*José Álvaro de Lima Cardoso
O baixo
crescimento da economia brasileira observado nos últimos anos preocupa a todos
que têm responsabilidade com o país. Afinal, crescimento é um pressuposto da
continuidade do processo de melhoria da renda, em curso na última década. A
chamada recessão técnica que o país enfrentou no primeiro semestre (aparentemente
superada, a julgar pela divulgação dos dados mais recentes do nível de atividade), é
um fenômeno bastante negativo. Pelas suas condições naturais e tecnológicas, não
há dúvidas que o Brasil pode crescer a taxas muito superiores do que as
verificadas no último triênio. Entre 1940 e 1980, quando o nível de
escolaridade da população era muito inferior, nenhum outro país cresceu tanto
quanto o Brasil, tendo atingido crescimento anual médio de 7%, o maior entre
todos os países no período. O país precisa crescer a taxas mais elevadas para
continuar aumentando a renda per capita e melhorar a vida da população, que
deve ser o objetivo primeiro da política econômica de qualquer nação.
Muitos analistas têm escrito sobre o baixo
crescimento do Brasil, destacando que este está entre os mais baixos do mundo. As
referidas análises comparam recorrentemente o crescimento brasileiro aos dos
países emergentes, e ao de outros países sul-americanos. De fato, o Brasil tem
crescido abaixo da média verificada nos países chamados emergentes. No entanto,
quando retiramos a China da análise (cujo crescimento é “um ponto fora da curva”)
verificamos que a economia brasileira vem crescendo de forma semelhante aos
países emergentes.
O G-20
é o um fórum informal que reúne os países
desenvolvidos e emergentes, cujas economias representam nada menos que 90%
do PIB mundial e 2/3 da população global. Na tabela abaixo, temos
os países que compõem o G-20 e seus respectivos crescimentos em 2013. O Brasil
está na 7ª posição em crescimento, no grupo. A Tabela contém também uma média
de crescimento do PIB com e sem a presença da China que lidera o crescimento. O
crescimento do Brasil está acima da média do G-20 sem a China, como revelam os
dados.
Variação do PIB no G-20 em 2013
País
|
Variação do PIB (%) em 2013
|
China
|
7,7
|
Indonésia
|
5,8
|
Índia
|
5,0
|
Turquia
|
4,1
|
Arábia
Saudita
|
4,0
|
Coréia
do Sul
|
3,0
|
Argentina
|
2,9
|
Brasil
|
2,5
|
Austrália
|
2,3
|
EUA
|
2,2
|
Canadá
|
2,0
|
África
do Sul
|
1,9
|
Reino
Unido
|
1,7
|
Japão
|
1,5
|
Rússia
|
1,3
|
México
|
1,1
|
Alemanha
|
0,5
|
França
|
0,3
|
Itália
|
-1,9
|
Média
do G20
|
3,4
|
Média
sem China
|
2,2
|
Fonte:
FMI
Elaboração:
DIEESE
|
|
O Brasil cresceu mais que 11 países do
G-20, alguns deles apontados como modelos a serem seguidos. É o caso do México,
cujo produto no ano passado, cresceu apenas 1,1%, abaixo até da média que vem mantendo
nos últimos 12 anos (1,5%). O México atualmente é o preferido dos especuladores
de todos os quadrantes do mundo. Há grande condescendência dos organismos
internacionais e das organizações ligadas aos grandes grupos multinacionais com
a política econômica do México. Mas não nos enganemos, isso não ocorre por
acaso. O país lidera a Aliança para o Pacífico, apoiada diretamente pelos EUA e
Espanha. O fato é que o México vem crescendo metade do que cresce o Brasil, e
tem uma dívida pública do tamanho do PIB, enquanto a do Brasil equivale a 35%. Não
obstante, é grande a condescendência do FMI e outras organizações multilaterais
com o México, que destoa da dureza com que, em regra, o Brasil vem sendo
tratado por estes mesmos organismos e imprensa mundial.
Não devemos ser ingênuos. A razão disso está na forma como ambos os
países se relacionam com os interesses dos países dominantes, especialmente os EUA.
Só para citar exemplo recente: no final de 2013, o governo
mexicano de Piena Neto aprovou a reforma de dois artigos da Constituição, que
abre caminho para a privatização da Pemex, empresa de petróleo comandada pelo
Estado Mexicano há 75 anos. É decisão extremamente estratégica,
que mexe com interesses históricos e atende aos apelos das gigantes do petróleo.
Também é muito perigosa, visto que quase um terço da receita do governo
mexicano advém da Pemex.
Enquanto isso no Brasil, em julho último o governo entregou à Petrobrás, quatro
das seis áreas de cessão onerosa utilizadas como garantia no processo de
capitalização da empresa. Essas áreas, que estão concentradas no campo de
Franco (agora Búzios), tem entre 10 e 14 bilhões de barris de petróleo
recuperáveis, praticamente tudo que o país possui de reservas comprovadas. Decisão
acertada, para uma empresa que detém impressionantes resultados operacionais
(os que realmente importam): extração de 1,95 milhão de barris/dia de petróleo,
que garante ótimos resultados financeiros, e o ingresso em um círculo virtuoso
(no qual produz mais, fatura mais e aumenta fortemente a sua capacidade de
investir). Esse tipo de decisão estratégica, que colocará a Petrobrás,
nos próximos anos, no seleto grupo das cinco maiores petroleiras mundiais em
termos de produção e reservas confirmadas de petróleo, obviamente não agrada o
lobby internacional do petróleo. As multinacionais estão de olho nas imensas
reservas de Petróleo do país e uma empresa de ponta como a Petrobrás, que não
conseguiram privatizar na década de 1990, é um tremendo obstáculo neste
objetivo. Isso explica a frequência e a virulência dos ataques contra a
empresa.
O baixo
crescimento do Brasil é problema que deve ser enfrentado com determinação. No
entanto, o fenômeno deve ser visto no quadro da economia internacional, que
ainda sente os efeitos da maior crise do capitalismo nos últimos 80 anos. A necessidade
de acelerar o crescimento do Brasil está sendo, por si só, bastante árdua e
complexa. Montar diagnósticos irrealistas como se os problemas brasileiros
estivessem descolados da realidade mundial, não ajudam em nada a resolução do
problema.
*Economista
e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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