domingo, 4 de março de 2012

Brasil vira "cassino"para Europa

Em vão, nova tentativa de conter dólar
Autor(es): agência o globo:
O Globo - 02/03/2012
 
Governo taxa empréstimos no exterior e, ainda assim, moeda cai 0,5%. À noite, veio a restrição ao crédito para exportador P reocupado com o dólar, que no ano já cai 8,4%, o governo adotou ontem duas medidas para segurar a cotação da moeda. Primeiro, estendeu a alíquota de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos de empresas no exterior com prazo inferior a três anos. Antes, essa cobrança valia apenas para operações com prazo abaixo de dois anos. À noite, depois do fechamento dos mercados, anunciou restrições ao financiamento de exportações. À primeira medida, anunciada pela manhã, o mercado reagiu com indiferença: o dólar comercial fechou em queda de 0,47%, a R$ 1,712. Nem os dois leilões de compra feitos pelo Banco Central (BC) no mercado à vista seguraram a moeda. No ano, o recuo da moeda só perde para os 8,58% do peso mexicano, segundo dados da Bloomberg. Com as injeções de liquidez em instituições financeiras feitas pelo Banco Central Europeu desde o fim de dezembro do ano passado, o Brasil está recebendo uma verdadeira enxurrada de dinheiro do exterior. Se o quadro se mantiver, o governo poderá tirar da manga novas armas como mais aumentos de IOF ou mesmo usar o Fundo Soberano para comprar dólares. - Temos que diminuir esse entusiasmo pelo Brasil - disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O novo IOF vale para captações realizadas a partir de 1 de março. Mantega afirmou que a nova medida pune a entrada de capital especulativo no país, pois é voltada para operações de curto prazo. Mas, segundo compilação da BGC/Liquidez, nenhuma das 18 operações de captação externa de companhias brasileiras desde o início do ano incluiu emissão de títulos. - Estamos vendo emissões mais longas do que o estabelecido pela nova regulamentação. Parece que se trata apenas de mais um instrumento para o governo demonstrar preocupação com o câmbio - diz a economista-chefe da BNY Mellon ARX, Solange Srour. Já em relação ao financiamento às exportações, o BC estabeleceu que instituições financeiras e empresas não poderão mais fazer a operação conhecida como "pagamento antecipado de exportações". A autarquia identificou que muitos recursos especulativos ingressavam no pais disfarçados desse tipo de financiamento para os exportadores, para driblar o IOF. E nenhum imposto era pago na saída dos recursos. Entraram por essa aplicação no país US$ 8 bilhões em janeiro e fevereiro. Isso representa 46% a mais do que ingressou no primeiro bimestre do ano passado. Ao longo de 2011, o BC registrou o ingresso de US$ 54 bilhões por esse caminho. A medida está publicada no Diário Oficial de hoje. Apenas o importador será autorizado a financiar suas compras nessa modalidade. O prazo, que era ilimitado, foi fixado em 360 dias. Mantega lembrou que Europa, Estados Unidos e Japão estão injetando dinheiro no mercado e baixando juros para recuperar suas economias, mas a estratégia não está resultando em investimentos produtivos. Como esses mercados estão em crise, os bancos estão usando o dinheiro para ganhar com juros em países emergentes. Desde quarta-feira, circulavam no mercado rumores sobre medidas mais agressivas, como alguma restrição sobre investimentos em Bolsa. Na abertura do pregão, às 9h, ao perceberem a medida no Diário Oficial, investidores chegaram a apostar na alta do dólar: na máxima do dia, a cotação subiu 0,47%. O movimento, porém, durou cerca de uma hora, com o dólar passando a cair à medida que a nova regulamentação era interpretada. Na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, índice de referência, avançou 1,52%, aos 66.809 pontos, maior nível desde 26 de abril do ano passado. - O fato foi inferior ao boato - resume o diretor de Tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer. Para Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, o governo está tapando sol com a peneira. - Você tem muitos mecanismos dentro da própria legislação que não deixam os recursos presos. Pode trazer um empréstimo com três anos e devolver o dinheiro antes para o exterior, como disponibilidade. O próprio sistema dá liberdade para que os prazos do empréstimo sejam flexíveis - afirmou. Ao ser questionado sobre a eficácia das medidas já adotadas, Mantega disse que elas foram bem-sucedidas: - Se não tivéssemos tomado essas medidas, o dólar estaria hoje em R$ 1,50.

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