quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Brasil paga boa parte da salgada conta da crise mundial


                                                                                   *José Álvaro de Lima Cardoso
     O golpe no Brasil não é um acontecimento local, mas continental. Todos os países latino-americanos, possivelmente sem exceção, estão sofrendo algum tipo de pressão do Império. O caso mais dramático é o da Venezuela, pelo grau de resistência colocado. Mas tem outros casos muito graves, como o da Nicarágua, que enfrenta uma verdadeira “Primavera Árabe”. Os processos impostos contra o povo latino americano, não decorrem de “maldade imperial”, mas é uma “imposição” da geopolítica. Atravessamos hoje a maior crise da história do capitalismo, uma crise inusitada, que obriga uma extração maior de riqueza da periferia. Os EUA, além disso, para o enfrentamento adequado de seus principais inimigos, precisa manter os países latino-americanos (que considera seu quintal) alinhados com as bases de sua geopolítica. Neste quadro, um dos objetivos centrais da política dos EUA na América Latina é construir as bases, no subcontinente, para o apoio à política internacional do Império.
     O programa que está sendo implantado no Brasil, de forma muito célere, tem eixos centrais que são um sonho para quem não quer que o Brasil seja potência algum dia: a) entrega das riquezas naturais; b) privatização radical, à preço de banana; c) enfraquecimento do Estado de uma forma geral, inclusive militar; d) destruição das políticas sociais. Com o golpe o Estado brasileiro está destruindo ou se desfazendo de instrumentos fundamentais para sustentação de seu desenvolvimento, especialmente em período de grave crise mundial, como a atual. Qual o sentido de entregar, a preço de banana, instrumentos financiados com dinheiro público, ao longo de décadas, como Petrobrás, Embraer, Braskem, Eletrobrás, estruturas fundamentais para o Brasil ter sido o país que mais cresceu entre 1950 e 1980, senão uma subserviência radical aos países imperialistas?
     Estão entregando estatais e tornando o país cada vez mais dependente das grandes multinacionais, Exxon, da Boeing, etc. indo na contramão do que ocorre em todo o mundo, a começar pelos países imperialistas, que protegem cada vez mais seus interesses e suas empresas. O golpe criou uma lógica de desnacionalização da economia que está levando o Brasil para o buraco. Se depender da turma que está no governo, a economia brasileira, que já vinha se desnacionalizando há muitos anos, voltará a ser uma colônia, fornecedora de matérias-primas para os países desenvolvidos. Se conseguirem institucionalizar o golpe, pela via eleitoral, as privatizações alcançarão a Petrobrás, BB, CEF, BNDES. Será o desmonte total do Estado nacional. Claro, desmonte do Estado público, aquele que, com muitas limitações desempenha funções nas áreas do crédito, da assistência social, da previdência, etc. O Estado a serviço do setor privado, na medida das possibilidades, continuará em pleno funcionamento.
     Esse debate torna-se ainda mais fundamental, em função da guerra comercial que vive a economia mundial, com uma escalada de ações protecionistas, especialmente por parte do governo estadunidense. Com risco, nada desprezível, inclusive, na medida em que a crise econômica perdure, da guerra comercial evoluir para uma guerra aberta envolvendo as principais potências. Vamos lembrar que recentemente Trump ameaçou atacar o Irã, um país enorme e de importância estratégica na geopolítica e no fornecimento de petróleo para o mundo, e com grande influência regional. É muito otimismo imaginar que este tipo de atitude não possa, em face do agravamento da crise, descambar em determinado momento, para uma guerra aberta. Mesmo porque, os EUA são capazes de tudo (tudo mesmo) para defender os seus interesses estratégicos, incluindo suas empresas (que, no fundo é o que está em jogo).
     No caso brasileiro estamos vendo neste momento a importância de um Estado nacional, que defenda os interesses do país, com o ataque especulativo em andamento. Alegando os resultados das pesquisas eleitorais, os especuladores empreendem um ataque contra a economia brasileira, visando gerar uma crise financeira e cambial, procurando chantagear a sociedade, num movimento parecido com que assistimos em 2002. O certo é que, em face da gravidade e da longevidade da crise mundial, o Brasil e outros países periféricos, estão sendo obrigados a pagar a conta.
                                                                                                             *Economista.

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