sexta-feira, 17 de junho de 2011

Dívida externa avança em silêncio


José Paulo Kuper
Economia & negócios, 16/06.

Ainda é generalizada a ideia de que o volume de reservas internacionais é uma blindagem segura contra eventuais problemas nas contas externas. Mas essa ideia já foi mais generalizada – e isso faz sentido. A persistência de juros estratosféricos e sua contraparte cambial, a firme valorização do real, têm operado, aos poucos e por vários canais, para minar a antiga confiança.
A dívida externa está vivendo um boom. Em silêncio, meio despercebida, ela se aproxima dos US$ 300 bilhões. E vem crescendo mais rápido do que as reservas que, no momento, andam pela casa dos US$ 350 bilhões.
Nos últimos dois anos, até abril de 2011, a dívida externa cresceu mais de 40%. Detalhe: o incremento é praticamente todo devido ao setor privado – 95% do aumento são de responsabilidade de bancos e empresas privadas. No total da dívida externa, mais de três quartos são de responsabilidade privada.  Em 2009, a parcela privada na dívida externa era de pouco mais de dois terços do total.
Em entrevista ao colega João Villaverde, do jornal “Valor”, na semana passada, o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, hoje consultor do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi) e coordenador de um estudo em fase de conclusão sobre o tema, chamou a atenção para a aceleração da trajetória da dívida externa. Segundo ele, no ritmo atual ela pode ultrapassar o nível de reservas.
Não é preciso lembrar que, emoldurando esse quadro preocupante, estão as taxas de juros reais mais altas do mundo, coadjuvadas pela firme valorização do real.

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