quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O ESCURO DESERTO DA NOSSA INDIFERENÇA


 (Repassando texto da Thaianna Cardoso)
Extração do carvão passa por cima de bens difusos, direitos humanos e comunidade local
Se você é Catarinense e só ouviu falar dos problemas que o carvão no Estado ocasiona, recomendo que faça uma visita aos depósitos de rejeitos espalhados por toda a região da Bacia do Rio Araranguá. Se não bastassem as alterações de relevo, paisagem e ecossistema proporcionadas pela retirada e queima do carvão no ambiente, temos as conseqüências relacionadas ao resíduo desta atividade. Aos que nunca pararam para pensar nesse passivo ambiental e social, tenho que dizer que a natureza é imparcial nesta contabilização, e o que vem acontecendo em Santa Catarina é uma verdadeira tragédia ecológica silenciada.
Silenciada, pela resistência dessa fonte energética obsoleta, absolutamente “caquética”, que faz com que no desenvolvido Sul do Brasil ainda seja possível presenciar, um dos mais insalubres trabalhos registrados: a mineração do carvão, e também doenças como a pneumonoconiose (pulmão negro), chuvas ácidas, entre outras problemáticas tão obsoletas quanto o uso do péssimo e caro carvão energético catarinense.
Sob a perspectiva atual das mudanças climáticas, é ultrajante que as comunidades afetadas pelo primeiro furacão do Atlântico Sul, o Catarina, tenham ainda que conviver com os símbolos da intensificação desse fenômeno. Os depósitos de resíduos da mineração, desertos negros, são responsáveis por significativas alterações em microclimas, além da evidente conseqüência da inserção na atmosfera do carbono estocado. Afinal, a Biosfera não é uma só? Então não precisamos ir tão longe, enfatizar a culpa dos países que não possuem políticas ambientais, sendo que o vilão do aquecimento global também mora aqui do lado.
Por fim, não menos importante, é categórica a relação de indiferença mantida em relação aos recursos hídricos nessas áreas. Rios visivelmente contaminados, alaranjados intensos, pH extremamente ácidos. Em conseqüência disso e da impossibilidade de utilização da água subterrânea, o estado teve que construir uma grande represa para abastecer a maior parte da região. Artifícios sendo constantemente criados para não encarar o problema de frente, enquanto nada é feito.
E o que eu e você temos com isso? Simples, a água e a biodiversidade que lutam para sobreviver à hostilidade do ambiente no sul do Estado são bens comuns a todos, o que significa que não podemos nos manter na passividade da indiferença! Como Catarinense, eu acredito na força dos movimentos que impedem que tragédias como essa continuem a acontecer em nosso território. Com propriedade de quem esteve lá, afirmo que somente conhecendo aquela realidade chocante é possível despertarmos o amor, a solidariedade, e a cooperação necessários para que avancemos a “nenhum futuro no carvão”, em uma lógica do melhor para todos e não apenas para poucos.
Florianópolis, 13 de novembro de 2011. Thaianna Cardoso - Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental – UFSC / Grupo de Pesquisa Transdisciplinar em Governança da Água e do Território – GTHidr

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