Em sua narrativa da história econômica do Equador,
o presidente Rafael Correa nos oferece, aos brasileiros, um espelho de
nossa trajetória. Com clareza e simplicidade, ele percorre a caminhada
de seu país da colônia aos tempos da independência, enfatizando a
vigência do modelo primário-exportador (no Brasil, o café; no Equador o
cacau e, depois, a banana) sob a hegemonia britânica. Na era americana,
empreendemos a industrialização do pós-guerra. Na “longa e triste noite
neoliberal” da nova globalização financeira e do eterno retorno do mesmo
retrocedemos para a dependência das commodities e para a subordinação
aos ciclos da finança internacional.
A narrativa
de Correa escancara as semelhanças que se escondem nas aparências da
diversidade. A despeito de suas particularidades sociais, culturais e
políticas, os países da América Latina foram submetidos à lógica
autorreferente do capitalismo em seu movimento de incessante
transformação. O autor chama atenção para o jogo das relações entre o
“universalismo” das leis de movimento do capitalismo e as
particularidades das economias nacionais dos países da periferia
latino-americana.
Nos últimos
quarenta anos, o Equador, como o Brasil, padeceu as dores da crise da
dívida externa e, portanto, da transferência real de recursos para os
credores. Esses tormentos foram acompanhados por alta inflação, corrosão
dos rendimentos das classes assalariadas e dependentes e paralisia
industrial.
“As
severas crises fiscais e externas produzidas pela transferência líquida
de recursos ao exterior originaram a aplicação de uma longa série de
programas de estabilização e de ajuste estrutural sob a tutela do Fundo
Monetário Internacional (FMI); entre 1983 e 1989, em apenas sete anos,
os governos equatorianos assinaram cinco ‘cartas de intenção’ com esse
organismo. Esses acordos condicionantes buscavam créditos do FMI, mas
também sua ‘aprovação’ para o acesso a outras fontes de financiamento,
assim como para renegociar a dívida bilateral com os países credores
reunidos no chamado Clube de Paris.”
À crise
externa seguiu-se o paradigma do Consenso de Washington dos anos 1990. O
Equador, como o Brasil, dormiu o sonho da longa e triste noite
neoliberal.
“O
individualismo virou a máxima virtude; a competitividade passou a
determinar o modo de vida das pessoas; e o mercado tornou-se um
onipresente e infalível condutor das sociedades. Qualquer coisa que
tratasse de planificação ou de ação coletiva devia ser simplesmente
descartada.”
A semelhança não é mera coincidência.
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Luiz Gonzaga Belluzzo é professor
de Economia da Unicamp. Atuou como consultor pessoal de economia do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Escreveu com Júlio Sérgio Gomes de
Almeida, Depois da queda: a economia brasileira da dívida aos impasses do real (2002) e é autor da seção sobre política industrial no livro 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma (2013), organizado por Emir Sader.
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