Ribamar Fonseca (jornalista e escritor)
A ação da Justiça destinada a eliminar Lula da vida pública, impedindo-o
de voltar à Presidência da República, não é um ato isolado,
instrumentalizado pelo juiz Sergio Moro, mas parte de um plano muito
mais amplo, concebido nos gabinetes do Departamento de Justiça
norte-americano, abrangendo toda a América Latina e cujos sinais são
vistos, além do Brasil, na Argentina, no Chile, no Peru e na Venezuela.
A eleição de Macri, na Argentina, e de Piñera, no Chile, parte desse
plano, revela claramente a onda direitista que assola a América do Sul e
teve o seu ponto alto no golpe que destituiu a presidenta Dilma
Roussef, mas prossegue com as tentativas para derrubar Maduro, na
Venezuela, e o movimento no Peru para votar o impeachment do seu
presidente, Pedro Pabllo Kuczynski. O golpe do Brasil, no entanto, ainda
não foi concluído, o que só se dará quando o ex-presidente operário for
considerado inelegível e ficar de fora das eleições presidenciais deste
ano, pois esse é o objetivo para o qual foi minuciosamente planejado
após as eleições de 2014.
O golpe, na verdade, foi o plano B dos seus promotores, pois eles
imaginavam vencer aquele pleito com Aécio Neves, o plano A que os
eleitores brasileiros frustraram. O mesmo aconteceria na Argentina se
Macri não tivesse sido eleito, ou seja, lá, em terras portenhas, o plano
A deu certo, mas já enfrenta grandes problemas de sustentação. Aqui no
Brasil a derrubada de Dilma era fundamental para chegar-se ao alvo
principal, Lula, mas desta vez não havia clima para um golpe militar, o
que levou os seus responsáveis a procurar emprestar uma cara de
legalidade ao movimento golpista, usando o impeachment, previsto na
Constituição, com a cumplicidade do vice-presidente , do PMDB, do PSDB,
de parte do Legislativo e do Judiciário, além de empresários e da mídia.
Todos estavam conscientes da inexistência de crime de responsabilidade
que justificasse o afastamento da Presidenta, mas todos deram a sua
contribuição para oferecer um verniz de legalidade à conspiração, de
modo a convencer o resto do mundo, em especial os países que mantém
relações diplomáticas com o Brasil, sobre um suposto acerto da decisão.
A espionagem da presidenta Dilma Roussef e da Petrobrás, pela Agência de
Segurança dos Estados Unidos, cuja descoberta provocou ligeiro
estremecimento nas relações com os americanos, foi de vital importância
para a montagem do plano de assalto ao Palácio do Planalto. Não foi por
acaso, portanto, que a Petrobrás foi o ponto de partida para as
investigações que já estavam programadas para chegar de qualquer maneira
até Lula. Não houve acaso, também, na escolha do juiz Sergio Moro para
comandar a Operação Lava-Jato, considerando suas ligações com os
responsáveis naquele país pelo planejamento do golpe. Ele viaja com
frequência a Washington para, oficialmente, proferir palestras, mas na
verdade sua finalidade seria receber instruções, conforme suspeitam
observadores. A escolha de Pedro Parente para presidir a empresa
estatal, por indicação dos tucanos, igualmente não foi casual. Ele é
tido como um dos brasileiros integrantes da equipe de governo de FHC que
só nasceram no Brasil, mas escolheram os Estados Unidos como sua pátria
de coração. E vem cumprindo fielmente a missão para a qual foi colocado
na Petrobrás: entregar nosso petróleo para as empresas estrangeiras e
promover a privatização da empresa petrolífera nacional, dando sequência
à quebra do monopólio do Petróleo, realizada por FHC, e a abertura do
pré-sal para o capital internacional, projeto de outro tucano, o senador
José Serra.
O pré-sal, na realidade, foi um dos motivos do golpe, diante do
interesse americano em abocanha-lo, pois a principal causa mesmo foi a
aproximação do Brasil, promovida por Lula, com a Russia e a China. A
criação do BRICS foi a gota dágua que disparou o gatilho para a execução
do plano, gerado nas terras do Tio Sam, que destituiu Dilma e pretende
impedir Lula de voltar ao Palácio do Planalto. Os americanos ficaram
preocupados com o afastamento do Brasil da sua esfera de influência e
sua consequente aproximação com os seus principais rivais, pois isso
fatalmente levaria os demais países da América do Sul a trilharem o
mesmo caminho. Então, elaboraram um plano que incluísse, além do Brasil,
também todo o continente americano, de modo a reconduzir as nações
deste continente de volta ao seu aprisco. Conseguiram chegar ao poder
através de eleições na Argentina e no Chile, com Macri e Piñera,
respectivamente, mas não obtiveram êxito na Venezuela, onde partiram
para o golpe armado, frustrado pela mão firme de Nicolas Maduro. Não vai
demorar muito, porém, para que consigam derrubar o presidente do Peru,
utilizando o mesmo método empregado no Brasil, o que só ainda não
aconteceu porque Kuczynski fez um acordo com Fujimori, obtendo maioria
no Parlamento.
A participação dos Estados Unidos no golpe do Brasil e na perseguição a
Lula foi confirmada pelo subprocurador geral daquele país, Kenneth A.
Blanco, que dirigia a Divisão Penal do Departamento de Justiça, durante
palestra em julho passado, sobre o tema "Lições do Brasil: Crise,
corrupção e cooperação global", realizado em evento denominado Diálogo
Interamericano. Na oportunidade, ele deu as boas vindas a seu amigo
Rodrigo Janot, ex-Procurador Geral da República do Brasil e um dos seus
principais colaboradores. A informação foi publicada pelo jornal "El
Clarin", do Chile, acrescentando que Blanco se felicitou pelos
"resultados extraordinários" alcançados graças à colaboração do
Departamento de Justiça com a operação Lava-Jato. "A cooperação entre o
Departamento de Justiça e o Ministério Público brasileiro – disse Blanco
– levou a resultados extraordinários. Só em 2016, por exemplo, o FBI e a
Lava-Jato estiveram cooperando e se coordenaram nas resoluções de
quatro casos ligados à Embraer, Rolls Royce, Braskem e Odebrecht."
Em sua palestra Kenneth A. Blanco afirmou, também, que "é difícil
imaginar, na história recente, uma melhor relação de cooperação do que
esta entre o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e os
procuradores brasileiros. Esta cooperação nos ajudou de forma
substancial com uma série de temas públicos que agora estão resolvidos e
continuamos juntos em uma série de investigações". E acrescentou, em
tom de comemoração, que "os procuradores brasileiros conseguiram um
veredito condenatório contra o ex-presidente Lula da Silva, acusado de
receber subornos da empreiteira OAS em troca de contratos com a
Petrobrás". A agenda norte-americana continua sendo cumprida com a
anunciada venda da Embraer para a Boeing, a entrega da base espacial de
Alcântara e a
transformação
de nossas Forças Armadas em polícia, um velho projeto do Tio Sam para
deixar a segurança do continente com o seu exército. Os traidores da
Pátria, entre eles Temer, FHC, Serra, Parente e Moro, estão concluindo,
como marionetes manipulados de Washington, a tarefa iniciada no governo
tucano: a entrega do Brasil aos Estados Unidos. Será que ainda existe
alguma dúvida sobre a participação dos norte-americanos no golpe que
derrubou Dilma Roussef, colocou Michel Temer no poder e quer impedir
Lula de voltar ao Palácio do Planalto?
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