A
economia
global estará se acelerando em direção a
um futuro que se
mostra incompatível com a democracia? Nesta palestra
provocadora e instigante,
o economista francês Thomas Piketty oferece um novo contexto
para uma melhor
compreensão de seu livro “O capital no século 21”, bestseller
em 2014
5 de Novembro de
2014 às 16:24
Vídeo:
TED
– Ideas Worth Spreading
Tradução:
Andrea
Mussap. Revisão: Mário Curiki
O economista
francês Thomas Piketty
causou sensação no início de 2014, através de seu livro com uma
fórmula simples
e brutal para explicar a desigualdade econômica: r > g (o que
significa que
o retorno sobre o capital é geralmente maior do que o
crescimento econômico).
Aqui, ele fala com base em um conjunto de dados em massa que o
levou a concluir
que a desigualdade econômica não é nova, mas está ficando pior,
com possíveis
impactos radicais.
Thomas Pikettyé
economista e
professor na Escola de Economia de Paris. Seu livro “O capital
no século
21”, publicado no início deste ano, teve enorme sucesso em todo
o mundo.
Tradução
integral
da conferência de Thomas Piketty:
É muito bom
estar aqui hoje.
Eu tenho
trabalhado na história
da distribuição de renda e riqueza nos últimos 15 anos, e uma
das
lições interessantes que vem dessa evidência histórica de fato é
que,
no longo prazo, há uma tendência de que a taxa de retorno do
capital exceda a taxa de crescimento da economia, e isso tende a
levar a uma alta concentração da riqueza. Não uma concentração
infinita, mas quanto maior a diferença entre r e g, maior o
nível de
desigualdade de riqueza para onde a sociedade tende a convergir.
Portanto, esta é
uma força
fundamental de que falarei hoje, mas deixem-me dizer logo que
esta
não é a única força importante na dinâmica da distribuição de
renda e
riqueza, e há muitas outras forças que desempenham um papel
importante na dinâmica de longo prazo da distribuição de renda e
riqueza.Também há muitos dados que ainda precisam ser
coletados. Hoje
sabemos um pouco mais do que sabíamos, mas ainda é muito
pouco, e
certamente há muitos processos diferentes - econômicos, sociais,
políticos
- que precisam ser mais estudados. Então eu vou focar nesta
força
simples, mas não significa que outras forças importantes não
existam.
A maioria dos
dados que
apresentarei vem dessa base de dados disponível online: a Base
de Dados das Maiores Rendas. Esta é a maior base
histórica existente
sobre a desigualdade, e ela vem do esforço de mais de 30
estudiosos
de várias dezenas de países. Deixem-me mostrar-lhes alguns
fatos desse banco de dados, e depois retornaremos ao r maior do
que
g.
O fato número um
é que tem
havido uma grande inversão na ordem da desigualdade de
renda entre os
Estados Unidos e a Europa ao longo do século passado. Em 1900,
1910,
a desigualdade de renda era realmente bem maior na Europa do que
nos
Estados Unidos, enquanto hoje, é muito maior nos Estados
Unidos. Então, deixe-me ser muito claro: A principal explicação
para
isso não é r maior do que g. Tem mais a ver com a mudança de
oferta e
demanda por competências, a corrida entre a educação e
tecnologia, globalização, provavelmente um acesso mais
desigual ao
aprendizado nos EUA, onde você tem ótimas universidades mas onde
a
base do sistema de ensino não é tão boa, uma grande desigualdade
no
acesso às competências e também um aumento sem precedentes do
salário
de gerentes nos Estados Unidos, que é difícil de explicar apenas
com base
na educação. Tem mais coisa acontecendo aqui, mas não falarei
muito
sobre isso hoje porque quero focar a desigualdade de riqueza.
Deixem-me
mostrar-lhes um
indicador muito simples sobre a parte da desigualdade de
renda. Esta
é a parte do rendimento total indo para os 10% no topo. Vocês
podem
ver que um século atrás estava entre 45 e 50% na Europa e um
pouco
acima de 40% nos EUA, então havia mais desigualdade na Europa.
Então houve
uma queda acentuada durante a primeira metade do século 20, e na
última década, vocês podem ver que nos EUA ficou mais desigual
do que a
Europa, e este é o primeiro fato que acabo de falar. O segundo é
mais
sobre a desigualdade de riqueza, e aqui o fato central é que a
desigualdade de riqueza é sempre muito maior do que a
desigualdade de
renda, e também que a desigualdade de riqueza, embora também
tenha
aumentado nas últimas décadas, ainda é menos radical hoje do que
era
há um século, embora a quantidade total de riqueza em relação à
renda
se recuperou dos grandes choques da Primeira Guerra Mundial, da
Grande Depressão, da Segunda Guerra Mundial.
Então, deixem-me
mostrar-lhes
dois gráficos que ilustram os fatos número dois e
três. Primeiro, se
olharem o nível de desigualdade de riqueza, esta é a parcela da
riqueza
total indo para os 10% maiores detentores da riqueza, dá para
ver o mesmo
tipo de inversão entre os EUA e a Europa, que tínhamos antes de
desigualdade de renda. A concentração de riqueza era maior na
Europa
do que nos EUA há um século, e agora é o oposto. Mas também dá
para
ver duas coisas: Primeiro, o nível geral de desigualdade de
riqueza é
sempre maior que a desigualdade de renda. Então lembrem-se, para
a
desigualdade de renda, a parcela que ia para os 10% no topo era
entre
30 e 50% da renda total,enquanto que para a riqueza, a
participação é
sempre entre 60 e 90%. Esse é o fato número um, e é muito
importante para o que segue. Concentração de riqueza é
sempre bem
maior do que concentração de renda.
Fato número dois
é que o
aumento da desigualdade de riqueza nas últimas décadas ainda não
é
suficiente para nos levar de volta a 1910. Assim, a grande
diferença
hoje, a desigualdade de riqueza ainda é grande, com 60, 70% da
riqueza total para os 10 mais ricos, mas a boa notícia é que
isso é melhor
do que um século atrás, onde você tinha 90% na Europa indo para
os 10 mais
ricos. Então, hoje o que temos é o que eu chamo de meio
40%, pessoas que não estão dentre os 10 mais e nem entre os 50
menos
ricos, e o que vocês podem ver como classe média rica, que
possui de
20 a 30% da riqueza total, riqueza nacional, considerando que
costumavam
ser pobres há um século, quando basicamente não havia classe
média
rica. Esta é uma mudança importante e é interessante ver que a
desigualdade de riqueza não se recuperou totalmente dos níveis
anteriores
à Primeira Guerra Mundial, embora a quantidade total de riqueza
foi
recuperada. Portanto, este é o valor total da riqueza em relação
à
renda, e veja que particularmente na Europa estamos quase de
volta ao
nível de antes da Primeira Guerra Mundial. Portanto, há
realmente
duas partes diferentes da história aqui. Uma tem a ver com a
quantidade total de riquezas que acumulamos, e não há nada de
mau com
isso, em acumular muita riqueza e particularmente, se é mais
difusa e menos concentrada. O que nós realmente queremos focar é
na evolução da desigualdade de riqueza, e o que vai acontecer no
futuro. Como podemos explicar o fato de que até a Primeira
Guerra
Mundial, a desigualdade de riqueza era tão alta e, se algo
estava subindo
a níveis tão elevados, como podemos pensar no futuro?
Deixem-me trazer
algumas das
explicações e especulações sobre o futuro. Primeiro deixem-me
dizer
que acho que o melhor modelo para explicar por que a riqueza é
muito mais concentrada do que a renda é um modelo dinâmico,
dinástico onde os indivíduos têm um longo horizonte e acumulam
riqueza por várias razões. Se as pessoas estivessem acumulando
riqueza apenas por razões de ciclo de vida, sabe, para poderem
usufruir quando estivessem velhas, o nível de desigualdade de
riqueza estaria mais ou menos alinhado com o nível de
desigualdade de
renda. Mas será muito difícil de explicar porque se tem bem mais
desigualdade de riqueza do que desigualdade de renda pelo modelo
de
ciclo de vida então você precisa de uma história onde as pessoas
também se preocupam em acumular riqueza por outros
motivos. Normalmente,
eles querem passar a riqueza para a próxima geração, para seus
filhos, ou às vezes querem acumular riqueza por causa do
prestígio,
do poder que vem com a ela. Deve haver outras razões para o
acúmulo,
além do ciclo de vida, para explicar o que vemos nos dados. Em
uma grande
classe de modelos dinâmicos de acúmulo de riqueza com tal motivo
dinástico para a acumulação de riqueza, teremos todos os tipos
de
choques aleatórios e multiplicativos. Por exemplo, algumas
famílias
têm muitos filhos, de modo que a riqueza será dividida. Algumas
famílias têm menos filhos. Também há choques de taxas de
retorno. Certas famílias têm grandes ganhos de capital. Algumas
fizeram investimentos ruins. Assim, sempre haverá alguma
mobilidade no processo de riqueza. Algumas pessoas subirão,
outras
descerão. O ponto importante é que em tal modelo, para uma
determinada variação de tais choques, o equilíbrio da
desigualdade de
riqueza será uma função vertiginosamente crescente de r menos
g. E
intuitivamente, a razão pela qual a diferença entre a taxa de
retorno da
riqueza e a taxa crescimento é importante, é que as
desigualdades de
riqueza iniciais serão ampliadas em um ritmo mais rápido com um
maior
r menos g. Tome um exemplo simples, com r igual a 5% e g igual a
1%, os
donos de riqueza só precisam reinvestir um quinto do seu
rendimento de
capital para garantir que a sua riqueza suba tão rápido quanto o
tamanho da economia. Isso torna mais fácil construir e manter
grandes
fortunas porque você pode consumir quatro quintos, assumindo
imposto
zero e você pode reinvestir um quinto. É claro que algumas
famílias
consumirão mais que isso, outras menos, por isso haverá alguma
mobilidade na distribuição, mas em média, eles só precisam
reinvestir um
quinto, e isso sustenta a alta desigualdade de riqueza.
Vocês não devem
se
surpreender com a afirmação de que r pode ser maior do que g
para
sempre, pois foi isso o que aconteceu na maior parte da história
da
humanidade. E isso foi muito evidente para todos pelo fato de
que o
crescimento estava perto de 0% na maior parte da história
humana. O crescimento era talvez 0,1; 0,2; 0,3%, mas o
crescimento da
população e da produção per capita era lento, enquanto a taxa de
retorno do capital é claro, não era 0%. Era para bens de terra,
que
eram a forma tradicional de ativos nas sociedades
pré-industriais, era tipicamente 5%. Qualquer leitor de Jane
Austen
sabe disso. Se você quiser uma renda anual de mil libras, você
deve
ter um valor de capital de 20 mil libras, de modo que 5% de 20
mil é
mil. E de certa forma, este era o próprio fundamento da
sociedade, porque r maior do que g foi o que permitiu detentores
de
riqueza e de ativos viverem as custas de seus rendimentos de
capital e fazerem outra coisa na vida além de apenas se
preocuparem
com a sobrevivência.
Agora, uma
conclusão
importante da minha pesquisa histórica é que o crescimento
industrial
moderno não alterou este fato básico, tanto quanto se poderia
esperar. É claro que a taxa de crescimento após a Revolução
Industrial aumentou, tipicamente entre zero e 1 a 2%, mas ao
mesmo
tempo, a taxa de retorno do capital também cresceu de modo que a
diferença entre os dois realmente não mudou.Durante o século
20 houve
uma combinação única de eventos. Primeiro, uma taxa de retorno
muito
baixa devido aos choques das guerras de 1914 e 1945, destruição
da
riqueza, inflação, falência durante a Grande Depressão, e tudo
isso
reduziu a taxa de retorno privada de riqueza para níveis
anormalmente
baixos entre 1914 e 1945. E depois, no período pós-guerra, houve
um elevada taxa de crescimento incomum em parte devido à
reconstrução. Na Alemanha, França, Japão, a taxa de crescimento
era
de 5% entre 1950 e 1980 largamente devido à reconstrução, e
também ao grande crescimento demográfico, o efeito do grupo Baby
Boom.
Aparentemente,
isso não
vai durar por muito tempo, ao menos o crescimento
populacional deve
diminuir no futuro, e as melhores projeções que temos é que o
crescimento a longo prazo será próximo a 1 ou 2% em vez de 4 ou
5%. Então, se você for ver, estas são as melhores estimativas
que
temos de crescimento do PIB mundial e da taxa de retorno de
capital, taxas médias de retorno sobre o capital, dá para ver na
maior parte da história da humanidade, que a taxa de crescimento
era
baixa, bem menor do que a taxa de retorno, e então, durante o
século
20, dá-se o real crescimento da população, muito elevado no
período
pós-guerra e o processo de reconstrução que trouxe crescimento a
uma lacuna menor com a taxa de retorno.
Aqui eu uso as
projeções de
população das Nações Unidas, então é claro que eles são
incertos. Talvez no futuro, todos nós começaremos a ter um monte
de
filhos, e as taxas de crescimento serão maiores, mas por
enquanto essas são as melhores projeções que temos, e isso fará
o
crescimento global cair e a lacuna entre a taxa de retorno
subir.
Outro evento
incomum durante o século 20 foi, como eu disse, a destruição, a
tributação do capital, então essa é a taxa de retorno
pré-impostos. Essa é
a taxa de retorno pós-impostos, e pós destruição, e isto é o que
deixou a taxa média de retorno pós impostos, pós
destruição, abaixo da taxa de crescimento por um longo
tempo. Mas sem
a destruição, sem a tributação, isso não teria acontecido.Então
deixem-me
dizer que o equilíbrio entre o retorno sobre o capital e o
crescimento depende
de muitos fatores diferentes que são muito difíceis de
prever: tecnologia e desenvolvimento de técnicas de capital
intensivo. Neste momento, a maioria dos setores de capital
intensivo na economia são o imobiliário, habitação, o setor de
energia,
mas poderia ser num futuro em que temos muito mais robôs em
vários
setores e esta seria uma fatia maior do total do capital social
que é
hoje. Bem, estamos muito longe disso e no momento, o que está
acontecendo no setor imobiliário, no de energia, é mais
importante
para o capital social e o capital de ações.
A outra questão
importante são os efeitos de escala na gestão de carteiras em
conjunto com a complexidade e desregulamentação financeira, que
facilitam obter maiores taxas de retorno de um portfólio
grande, e
isso parece ser particularmente forte para bilionários, com
grandes
capitais. Só para dar um exemplo, este é dos rankings dos
bilionários
da Forbes entre 1987-2013, e dá para ver que os maiores
detentores de
riqueza foram subindo em seis, sete por cento ao ano em termos
reais,
acima da inflação, ao passo que a renda média no mundo, a
riqueza
média no mundo, só aumentou 2% ao ano. E vocês veem o mesmo nas
grandes universidades quanto maior sua posse inicial maior a
taxa de
retorno.
O que poderia
ser
feito? Primeiro, eu acho que nós precisamos de mais
transparência
financeira.Sabemos muito pouco sobre a dinâmica de riqueza
global, então
precisamos de cessão internacional das informações
bancárias. Precisamos
de um registro global de ativos financeiros, maior coordenação
na tributação
de riqueza, e até mesmo tarifar a fortuna com uma pequena
taxa será
uma forma de produzir informação para então, adaptarmos nossas
políticas para o que quer que observemos. E, até certo ponto, a
luta contra os paraísos fiscais e a cessão automática de
informações nos empurra nessa direção. Há outras formas de
redistribuir a riqueza, que pode ser tentador usar. Inflação: é
mais fácil imprimir dinheiro a escrever um código tributário, é
tentador, mas você pode não saber o que fazer com o
dinheiro. Isso é
um problema. Expropriação é muito tentador. Se algumas pessoas
ficaram muito ricas você as expropria. Esse não é um modo muito
eficiente de organizar a regulação da dinâmica de riqueza.A
guerra é uma
forma ainda menos eficiente, por isso eu prefiro a tributação
progressiva, mas é claro, a história - (Risos) - inventará suas
melhores formas, e provavelmente envolverá uma combinação de
todos
estes.
Obrigado.
Thomas Piketty:
Obrigado.
Bruno Giussani:
Thomas, quero
te fazer umas perguntas, porque é impressionante como você
domina seus
dados, é claro, mas, basicamente, o que você sugere é que o
crescente
acúmulo de riqueza é uma tendência natural do capitalismo, e se
deixarmos isso à própria sorte pode ameaçar o sistema em
si. Então
você diz que precisamos agir para implementar políticas de
redistribuição
de riqueza, incluindo as que acabamos de ver: tributação
progressiva,
etc. No contexto político atual, quão realista isso é? Qual você
acha que é a probabilidade de elas serem implementadas?
Thomas Piketty:
Eu acho, se
você olhar para o passado, a história da renda, riqueza e
tributação é cheia de surpresas. Então, eu não estou
terrivelmente
impressionado com quem sabe com antecedência o que vai ou não
acontecer. Eu acho que há um século, muitas pessoas diriam que a
tributação progressiva nunca aconteceria e então aconteceu. E
mesmo
há cinco anos, muitos diriam que o sigilo bancário estaria
conosco para
sempre, na Suíça, que a Suíça era muito poderosa para o resto do
mundo, e então, de repente, bastou algumas sanções dos
EUA contra os
bancos suíços para que a mudança acontecesse, e estamos indo em
direção
a uma maior transparência financeira. Então eu acho que não é
tão
difícil coordenar melhor politicamente. Nós teremos um
acordo com
a metade do PIB mundial ao redor da mesa, com os EUA e a União
Europeia, se metade do PIB mundial não é suficiente para fazer
progressos na transparência financeira e na taxa mínima sobre os
lucros de
empresas multinacionais, o que será preciso? Eu acho que essas
não
são dificuldades técnicas. Acho que podemos progredir se
tivermos uma
abordagem mais pragmática a essas perguntas e se tivermos as
sanções
adequadas sobre os que se beneficiam da opacidade financeira.
BG: Um dos
argumentos contra o seu ponto de vista é que a desigualdade
econômica não
é apenas uma característica do capitalismo, mas um de seus
motores. Então,
tomamos medidas para reduzir a desigualdade e também reduzimos
potencialmente o crescimento. O que você responde a isso?
TP: Sim, eu acho
que a
desigualdade não é um problema por si só. Eu acho que a
desigualdade
até certo ponto pode ser realmente útil à inovação e o
crescimento. O
problema é que é uma questão de grau. Quando a desigualdade fica
muito
extrema, ela se torna inútil ao crescimento e pode até virar
algo
ruim pois tende a levar a uma alta perpetuação da desigualdade
ao
longo do tempo e à baixa mobilidade. E, por exemplo, o tipo de
concentração de riqueza que tivemos no século 19 e praticamente
até a
Primeira Guerra Mundial em todos os países europeus foi, penso
eu,
inútil ao crescimento. Ela foi destruída por uma combinação de
acontecimentos trágicos e mudanças políticas, e isso não impediu
o
crescimento de acontecer. E também, a extrema desigualdade pode
ser
ruim para as nossas instituições democráticas se cria um acesso
muito
desigual à voz política, e a influência do dinheiro privado na
política dos EUA, eu acho, é um motivo de preocupação no
momento. Por
isso, não queremos voltar a esse tipo de extremo, à desigualdade
anterior
à Primeira Guerra Mundial. Ter uma parte decente da riqueza
nacional para a classe média não é ruim para o crescimento. Na
verdade, é útil tanto por equidade quanto eficiência.
BG: Eu disse no
início que
seu livro foi criticado. Seus dados foram criticados. Algumas de
suas
escolhas de dados foram criticadas. Você foi acusado de escolher
certos
dados para construir seu estudo. O que você responde a isso?
TP: Bem, eu
estou muito
feliz por este livro estimular o debate. Isso é parte de seu
objetivo. A razão pela qual eu coloquei todos os dados
online com
todo o cálculo detalhado é para que possamos ter um
debate aberto e
transparente sobre isso. Eu respondi ponto a ponto a cada
preocupação. Deixe-me dizer que se eu fosse reescrever o livro
hoje, eu realmente concluiria que o aumento da desigualdade de
riqueza, particularmente nos Estados Unidos, é de fato maior do
que
eu relato no livro. Há um estudo recente do Saez e do
Zucman mostrando, com os novos dados que eu não tinha na época
do
livro, que a concentração de riqueza nos EUA aumentou ainda mais
do
que eu relato. E haverá outros dados no futuro. Alguns irão em
direções diferentes. Quase toda semana nós disponibilizamos
on-line dados atuais na Base de Dados das Maiores Rendas
Mundiais, e
continuaremos fazendo isso no futuro, em particular nos países
emergentes, e dou boas-vindas a todos que queiram contribuir com
esse
processo de coleta de dados. Na verdade, eu certamente concordo
que não há transparência suficiente sobre a dinâmica de
riqueza, e uma boa forma de ter dados melhores seria tributar a
riqueza primeiro com uma taxa pequena, de modo que todos
possamos
concordar sobre esta importante evolução e adaptar nossas
políticas
ao que quer que observemos. A tributação é uma fonte de
conhecimento, isso é o que mais precisamos agora.
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