quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Que vai em frente, sem nem ter com quem contar

gentehumilde
Passamos um ano nada inspirador.
Vimos o governo que o povo elegeu adotar políticas que o povo não escolheu, embora sejam compreensíveis as dificuldades de enfrentar um ciclo econômico adverso em todos os sentidos: perdas recordes nos preços dos nossos principais produtos de exportação – ferro e soja – e no valor do barril de petróleo, combustível do pólo mais dinâmico de nossa economia, a Petrobras, já abalroada pelas encrencas de corrupção que ali se desenvolveram,  tanto as reais quanto as sombras que dela o oportunismo político projetou.
Assistimos, também, o resultado do processo de “despolitização da política” iniciado em junho de 2013 com ares vanguardista e que se transformou num tresloucado fascismo, na negação da delicadeza e do pensamento humanista, como ficou tão tristemente simbolizado nas provocações de rua a Chico Buarque por um bando de playboys que, nos “bons tempos”, se limitavam a ir esbanjar em suas noitadas, desfilando com seus automóveis de luxo e suas mulheres de vitrine.
Sob o aplauso de uma imprensa, como sempre, conservadora e, como nunca, marcada pela covardia e cumplicidade ideológica dos jornalistas com o patronato, presenciamos  outro fenômeno desta despolitização: a sua “policialização”.
Delegados, promotores e até alcaguetes viraram os protagonistas da política, os donos das manchetes e das verdades. Todos os dias é evidente o propósito político e hoje também não foi diferente, com a revelação de que, no interrogatório de um “fazedor de negócios” primário, como este Bumlai, tenta-se dezoito vezes (!!!) envolver Lula nos seus trambiques e não-trambiques.
Vimos ainda um escroque, um psicopata que invoca a Deus mas adora o Dinheiro, tomar conta do parlamento brasileiro para fazer seus negócios, apoiado e alimentado por quem não consegue fazer o que deveria ser o seu negócio: chegar ao poder pelo voto e não pelo golpe.
No entanto, nesta lista deprimente que poderia se estender por páginas – se ainda houvessem páginas… – deveria haver um preâmbulo.
Até aqui, sobrevivemos.
Embora algo pleonástico, porque sobreviver é sempre até aqui, é tudo. Ou quase tudo, porque além disso, melhoramos, se é que que se pode chamar de melhorar resgatar alguns anos da pobreza e da injustiça secular em que mergulharam o povo brasileiro.
Os que mandaram sempre querem fazer crer que os que fizeram sobrar um pouco, muito pouco, para os que nunca tiveram nada são os culpados por todos os males e mazelas que nos deixam tão longe do “padrão Fifa” – ah, que peças prega o destino! – dos cartazes que foram às ruas fingindo-se generosos quando apenas cobriam os dentes e as garras de quem sempre viveu nele.
Como, pela agressão estúpida a um dos símbolos do pensamento do tempo em que artistas e intelectuais brasileiros amavam o povo brasileiro – e a ideia de um Brasil onde ele coubesse e imperasse – este virou o “Natal do Chico”, pego emprestada dele uma música, composta com  Vinícius de Moraes  sobre um antigo choro de Aníbal Sardinha, o Garoto, feita ainda quando os discos eram de vinil e sentimentos macios.
E que a crédula oração de um incréu possa unir nossa esperança que o Brasil, um dia, possa ser uma casa para todos os seus filhos, onde esteja escrito em cima que ali é um lar.

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