No Brasil, setores afetados pela
Lava Jato respondem por metade da queda do PIB em 2015. Consequências
poderão ainda piorar, com ameaça de quebra de bancos frente a dívidas de
mais de R$ 1 trilhão não pagas
por Marcio Pochmann, para a RBA
ebc/memória

O aperto no gasto público, por meio da adoção de programas de austeridade fiscal, leva a novos tombos nas economias
Sete anos após o seu início, a crise
de dimensão global segue sem solução à vista. A insolvência financeira
originada no mercado imobiliário dos Estados Unidos (subprime loan)
rapidamente se generalizou no mercado financeiro por meio de
derivativos de diversas naturezas, logo denominados créditos podres.
Como a corrente rompe-se no seu elo mais fraco, os clientes ninja (no income, no job, no assets:
sem renda, sem emprego e sem patrimônio) foram identificados como
responsáveis pelo estopim da crise do endividamento (empréstimos
hipotecários, cartões de créditos e de aluguel de automóveis, entre
outras formas). A escalada de falências de empresas financeiras e não
financeiras derrubou as bolsas de valores e se generalizou pelo mundo
entre os anos de 2008 e 2009.
Três anos depois, entre 2011 e 2012, uma segunda onda
da crise de dimensão global iniciada em 2008 colocou como centro vários
países da Europa. O crescimento do endividamento público gerado pela
troca dos créditos podres do setor privado por dinheiro novo não havia
provocado novo crescimento econômico, desviado que foi para continuar
alimentando a ciranda financeira.
Sem aumento da produção, emprego e renda, a
arrecadação fiscal não subiu, impossibilitando reduzir a dívida pública
de solvência dos grandes tubarões do mercado especulativo. O aperto no
gasto público, por meio da adoção de programas de austeridade fiscal,
levou ao novo tombo nas economias.
Desde 2014, a terceira onda da crise de dimensão
global dilacera vários países, entre eles parte do Brics, como Rússia e
Brasil, que apesar de seus problemas internos, sofrem com o regime
capitalista de dominância financeira. Em 2015, a Rússia de Brasil
deverão registrar queda de 3% a 4% do produto, enquanto a China, Índia e
África do Sul deverão crescer bem menos do que em 2007.
Não obstante a ênfase de economistas, jornalistas e
analistas pró-mercado martelarem continuamente que o problema está no
endividamento público, percebe-se que a dívida dos bancos é muito maior
que a dos Estados nacionais. Na Alemanha, a dívida dos bancos em relação
ao PIB foi 4,4 vezes maior que a dívida pública em 2014, enquanto nos
Estados Unidos foi de 3,3 vezes maior e 7,3 vezes no Reino Unido.
Além disso, percebe-se também que as dívidas
bancárias encontram-se parcialmente ramificadas globalmente. Em países
como Alemanha, Estados Unidos e Japão, menos de 10% da dívida bancária
está internacionalizada, diferentemente de França e Bélgica, onde se
aproxima de 20% do total.
O bloqueio atual ao crédito no financiamento
produtivo das economias pelos bancos não resulta simplesmente do patamar
das dívidas públicas, mas do caráter especulativo engendrado pelo
regime de dominância financeira sobre a rota capitalista deste início de
século 21. Reverter essa lógica de funcionamento segue sendo a saída
para o retorno do financiamento saudável das economias (governo,
empresas produtivas e famílias).
No Brasil, a ruptura no padrão de financiamento dos
setores de infraestrutura, energia e construção civil imposta pela
Operação Lava Jato respondeu pela metade da queda do PIB em 2015, cujas
consequências sobre o emprego e renda da população são inegáveis. Para o
ano de 2016, as consequências da Lava Jato poderão ser ainda mais
significativas, com a ameaça de quebra de bancos públicos e privados
frente a dívidas acumuladas em mais de R$ 1 trilhão e não pagas.
Assim, pode estar se avizinhando um novo Proer de
salvaguarda dos bancos, caso não se resolva o impasse estabelecido pela
Operação Lava Jato. A sua incompreensão entre direção de empresa e o
funcionamento da empresa propriamente dita pode forçar não apenas a
quebra da engenharia nacional, trazendo consigo a desnacionalização do
setor e nova crise bancária no Brasil.
Dívida pública e dos estabelecimentos financeiros em 2014 (em % do PIB)
-
RBA
- Fonte: OCDE e FMI
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