quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Desafios da quarta revolução industrial: parte deste filme nós já vimos.



                                                                                     José Álvaro de Lima Cardoso.
     Os estudos apontam que a chamada quarta revolução industrial, será mais profunda que as anteriores. As revoluções industriais (RI) anteriores também foram radicais, mas seus tempos de maturação foram mais prolongados. O processo atual é mais veloz e profundo do que em todas as transformações anteriores. Além disso as mudanças da também chamada Indústria 4.0 são mais abrangentes, interagindo nas várias dimensões: física, digital e biológica. Nesta última, por exemplo, são impressionantes alguns avanços, como a capacidade de modificar organismos já existentes, alterando seus códigos genéticos; na engenharia genética, a possibilidade de interferir e modificar seres vivos (animais, plantas), etc. Existem aspectos dessas novas tecnologias, que estão deixando os filmes de ficção do século XX, simplesmente “na poeira”. Como a possibilidade de transplantar órgãos de uma espécie animal para outra (xenotransplantes), que deverá revolucionar essa área da medicina. Ou o que os cientistas estão desenvolvendo, no campo da inteligência artificial, que já disponibiliza programas que, num futuro muito próximo, irão contribuir para resolver os problemas mais complexos do mundo real.
     A redução de custos com as novas tecnologias também será drástica, o que permitirá disseminar muitas tecnologias, cujo acesso é privilégio de poucos, para um maior número de pessoas. Esse barateamento de custos deverá beneficiar muitos setores como na medicina que poderá se tornar mais preventiva. Em princípio, redução de custos jamais poderia ser visto com preocupação, visto que permite a disseminação dos benefícios de determinada tecnologia. O problema é que, dada as relações sociais capitalistas, frequentemente isso implica em redução de pessoal.
     Se calcula que metade dos empregos vão desaparecer nos próximos 25 anos na esteira da quarta revolução industrial. Alguns estudos destacam que mais da metade dos estudantes de hoje estão atrás de profissões que se tornarão obsoletas pelos avanços tecnológicos e a automação. Mesmo que possa haver certo exagero nessa previsão - pois a sociedade não ficará paralisada enquanto essas coisas acontecem - o fato incontestável é que a mudança de patamar tecnológico vem eliminando postos de trabalho num ritmo acelerado. Do ponto de vista do capital, ele é feito para isso mesmo: aumento de produtividade visando aumentar margens e taxa de lucros. Mas isso tende a aumentar as contradições do próprio sistema. A substituição de trabalho humano por máquinas, sem negociação e feita de forma anárquica, leva a uma diminuição da massa salarial, e a dificuldades na realização da produção, que não encontra compradores.
     É quase consenso entre os analistas que num futuro breve a flexibilidade será a regra nas relações de trabalho. Empregadores utilizarão a tal da “nuvem humana” (trabalhadores que podem ser localizados em qualquer lugar para executar determinados serviços). Esta expressão causa arrepios aos trabalhadores porque para a maioria significa, concretamente, precarização, aumento da taxa de exploração e incerteza quanto ao emprego. O termo “nuvem humana” parece inclusive ilustrativo da visão que a maioria dos grandes empresários têm do trabalhador.
     O problema do desemprego tecnológico, estamos assistindo agora de forma bastante prática, nos condomínios. A tecnologia de portaria remota, ao permitir que um pequeno grupo de trabalhadores, monitore à distância um grande número de condomínios, possibilita redução significativa de custos com pessoal. A disseminação rápida dessa tecnologia, em função principalmente do seu barateamento, feita sem negociação com os sindicatos, vem destruindo os empregos no setor a uma velocidade assustadora. O pior é que a decisão é tomada unilateralmente pela administração dos condomínios, sem sequer aventar a possibilidade de negociar o processo com os sindicatos. A reestruturação produtiva, por mais avassaladora que seja, é vista pelas empresas como um direito exclusivo da administração, sobre o qual as representações sindicais não têm o menor direito de opinar. Boa parte deste filme já vimos na década de 1990. E não gostamos.
                                                                                                                                            *Economista.

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