quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cenário externo e demanda doméstica ditam ritmo de corte do juro

Por Mônica Izaguirre, Murilo Rodrigues Alves e Camila Dias | Valor

Atualizado às 12h05
BRASÍLIA - A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) evidencia que o Banco Central continua pessimista em relação ao cenário internacional. Na essência, foi isso que justificou o terceiro corte seguido da taxa básica de juros, na semana passada. Mas os ajustes seguirão moderados uma vez que a demanda interna segue "robusta" e a inflação doméstica ainda não está no centro da meta de 4,5%.
"O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012", destacou o colegiado do BC, repetindo comentário que já constava da ata anterior.
Os riscos para a estabilidade financeira global aumentaram em função da exposição de bancos internacionais às dívidas soberanas de países com desequilíbrios fiscais, em especial da zona do euro. Isso contribuiu para a continuidade da deterioração do cenário externo, levando à redução da projeção de crescimento das principais economias e algumas emergentes. "Em casos específicos, aumentou a probabilidade de haver recessão", diz a ata.
Pela terceira ata consecutiva, o Copom cita que a piora do cenário internacional deve causar sobre a economia brasileira impacto equivalente a um quarto do observado durante a crise de 2008/2009. O texto informa que a hipótese foi construída a partir de modelo que identifica de modo mais abrangente os mecanismos de transmissão da crise internacional para a doméstica. Desde agosto, o cenário resultante desse modelo foi adotado como cenário central, embora inicialmente tenha sido chamado de alternativo.
Também foi mantida a suposição de que a atual deterioração do cenário internacional seja mais duradoura do que a verificada em 2008/2009, porém, menos aguda, sem observância de eventos extremos. Nesse cenário central, repete a ata, ocorre moderação da atividade econômica brasileira, o que permitiu a redução da Selic.
O Copom reitera que os cortes da taxa promovidos em agosto e outubro, de 0,5 ponto percentual cada, ainda serão sentidos na demanda doméstica, "porque [os efeitos da política monetária] são defasados e cumulativos".
No cenário central do BC, a perspectiva segue de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) "em torno" do centro da meta já em 2012.
A ata destaca que as projeções do Copom pelos cenários de referência e de mercado para a inflação em 2011 ficaram maiores na reunião da semana passada em relação ao encontro de outubro. Mas, para 2012, nos dois cenários há uma redução da estimativa de inflação pelo IPCA.
O comportamento dos preços administrados vai contribuir para a inflação menor em 2012. O colegiado reduziu de 4,5% para 4% a estimativa de inflação por esse grupo no ano que vem e projeta em 4,5% para 2013, pelo cenário de referência. Todas as projeções da ata já consideraram a nova ponderação do IPCA, que valerá a partir de janeiro.
Atividade doméstica
Segundo o documento, as perspectivas para a atividade econômica ainda seguem favoráveis, embora já se observe uma moderação da expansão da demanda doméstica. Favorecem essas previsões o aumento da oferta de crédito - que deve seguir, ainda que em ritmo mais lento -, níveis elevados de confiança dos consumidores e o vigor de mercado de trabalho, além de transferências públicas.
A demanda interna arrefeceu, segundo o Copom, entre outros fatores, por uma política fiscal de geração de superávits primários ao redor de 3,15% do Produto Interno Bruto (PIB). "Também se apresenta como importante fator de contenção da demanda agregada a substancial deterioração do cenário internacional. Esses elementos e os desenvolvimentos no âmbito parafiscal são parte importante do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas", diz a ata.
O Copom repete que a inflação forte no início do ano foi influenciada por choques de oferta doméstica e internacional, além dos reajustes de preços administrados. Diz que os preços das commodities, que foram chave para o aumento da inflação, recuaram nos mercados internacionais, da mesma forma que o nível de utilização da capacidade instalada, o que ajuda a conter as pressões de preços.
(Mônica Izaguirre, Murilo Rodrigues Alves e Camila Dias | Valor)

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