Meu avô nasceu em Copacabana, em 1916, e morou na mesma casa por muitos anos, enquanto o bairro mudava ao redor.
"O Edgar nasceu num lugar distante", dizia o Millôr, "tempos depois passou a morar num subúrbio, hoje mora no bairro mais denso da cidade, e tudo isso sem mudar de endereço. As coisas é que foram chegando."
Lembrei disso quando vi Lula e Bolsonaro naquela matéria da "Veja": "Os extremos que espantam". Entendo perfeitamente que Bolsonaro seja visto como um extremista, e entendo que ele espante.
O sujeito passa os dias fazendo apologia da tortura e da estatização do nióbio. Quer dizer, nem sempre. Às vezes, faz o contrário: defende a estatização da tortura e faz apologia do nióbio.
O que não entendi foi o Lula ali no meio. Aliás, no meio, não. À esquerda, claro, com o olhar vidrado de quem vai comer seus bebês.
Lula só é de extrema esquerda num país que foi parar na extrema direita. Lula, todos sabemos, tá no extremo centro, e isso não é uma defesa. Queria muito que fosse o candidato disruptivo que a "Veja" acha que ele é —mas nada indica que ele será.
Alguns dirão: "Lula migrou pra esquerda depois do impeachment". Não percebi. Lula, nos últimos meses, não se filiou ao PCO nem foi criar uma creche parental no meio do mato nem saiu por aí quebrando caixa eletrônico.
Ao contrário: nos últimos meses, abraçou Renan Calheiros, defendeu Sérgio Cabral e continuou dando indícios de que vai praticar a realpolitik, que é uma palavra alemã pro nosso toma-lá-dá-cá.
O país é que andou muito pra direita, e a bússola política ficou mais perdida que Uber sem Waze. Você deve ter percebido isso. Se ficou paradinho nos últimos dez anos, é muito provável que tenha se descoberto um sujeito de extrema esquerda.
A prova disso é a Globo, que sem qualquer mudança editorial, passou de emissora imperialista neoliberal a canal comunista bolivariano. Há, inclusive, quem chame esse jornal que você tem em mãos de Foice de S. Paulo.
Hoje, no Brasil, se você acredita em direitos trabalhistas, se você é contra uma condenação sem provas de um candidato à Presidência, se você acha que a ditadura militar no Brasil cometeu excessos, se você ainda acredita que foi uma ditadura, más notícias: você se tornou um extremista.
No subtítulo, a capa da "Veja" defendia a candidatura de figuras "ao centro", como Henrique Meirelles e Luciano Huck. Nosso centro foi parar bem longe.
"O Edgar nasceu num lugar distante", dizia o Millôr, "tempos depois passou a morar num subúrbio, hoje mora no bairro mais denso da cidade, e tudo isso sem mudar de endereço. As coisas é que foram chegando."
Lembrei disso quando vi Lula e Bolsonaro naquela matéria da "Veja": "Os extremos que espantam". Entendo perfeitamente que Bolsonaro seja visto como um extremista, e entendo que ele espante.
O sujeito passa os dias fazendo apologia da tortura e da estatização do nióbio. Quer dizer, nem sempre. Às vezes, faz o contrário: defende a estatização da tortura e faz apologia do nióbio.
O que não entendi foi o Lula ali no meio. Aliás, no meio, não. À esquerda, claro, com o olhar vidrado de quem vai comer seus bebês.
Lula só é de extrema esquerda num país que foi parar na extrema direita. Lula, todos sabemos, tá no extremo centro, e isso não é uma defesa. Queria muito que fosse o candidato disruptivo que a "Veja" acha que ele é —mas nada indica que ele será.
Alguns dirão: "Lula migrou pra esquerda depois do impeachment". Não percebi. Lula, nos últimos meses, não se filiou ao PCO nem foi criar uma creche parental no meio do mato nem saiu por aí quebrando caixa eletrônico.
Ao contrário: nos últimos meses, abraçou Renan Calheiros, defendeu Sérgio Cabral e continuou dando indícios de que vai praticar a realpolitik, que é uma palavra alemã pro nosso toma-lá-dá-cá.
O país é que andou muito pra direita, e a bússola política ficou mais perdida que Uber sem Waze. Você deve ter percebido isso. Se ficou paradinho nos últimos dez anos, é muito provável que tenha se descoberto um sujeito de extrema esquerda.
A prova disso é a Globo, que sem qualquer mudança editorial, passou de emissora imperialista neoliberal a canal comunista bolivariano. Há, inclusive, quem chame esse jornal que você tem em mãos de Foice de S. Paulo.
Hoje, no Brasil, se você acredita em direitos trabalhistas, se você é contra uma condenação sem provas de um candidato à Presidência, se você acha que a ditadura militar no Brasil cometeu excessos, se você ainda acredita que foi uma ditadura, más notícias: você se tornou um extremista.
No subtítulo, a capa da "Veja" defendia a candidatura de figuras "ao centro", como Henrique Meirelles e Luciano Huck. Nosso centro foi parar bem longe.
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