*José Álvaro de Lima Cardoso.
No mundo todo está se transferindo, com
mais ou menos êxito, os impactos da crise econômica aos trabalhadores, idosos, e
segmentos mais pobres e frágeis da população. No Brasil, além do repasse dos
efeitos da crise aos mais pobres, um outro vetor do golpe é a tentativa dos EUA
de recuperar sua hegemonia na América do Sul. O Brasil, que é pais chave na
Região, adotou políticas soberanas na última década, que fugiram do script
imperialista. Fortalecimento do Mercosul, respeito à soberania dos vizinhos,
ingresso nos BRICS, votação da Lei de Partilha para proteger a riqueza do
Pré-sal. Tudo isso desagradou de os interesses dos EUA na Região.
Em 2013
o corajoso e competente jornalista norte-americano Glenn Greeanwald já havia
denunciado que o Brasil era o grande alvo das ações de espionagem dos Estados
Unidos. Segundo o jornalista, o governo estadunidense espionou inclusive mensagens de e-mails da presidenta Dilma Rousseff e de seus assessores mais próximos. O
objetivo da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês),
segundo Greeanwald, era buscar detalhes da comunicação da presidente com sua
equipe. Uma frase do jornalista, em entrevista dada naquela ocasião sintetizou
o que acontecia: “Não tenho dúvida de que o Brasil é o grande alvo dos Estados
Unidos.”
No
centro do interesse dos organismos de espionagem dos EUA está o petróleo. Por
isso a Petrobrás, zeladora constitucional do petróleo e do gás no Brasil, está
no centro da crise, desde o seu início. Como é fato conhecido, após o anúncio das
descobertas do Pré-sal, os EUA imediatamente anunciaram a reativação da IV
Frota da marinha, que é encarregada de vigiar o Atlântico Sul. O interesse dos
EUA na maior descoberta de petróleo do século 21 é fácil de entender. Mas o que
está em jogo é mais do que
petróleo. Os Estados Unidos não têm interesse de um
desenvolvimento autônomo e soberano do Brasil, pelo potencial que tem o país,
de rivalizar com os interesses estratégicos dos EUA na Região. A articulação do
Brasil nos BRICS ameaça ainda mais os interesses dos EUA, pela articulação do
país com os principais rivais dos EUA na luta pela hegemonia mundial (China e
Rússia).
O governo dos Estados Unidos está
negociando com o governo Macri a instalação de bases militares na Argentina,
uma em Ushuaia (na província da Terra do Fogo) e a outra localizada na Tríplice
Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai). Tudo indica que o grande interesse da
instalação destas bases é o Aquífero Guarani, maior reserva subterrânea de água
doce do mundo. Os EUA e a Europa enfrentam grave problema da falta de água, a
maioria dos Rios dos EUA e do Velho Continente estão contaminados. O Aquífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do mundo, que está
localizado na parte sul da América do Sul, (Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai), coloca a Região como detentora de 47% das reservas superficiais e subterrâneas de água do mundo. Os EUA
sabem que não há nação que consiga manter-se dominante sem água potável em
abundância, por isso seu interesse em manter o domínio político e militar da
Região. E tentará fazer isso por bem ou por mal.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em
Santa Catarina.
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