segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Interesse dos EUA no golpe: não é só petróleo.



                                            *José Álvaro de Lima Cardoso.
    No mundo todo está se transferindo, com mais ou menos êxito, os impactos da crise econômica aos trabalhadores, idosos, e segmentos mais pobres e frágeis da população. No Brasil, além do repasse dos efeitos da crise aos mais pobres, um outro vetor do golpe é a tentativa dos EUA de recuperar sua hegemonia na América do Sul. O Brasil, que é pais chave na Região, adotou políticas soberanas na última década, que fugiram do script imperialista. Fortalecimento do Mercosul, respeito à soberania dos vizinhos, ingresso nos BRICS, votação da Lei de Partilha para proteger a riqueza do Pré-sal. Tudo isso desagradou de os interesses dos EUA na Região.
      Em 2013 o corajoso e competente jornalista norte-americano Glenn Greeanwald já havia denunciado que o Brasil era o grande alvo das ações de espionagem dos Estados Unidos. Segundo o jornalista, o governo estadunidense espionou inclusive mensagens de e-mails da presidenta Dilma Rousseff e de seus assessores mais próximos. O objetivo da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês), segundo Greeanwald, era buscar detalhes da comunicação da presidente com sua equipe. Uma frase do jornalista, em entrevista dada naquela ocasião sintetizou o que acontecia: “Não tenho dúvida de que o Brasil é o grande alvo dos Estados Unidos.”
        No centro do interesse dos organismos de espionagem dos EUA está o petróleo. Por isso a Petrobrás, zeladora constitucional do petróleo e do gás no Brasil, está no centro da crise, desde o seu início. Como é fato conhecido, após o anúncio das descobertas do Pré-sal, os EUA imediatamente anunciaram a reativação da IV Frota da marinha, que é encarregada de vigiar o Atlântico Sul. O interesse dos EUA na maior descoberta de petróleo do século 21 é fácil de entender. Mas o que está em jogo é mais do que petróleo. Os Estados Unidos não têm interesse de um desenvolvimento autônomo e soberano do Brasil, pelo potencial que tem o país, de rivalizar com os interesses estratégicos dos EUA na Região. A articulação do Brasil nos BRICS ameaça ainda mais os interesses dos EUA, pela articulação do país com os principais rivais dos EUA na luta pela hegemonia mundial (China e Rússia).     
        O governo dos Estados Unidos está negociando com o governo Macri a instalação de bases militares na Argentina, uma em Ushuaia (na província da Terra do Fogo) e a outra localizada na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai). Tudo indica que o grande interesse da instalação destas bases é o Aquífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do mundo. Os EUA e a Europa enfrentam grave problema da falta de água, a maioria dos Rios dos EUA e do Velho Continente estão contaminados. O Aquífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do mundo, que está localizado na parte sul da América do Sul, (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), coloca a Região como detentora de 47% das reservas superficiais e subterrâneas de água do mundo. Os EUA sabem que não há nação que consiga manter-se dominante sem água potável em abundância, por isso seu interesse em manter o domínio político e militar da Região. E tentará fazer isso por bem ou por mal.  
                                      
                                                   *Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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