*José Álvaro de Lima Cardoso
Em
decorrência da renitência da crise na Europa (que vai pelo sexto ano seguido),
e do risco sempre presente da mesma se agravar, vale a pena examinar as
condições de o Brasil enfrentar uma piora do cenário econômico mundial. A relação dívida
pública/PIB, por exemplo, que é indicador fundamental de saúde financeira de um
país, encontra-se estabilizada na faixa dos 35% (era de quase 60% há pouco mais
de uma década). Além disso, as reservas internacionais estão em torno dos US$
380 bilhões, o maior volume da história do país. Ter uma inflação sob controle,
que fica dentro da meta (ainda que no limite superior) pelo 11º ano seguido,
também é fundamental. O Brasil dispõe também de estoques de petróleo e gás que
estão avaliados em cerca de R$ 5 trilhões, assim como abundância de água e
alternativas energéticas variadas como nenhum outro país do mundo.
No entanto, a arma mais potente para o
enfrentamento da crise é o crescimento contínuo da renda das famílias nos
últimos dez anos e a constituição de um
dos maiores mercados de massa do planeta. A massa salarial continua
crescendo (apesar do baixo crescimento do PIB) e o país atingiu a menor taxa de
desemprego verificada na história do país (segundo o IBGE, 4,7% em outubro, o
menor percentual para o mês na série histórica).Temos também o BNDES, que tem
sido colocado a serviço do desenvolvimento e da manutenção do crédito desde a
eclosão da crise econômica internacional em 2008. Os desembolsos do Banco (que
chegaram a R$ 190,4 bilhões em 2013) são fundamentais na sustentação da demanda
agregada e na diminuição dos impactos da crise sobre o Brasil.
Importante também é o processo de
maturação dos investimentos feitos nos últimos anos, que deve significar a
abertura de um novo ciclo de crescimento no país. Em 2015 serão inauguradas
algumas grandes obras como: transposição do Rio São Francisco, Hidrelétricas de
Belo Monte (a terceira maior do mundo, no Pará), de Jirau (Rondônia) e de Santo
Antônio (Rondônia); expansão e construção de pelo menos 6 metrôs que estão em
obras; inauguração de pontes, como a de Laguna (SC) e a segunda Ponte do Guaíba
(RS); ampliação e modernização dos maiores aeroportos do país; novas
plataformas de petróleo. Teremos ainda a inauguração da Refinaria Abreu e Lima,
que será a mais moderna do país (primeira refinaria de petróleo inteiramente
construída com tecnologia nacional). Além disso, a Petrobrás que nos últimos
anos fez muitos investimentos para se preparar para o pré-sal, volta a se
capitalizar a partir de 2016 e as extrações de Petróleo quadruplicam nos
próximos três anos. Entre 2015 e 2017, serão investidos nada menos que R$ 300
bilhões nos projetos de infraestrutura. As Olímpiadas de 2016, por sua vez, um
megaevento que tende a ser 6 vezes maior do que a Copa do Mundo devem trazer um
fôlego a mais para a economia.
Nada disso elimina os desafios que o país
terá que enfrentar, que são imensos. O Brasil precisa, por exemplo, retomar o
crescimento com urgência. A inédita geração de empregos no
país e a redução da pobreza são conquistas que já foram metabolizadas pela
sociedade brasileira. As gerações que ingressam agora no mercado de trabalho já
vêm a baixa taxa de desemprego como constituindo parte da “paisagem econômica”
do Brasil (desde o descobrimento) e não como uma conquista dura e recente, forma como
os da minha geração enxergam.
*Economista
e supervisor técnico do DIEESE.
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