloz e profundo do
que em todas as transformações anteriores. Além disso as mudanças da também
chamada Indústria 4.0 são mais abrangentes, interagindo nas várias dimensões: física, digital e biológica. Nesta última, por exemplo, são
impressionantes alguns avanços, como a capacidade de modificar organismos já existentes, alterando seus
códigos genéticos; na engenharia genética, a possibilidade de interferir e
modificar seres vivos (animais, plantas), etc. Existem aspectos dessas novas
tecnologias, que estão deixando os filmes de ficção do século XX, simplesmente “na
poeira”. Como a possibilidade de transplantar órgãos de uma espécie animal para
outra (xenotransplantes), que deverá revolucionar essa área da medicina. Ou o
que os cientistas estão desenvolvendo, no campo da inteligência artificial, que
já disponibiliza programas que, num futuro muito próximo, irão contribuir
para resolver os problemas mais complexos do mundo real.
A redução de custos com as novas
tecnologias também será drástica, o que permitirá disseminar muitas tecnologias,
cujo acesso é privilégio de poucos, para um maior número de pessoas. Esse
barateamento de custos deverá beneficiar muitos setores como na medicina que
poderá se tornar mais preventiva. Em princípio, redução de custos jamais
poderia ser visto com preocupação, visto que permite a disseminação dos
benefícios de determinada tecnologia. O problema é que, dada as relações
sociais capitalistas, frequentemente isso implica em redução de pessoal.
Se calcula que metade dos empregos vão
desaparecer nos próximos 25 anos na esteira da quarta revolução industrial. Alguns estudos destacam que mais da
metade dos estudantes de hoje estão atrás de profissões que se tornarão
obsoletas pelos avanços tecnológicos e a automação. Mesmo que possa haver certo
exagero nessa previsão - pois a sociedade não ficará paralisada enquanto essas
coisas acontecem - o fato incontestável é que a mudança de patamar tecnológico vem
eliminando postos de trabalho num ritmo acelerado. Do ponto de vista do
capital, ele é feito para isso mesmo: aumento de produtividade visando aumentar
margens e taxa de lucros. Mas isso tende a aumentar as contradições do próprio
sistema. A substituição de trabalho humano por máquinas, sem negociação e feita
de forma anárquica, leva a uma diminuição da massa salarial, e a dificuldades
na realização da produção, que não encontra compradores.
É quase consenso entre os analistas que
num futuro breve a flexibilidade será a regra nas relações de trabalho.
Empregadores utilizarão a tal da “nuvem humana” (trabalhadores que podem ser
localizados em qualquer lugar para executar determinados serviços). Esta expressão
causa arrepios aos trabalhadores porque para a maioria significa,
concretamente, precarização, aumento da taxa de exploração e incerteza quanto
ao emprego. O termo “nuvem humana” parece inclusive ilustrativo da visão que a
maioria dos grandes empresários têm do trabalhador.
O problema do desemprego tecnológico, estamos
assistindo agora de forma bastante prática, nos condomínios. A tecnologia de
portaria remota, ao permitir que um pequeno grupo de trabalhadores, monitore à
distância um grande número de condomínios, possibilita redução significativa de
custos com pessoal. A disseminação rápida dessa tecnologia, em função principalmente
do seu barateamento, feita sem negociação com os sindicatos, vem destruindo os empregos
no setor a uma velocidade assustadora. O pior é que a decisão é tomada
unilateralmente pela administração dos condomínios, sem sequer aventar a
possibilidade de negociar o processo com os sindicatos. A reestruturação
produtiva, por mais avassaladora que seja, é vista pelas empresas como um
direito exclusivo da administração, sobre o qual as representações sindicais
não têm o menor direito de opinar. Boa parte deste filme já vimos na década de
1990. E não gostamos.
*Economista.
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