quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mesmo sem saber, consumidor usa 'nuvem' em casa


Por Bruna Cortez | De São Paulo


Divulgação / DivulgaçãoPriscyla Alves, da Microsoft: entre 10% e 15% dos 60 milhões de usuários do Hotmail já usam o serviço Skydrive

Se você não sabe direito o que é a computação em nuvem, não precisa se sentir um neandertal. O assunto é um dos mais comentados nos departamentos de tecnologia das grandes empresas, mas fora desse clube pouca gente consegue definir com clareza do que se trata. O curioso é que, mesmo sem dominar o conceito, boa parte das pessoas - principalmente os jovens - já é usuária da nuvem em suas casas, sem saber disso.
A computação em nuvem é o modelo pelo qual os softwares ficam armazenados em um centro de dados e são acessados via internet, sem a necessidade de que sejam instalados no computador do usuário. Por suas características, que incluem redução de custo e facilidade de administração de redes complexas, a nuvem ganhou espaço inicialmente entre as empresas. Mas o consumidor comum também está testando o modelo com interesse crescente.
São exemplos dessa nuvem pessoal serviços populares como Google Docs, Skydrive, Dropbox, Flickr e iCloud. Há diferenças entre eles, mas a ideia central é armazenar fotos, vídeos, músicas e documentos em uma espécie de cofre virtual, que pode ser acessado de vários tipos de equipamento, incluindo computadores, tablets e smartphones.
Movimento desperta a atenção de gigantes como Microsoft e Google, e estimula surgimento de novatas
Uma das principais vantagens da nuvem é a possibilidade de as pessoas cooperarem entre si, seja para visualizar as fotos das férias dos amigos ou escrever a muitas mãos um trabalho escolar.
O estudante universitário Felipe Dick, de 23 anos, viu sua rotina acadêmica na Universidade de São Paulo (USP) mudar radicalmente depois de adotar a nuvem. Membro da secretaria acadêmica da Faculdade de Engenharia Mecânica da USP em São Carlos, ele tinha de trocar e-mails constantemente com outros alunos para organizar eventos e diversas atividades. Os arquivos eram pesados, com anexos repletos de textos, listas e planilhas. E a cada vez que alguém alterava alguma coisa, um novo e-mail tinha de ser enviado.
A confusão acabou em 2008, quando o grupo decidiu adotar o Google Docs, um serviço na nuvem no qual um documento armazenado por uma pessoa pode ser visto e alterado por todos os demais, desde que sejam autorizados a fazer isso.
A disseminação da nuvem para uso pessoal é, em parte, reflexo da nova rotina de trabalho estabelecida por muitas empresas. Acabou o tempo em que o funcionário só trabalhava dentro do escritório e em horário predeterminado. "As pessoas querem começar a mexer em uma planilha no escritório e poder terminar esse trabalho no computador de casa", afirma Izabelle Macedo, gerente de marketing de empresas do Google na América Latina. O trabalho em grupo é outro elemento de atração - em vez de esperar para ver as alterações feitas pelos colegas em um relatório, por exemplo, as pessoas querem fazer mudanças simultaneamente, e a nuvem permite isso.


A nuvem pessoal não é um fenômeno recente. O conceito do webmail - de acessar e-mail de qualquer lugar - é um exemplo de serviço na nuvem que faz parte do dia a dia dos profissionais há algum tempo. A novidade é que o interesse das pessoas em usar esses serviços de armazenagem está se multiplicando rapidamente, para várias áreas, principalmente música, fotos e vídeos. O Brasil é o terceiro país do mundo em número de usuários do Flickr, o serviço de armazenagem e compartilhamento de fotos do Yahoo. O país fica atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido, segundo dados da companhia, e reúne 5,4 milhões de usuários únicos.
Com tanta gente interessada, é natural que as grandes companhias de tecnologia e internet estejam investindo no modelo, sob a perspectiva de atrair consumidores e ganhar dinheiro, seja na forma da publicidade on-line ou na de serviços pagos.
Na maioria dos casos, as companhias oferecem uma capacidade de memória gratuita e estimulam os usuários a pagar uma assinatura para obter espaço extra. Uma das estratégias é cruzar serviços diferentes, fazendo com que a popularidade de um deles sirva de trampolim para outro. O Skydrive, da Microsoft, permite armazenar qualquer tipo de arquivo eletrônico, mas só pode ser usado por quem tem conta no Hotmail, também controlado pela empresa. Segundo Priscyla Alves, gerente-geral de Windows da Microsoft Brasil, o Hotmail tem 60 milhões de usuários cadastrados no país e, desse total, entre 10% e 15% já usam o Skydrive. Apesar de ser um percentual relativamente baixo, as taxas de uso vem crescendo rapidamente, de acordo com a companhia.
Ainda é difícil medir quanto os serviços de compartilhamento representam na receita das grandes companhias de tecnologia, mas nenhuma delas pode se dar ao luxo de ignorar a tendência. No mercado de softwares empresariais, a briga é acirrada e envolve gigantes como Oracle, SAP e IBM, entre outras. No universo da nuvem pessoal, os valores envolvidos podem ser menores, mas as companhias estão atentas a um fenômeno recente - cada vez mais pessoas usam seus notebooks, tablets e telefones pessoais para fins profissionais ou vice-versa. Isso acontece também com os softwares via web. Se um usuário se acostuma a usar um determinado programa em casa, isso pode facilitar sua adoção no escritório.
Com o Google Docs, um pacote que inclui editor de texto e planilha eletrônica, entre outros produtos, o Google atacou um ponto vital para a Microsoft, que domina esse setor com o pacote Office (Word, Excel, PowerPoint etc.). Mais recentemente, a Microsoft respondeu com o Office Web Apps, a versão on-line gratuita dos programas do pacote Office que funciona dentro do Skydrive.
Mas se para as gigantes de tecnologia a nuvem pessoal é apenas parte do negócio, para companhias recentes e bem menores, o modelo é sua própria razão de existência. O Dropbox, por exemplo, foi criado em 2007 e, desde então, conquistou mais de 45 milhões de usuários em 175 países. O serviço da empresa é elogiado por causa da facilidade com que o usuário pode sincronizar os arquivos, mantendo-os sempre atualizados na nuvem. Os investidores também gostaram da ideia: a empresa recebeu recentemente um aporte de US$ 250 milhões e seu valor de mercado é de aproximadamente US$ 4 bilhões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário