segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Fidel Castro - 90 anos

 da Carta Maior

postado em: 13/08/2016
Poucas pessoas insistiram tanto ao longo de sua vida quanto o cubano Fidel Alejandro Castro Ruz.

Cuba conheceu o caráter do jovem Fidel em 1953, quando ele liderou um grupo de companheiros revolucionários ao frustrado assalto ao Quartel Moncada. Desde a primeira proeza revolucionária, ele já mostrava, como descreveu o jornalista espanhol Ignacio Ramonet, que era um homem “martiano”(ler matéria aqui) – a inspiração do ataque foi o fato de que naquele ano se celebrava o centenário do natalício de José Martí, o revolucionário poeta que planejou e liderou a guerra independentista em Cuba, o ídolo cujo exemplo norteou cada decisão da vida de Fidel.

Mesmo naquela derrota, a insistência já mostrava ser um dos signos de sua personalidade. O famoso discurso para convocar os voluntários sob a consigna de “fazer história ou servir de exemplo para os futuros revolucionários” foi cumprido à risca, e teve efeitos mais amplos do que ele esperava.

Primeiro, com a insistência na luta revolucionária em seu próprio país. Fidel Castro não descansou até levar Cuba a sua segunda independência, em 1959, e então construir o país que Martí não viveu para fazê-lo. E ao fazê-lo Castro, ao transformar a outrora colônia de férias do Império num modelo socioeconômico contrário aos grandes poderes do capital, ele fez história e serviu de exemplo para toda a América Latina e para o mundo, tanto para outros jovens revolucionários como para países que buscam defender sua soberania e desenvolvimento autossuficiente.

Suas façanhas o tornaram um dos maiores inimigos da maior potência militar da história da humanidade, e ele e seu país, um pequeno arquipélago a escassos quilômetros de distância, insistiram e resistiram. Durante os anos em que foi alvo preferencial da inteligência estadunidense, Fidel enfrentou atentados frustrados contra a sua vida e rumores quase semanais de que seu regime estava por um fio. Sobreviveu a todos. Continuou insistindo.

Nos Anos 90, com a dissolução da União Soviética e a onda neoliberal que se espalhou pela América Latina, parecia que se impunha o cenário para uma inevitável rendição. A imprensa hegemônica vivia em polvorosa a ansiedade com o fim da Revolução Cubana. Mas Fidel decidiu insistir, e reordenou a economia da ilha, que se reergueu novamente.

O novo século de Cuba começou com a companhia de novos aliados regionais. O Brasil de Lula foi um dos que assimilou algumas lições da ilha – e ainda faltou aprender outras, como mostra o editorial de Saul Leblon (ler aqui) –, assim como a Venezuela de Chávez, o aluno mais dedicado, a Bolívia de Evo, a Argentina de Néstor e Cristina, o Equador de Correa.

Porém, também foi a década que marcou uma transição forçada e inesperada no comando da Revolução. A doença venceu Fidel Castro, mas não o matou. O agora velho comandante voltou a insistir, dessa vez por sua vida. Diferente do que muitos supõem o afastamento da presidência, agora ocupada por seu irmão Raúl, não o distanciou das decisões de maior transcendência sobre a condução do movimento revolucionário.

Hoje, Cuba vive um lento processo de abertura econômica e de reaproximação diplomática com os Estados Unidos. A imprensa hegemônica, que esfregava as mãos com o fim da Revolução quando do ocaso soviético, volta a se mostrar ansiosa. Porém, engana-se quem acha que a transição cubana (ler aqui) e o povo da ilha não defenderão seu modelo de sociedade. Nesse sentido, é bom destacar que boa parte dos novos líderes cubanos, os que em breve herdarão a batuta que hoje está nas mãos de Raúl Castro, são figuras jovens que nutrem pela figura de Fidel a mesma admiração que ele teve por José Martí durante toda a sua vida.

Admiração que vem não só da história de vida como da coerência que ele manteve até hoje. Coerência que também pode ser comprovada este ano, quando ele decidiu se ausentar dos eventos realizados durante a visita de Barack Obama à ilha, apesar de ter sido um dos idealizadores da retomada das relações, a que ele afirmou que não pode acontecer sem um marco de defesa das conquistas históricas do povo cubano. Por tudo o que significa a sua figura para a Revolução e para a resistência contra as agressões do Império nos últimos 57 anos – as que não incluem apenas o embargo econômico, mas também ataques químicos contra plantações, atentados explosivos contra hotéis e diversos tipos de sabotagens e artimanhas.

Em uma das suas mais recentes reflexões publicadas, Fidel diz: “não confio na política dos Estados Unidos, nem tenho intercambiado uma palavra com eles, mesmo que isto signifique uma rejeição da minha parte a uma solução pacífica aos conflitos ou perigos de guerra. Defender a paz é um dever de todos. Qualquer solução pacífica e negociada aos problemas entre os Estados Unidos e os povos, qualquer povo da América Latina, que não implique no uso da força, deverá ser tratada de acordo com os princípios e normas internacionais. Defenderemos sempre a cooperação e a amizade com todos os povos do mundo e entre eles os dos nossos adversários políticos. É o que estamos reclamando para todos” (ler nota sobre a carta aqui).

Aos 90 anos, Fidel Castro é um mito vivo. O diabo preferido dos inimigos das alternativas ao capitalismo. Um ícone para o seu povo e para os que acreditam que um outro mundo ainda é possível. Atualíssimo, apesar da idade, também é um dos mais vigilantes defensores de uma consciência global sobre os efeitos do aquecimento global e os riscos ao futuro do planeta, mesmo sem ser um ambientalista convencional.

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