(JB) - O Datafolha acaba de divulgar análise estatística
multivariada sobre a base de dados da última pesquisa nacional de
intenção de voto, com o objetivo de identificar nichos da população
brasileira em que são observadas altas concentrações de eleitores dos
dois principais candidatos à Presidência da República até o momento.
Nenhuma grande surpresa.
Entre garotos brancos escolarizados de até 24 anos – com uma
compreensível ignorância que advêm também da idade e uma enorme
penetração nas redes sociais - Bolsonaro é majoritário.
Quando a idade sobe para mais de 33 anos – a idade de Cristo - o
desempenho do ex-capitão cai e Lula ganha disparado entre os nordestinos
de modo geral e entre mulheres mais velhas negras e de menor renda, que
ainda não usam todos os recursos de seus celulares, mas têm título de
eleitor e não dão bola para as redes sociais.
O eleitor de Bolsonaro é contraditório.
Conservador em itens como segurança e corrupção, defensor –
“bandido bom é bandido morto” - do desempenho violento e genocida da
polícia no combate – custe o que custar – aos crimes da “periferia” –
onde, ironizando, diz que segundo os “direitos dos manos” só moram
“santinhos” – e apoiador - no país em que a polícia mais mata no mundo -
de que se armem os “homens de bem” contra “vagabundos”, ele não é,
paradoxalmente, contra a descriminalização da maconha ou, a priori, do
aborto.
As velhas senhoras de Lula são, poderíamos dizer, mais coerentes.
Elas sabem – sem necessitar conhecer precisamente os números - que o
salário mínimo aumentou de 81 para quase 300 dólares depois que Lula
foi eleito, que a renda per capita saiu de 2.810 dólares em 2002 para
10.183 dólares em 2015, e que a economia cresceu, também segundo o Banco
Mundial, praticamente 5 vezes, de 504 bilhões de dólares em 2002 para
quase 2.4 trilhões de dólares em 2014.
Que o preço do gás – e da gasolina - ficou praticamente sob
controle durante anos e que foram construídas no nordeste mais de um
milhão de cisternas, e, em todo o país, quase 3 milhões de casas
populares.
Lula desistiu de comprar um apartamento que hoje pertence à Caixa Econômica Federal.
Bolsonaro desistiu de receber doação de campanha de uma empresa
investigada por corrupção, e estornou dinheiro ao partido, pegando com o
partido uma quantia do mesmo valor.
Lula é acusado de beneficiar seus parentes.
O irmão de Bolsonaro, que recebia, segundo noticiado pelo SBT, mais
de 17.000 reais como funcionário da ALESP - enquanto administrava uma
rede de lojas de venda de móveis de sua propriedade no interior de São
Paulo – foi demitido quando veio à tona o fato de que ele, apesar de
receber esse montante, não estava comparecendo ao “trabalho”.
Lula é acusado por seus inimigos de dizer que “não sabia de nada”.
Bolsonaro negou ter conhecimento do “emprego” do irmão, dizendo a mesma coisa.
Para a “justissa” da República de Curitiba e os jovens eleitores do
messiânico ex-capitão do Exército, Lula é um bandido condenado e
Bolsonaro – que, assim como Lula, do nosso ponto de vista, não deveria
ser incomodado pela “justissa” nem devido aos erros do irmão nem pelo
financiamento de campanha – é paradigma de honestidade.
O primeiro corre o risco de ser proibido de ser candidato, enquanto
o outro corre o risco de ser eleito presidente da República devido
justamente à descarada, já anunciada, interferência da “justissa” no
processo político e eleitoral brasileiro, impedindo uma disputa direta
por livre manifestação popular e que vá para o Palácio do Planalto
aquele que tiver mais votos.
O estudo do Datafolha esclarece o porquê da diferença e o que está
por trás de Lula estar na frente das pesquisas para a eleição
presidencial do próximo ano.
Quem é maioria entre os procuradores da Operação Lava Jato, com
suas fotos posadas, seus impecáveis penteados – na cabeça só gumex – e
seus armanianos ternos?
Oh! Surpresa!
Na maioria dos casos, jovens brancos, de alta renda,
preconceituosos, conservadores, “escolarizados”, que passaram em
concurso graças a cursinhos pagos pelos pais, ou, em certos casos, por
moverem, com a ajuda deles, ações, ou as senhoras de baixa renda que
compõem, com outros segmentos menos favorecidos, a maioria da população
brasileira?
O que existe por trás da campanha jurídico-midiática contra Lula, em plena marcha no Brasil deste momento?
Sem querer ser simplista ou ignorar outros fatores - no fundo, no fundo - é a mesma e velha luta de classes, senhores.
É o Brasil sendo o Brasil da Senzala e da Casa Grande.
Publicado em 26/12/2017
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