Clemente
Ganz Lúcio [1]
A necessidade de construir no Brasil compromissos e
acordo social, para
promover transformações que induzam e sustentem o crescimento
econômico e o desenvolvimento
social, é uma urgente empreitada política que deve unir
trabalhadores e
empresários.
A história econômica de países
que alçaram
seu desenvolvimento indica que precisaríamos dobrar o tamanho da
nossa economia
para, potencialmente, atingir uma situação de riqueza e de renda
suficientes
para oferecer as condições materiais para o bem-estar coletivo.
Para dobrar o
PIB per capita até 2030 seria necessário crescer mais de
5% ao ano.
Trata-se de um enorme desafio!
A atual recessão afasta o país desse objetivo. Os
desentendimentos sobre
o projeto e as estratégias de desenvolvimento travam
transformações necessárias
e não se é capaz de romper com a visão de curto prazo focada
somente em
legítimos interesses corporativos ou imediatos. Em um mundo
extremamente
competitivo, não se reverteu no país a regressão industrial e as
fragilidades
estruturais para o desenvolvimento produtivo. Fracassou-se no
desmonte de
importantes mecanismos de transferência e concentração de renda
e riqueza,
assim como não houve mudança da regressiva e burocrática
estrutura tributária;
permanece inalterada a disfuncional organização política; não se
modernizou a
gestão do Estado; o incremento da produtividade está travado.
Portanto, são
muitas as mudanças necessárias.
Há que se acordar uma agenda estratégica de um projeto de
desenvolvimento econômico de um grande país e do bem estar
social e da
qualidade de vida de uma vigorosa nação. Trata-se de complexas e
necessárias
escolhas, ação que se constitui na atividade própria da
política, cujo fim é
produzir coesão e força social suficiente para intervir e mudar
a situação
presente. É atividade primordial da política enunciar, no espaço
de um amplo
contrato social articulado na esfera pública e privada, o que a
sociedade quer
construir como bem-estar social, qualidade de vida e equilíbrio
ambiental. Ao
mesmo tempo, cabe à política coesionar a sociedade para se
movimentar e dar
suporte às transformações que promovam o projeto e as
estratégias definidas. Abre-se
assim, nesse contexto, a possibilidade de outro jogo social e de
novas regras a
reger as relações sociais.
A Constituição de 1988 é o nosso atual contrato social e
pacto político,
fruto da luta social pela liberdade e democracia, que desembocou
no processo
Constituinte, um espaço de complexas negociações entre forças
sociais. Quase 30
anos depois, a sociedade declara a sua incompletude. O jogo
social, analisado a
partir das possibilidades do desenvolvimento, exige que o
contrato social
expresso na Constituição seja aperfeiçoado, alterado e/ou
detalhado. Essa é uma
tarefa fundamental, indicada na agenda de reformas que setores
da sociedade
conclamam.
As Centrais Sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB,
NCST e CSB)
tomaram uma decisão histórica no campo da unidade de ação,
estratégico espaço
de articulação sindical: deliberaram iniciar um movimento
nacional pelo
crescimento e desenvolvimento. Querem abrir um amplo espaço de
diálogo social
em torno de uma robusta agenda que promova a retomada e
sustentação do
crescimento econômico e do desenvolvimento social.
É urgente reverter a profecia recessiva para 2016 e, para
isso, será
necessário criar outro padrão para a política econômica no nível
macro e micro.
É urgente construir a transição para a retomada do crescimento
econômico e
sustentá-lo por um período longo. Para isso, é preciso colocar
as locomotivas
que puxam o crescimento econômico novamente em plena operação.
Retomar o investimento público e privado em
infraestrutura econômica,
social e urbana; destravar a capacidade produtiva nos setores de
petróleo e
gás, naval, construção e da área de engenharia; oferecer crédito
às empresas e
aos consumidores; articular medidas e programas de incremento da
produtividade
e agregação de valor; destravar o Estado brasileiro,
simplificando-o e ganhando
eficiência; recompor e integrar cadeias produtivas; fortalecer o
mercado
interno de consumo de massas; favorecer as exportações. Essas
são algumas das
locomotivas que puxam o crescimento do país.
Essas e outras diretrizes devem se transformar em
propostas de
políticas, programas e ações que articulem o setor público e
privado nessa
empreitada de retomar o crescimento econômico. A construção
dessa proposta deve
ser feita em um espaço de diálogo que gere compromissos de longa
duração, capaz
de orientar a visão de futuro, de médio e longo prazo, e de dar
sentido aos
sacrifícios que todos farão.
Os trabalhadores conhecem a centralidade do emprego para
suas vidas e
para a economia do país. Sabem que as empresas precisam ir bem.
Trabalhadores e
empresários sabem que o Estado tem capacidade correspondente
àquilo que
economicamente a sociedade é capaz de produzir.
As crises são destrutivas e geram enormes mazelas. Porém,
a depender da
inciativa política dos atores sociais, podem abrir algumas
oportunidades. Uma
delas é posicionar os atores sociais para a perspectiva de um
olhar para além
das suas legítimas demandas corporativas. Ver o país, olhar o
outro, pensar na
estratégia para superar obstáculos, criar coragem para promover
mudanças que
gerem ganhos coletivos. É nesse caminho que se colocam as
Centrais Sindicais.
Trabalhar para construir um Compromisso pelo Desenvolvimento.
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