Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info
Mario Jorge Bergoglio, em Santa Cruz de
la Sierra, Bolívia, pediu perdão pela destruição que fez a conquista
nesta Nossa Terra. Carol Wojtyla já tinha feito isso há 23 anos. Nem
Francisco nem João Paulo II, nome estelar do argentino e do polonês,
respectivamente, falaram uma palavrinha de devolver um dízimo desgraçado
que seja de todo o que nos saquearam os invasores para encher a barriga
e viver de cristã opulência. Porém, não é o pior, porque, ao fim, esta
Nossa América latina e caribenha é tão rica e solícita que segue
brotando em riquezas naturais. Umas ficam, outras seguem sendo roubadas.
O mais desastroso são os costumes, as “leis” os hábitos morais e
teocráticos quem consolidaram com a espada e a cruz, muito firmes, no
coração libertário da Pátria Grande.
Dessas heranças destruidoras dos pobres
da Terra, as cortes monárquicas de juízes são as que mantém os
privilégios e uma visão de mundo em nada diversos das justificadoras de
castigos, torturas, mitas, violações, dízimos, reduções, encomendas e
roubo de terra aos povos originários, ou trata vil aos negros. Essas
cortes supremas foram se afastando formalmente do poder da Igreja, mas,
não dos privilégios econômicos, sociais e políticos que advêm das velhas
monarquias por “ordem de Deus”.
São essas cortes e seus juízes que
consolidam e materializam o ódio e o sentimento de vingança que jorram
em torrentes das artérias da burguesia e acham sentença contra os
descalços, esfarrapados e nus deste Brasil continental. Por esse ódio de
classe o Supremo não acha motivo para acatar a solicitação muitíssimo
representativa de deputados de 14 partidos, portanto, de setores da
situação e da oposição de anular a votação espúria sobre a redução da
maioridade penal. Não encontram, nem procuram, nada questionável nas
atitudes do Rei Sol, Eduardo I. As crianças pobres, negras, pardas e
mestiças têm que receber o escarmento celestial, o fogo divino e
purificador da inquisição moderna.
E Francisco viaja, tão simpático
Francisco. Que opinas Francisco do que acontece com as crianças do
Brasil? Nada? Só a generalidade do perdão sem compensação de danos e
estragos culturais e materiais. Nada sobre que a Europa nos repare a
enorme, imensurável dívida externa em 500 anos de saqueios e genocídios.
Só o prêmio final do Paraíso, se houver ingressos à venda.
Enquanto Francisco nos alegra fabricando
santos e beatas, a destra e sinistra progressista, os que nascemos
pobres, de farta pobreza, temos muito claro que a opção sempre foi cara
ou coroa. Porque fomos e seremos, se este sistema não é destruído e
sepultado, exilados econômicos e sociais em qualquer lugar do Planeta,
talvez, com a exceção de Cuba, golpeada, sitiada e bloqueada. E nesse
cara o coroa que nos aperta o peito e nos faz escolher, nesse exílio a
domicílio, quando o endereço não é a rua, decidimos entre sermos
assimilados pelos credos do capitalismo imperial e suas instituições, ou
viver e morrer na esquina da rebeldia.
Em rebeldia, por exemplo, com os
supremos, que olimpicamente negam liminares em favor das crianças dos
pobres, os filhos dos fantasmas da exploração de minérios, os expulsos
da agricultura, os desempregados, os favelados, o entulho onde sem
montam os redentores. O ministro do Supremo Celso de Mello não vê mérito
para suspender a votação que reduz a maioridade penal. Eduardo I, cunha
da oligarquia para promiscuir esta democracia mínima, a dilui, a
pasteuriza ao sabor dos senhores feudais resuscitados. Eduardo I é
inquestionável, o Supremo também, tudo é inquestionável nas esferas da
lei dos ricos. Como questionar a vontade divina? O ódio e a vingança se
encarnam nos pés fugitivos de um pequeno infrator como sarna, a sarna
rica dos palácios.
Não interessa a justiça humana, nem
animal, no Brasil contemporâneo de alianças de classe surreais. Porque
não interessa o que venha acontecer com uma menina violada aos treze
anos que, um dia, empunhe uma faca e mate o seu violador estando ela já
com dezesseis, porque na sua insustentável dor não suporta que esse
monstruo seja o pai do seu filho. Filho que concebeu para não pecar e
porque não podia pagar um aborto burguês. É pobre essa safadinha e agora
é hedionda.
Não interessa o rapaz curtido por aquela
droga que lhe esquenta em toda noite fria, como único alimento, porque
esse micróbio é besta da rua e, se não bastasse, rouba e por medo, um
dia matou, para comer. Matou o desgraçado. A corte sabe que sua
cabecinha nem poderia explicar por que matou. Também sabe que o Estado
não cuidou dele, que o jogou na sarjeta. Então o Supremo decide, e em
conivência com o Estado, o encerra, o afasta, o mata no silêncio
asfixiante do cárcere, e se um dia sair da caverna e não se assimila à
neoescravidão, pois, para isso está a lei, cumpra-se! Na prisão ou na
bala.
Não existe manifestação popular de
conjuntura que derrote com certezas o Supremo, porque ele faz parte do
sistema maior que há que destruir. Se os estudos, os números, a ciência,
a economia, o horóscopo, o que for, demonstra que o crime de crianças
nem chega a 1%, não importa. É necessário que Corte, Congresso e
Federação, ocultem midiaticamente seu pecado: há milhares de crianças
sem teto, sem comida, sem educação, sem saúde, enquanto engordamos os
bancos e nos ajoelhamos frente às multinacionais e o Papa.
A história seguirá demonstrando que a
punição por prisão não corrige, não educa, tem um efeito insignificante
nas crianças com menos de 18 anos. E também que nem é o miolo do
assunto. O tema é sacrificar sempre que possível os pobres. Fazer com
que a vida dos pobres seja um tormento, um supremo inferno. Dessa forma,
como a partir de 1492, quando os invasores meteram suas patas na
Espanhola caribenha, as cortes, os legisladores, os pastores e os
supremos, podem seguir justificando os trabalhos forçados, o dizimo e o
exílio social e econômico dos pobres, seus filhos e seus descendentes, per omnia secula seculorum, amem.
I
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