Ricardo Melo, no facebook
Nascido em Minas Gerais, o mensalão 1.0 é o pai tucano de todos os mensalões reais ou imaginários
Sem prejuízo de investigações rigorosas, denúncias como a do ex-diretor
da Petrobras Paulo Roberto Costa devem ser vistas com cuidado.
Primeiro, faltam provas cabais das acusações. As reportagens aludem a
depoimentos que teriam sido dados, papéis que o país desconhece ou
gravações do tipo daquela invocada pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal Gilmar Mendes que nunca apareceram.
Na opinião pública,
denúncias de baciada como a de Costa costumam produzir um efeito de
soma zero. Só para relembrar: a atual celeuma em torno da Petrobras
começou com o caso da compra de uma refinaria em Pasadena, nos EUA.
Bem, como se viu, a compra foi chancelada por um conselho de
administração do qual faziam parte, além da petista e hoje presidente
Dilma Rousseff, gente como Fábio Barbosa, ex-banqueiro e hoje um dos
vários presidentes da editora Abril; Jorge Gerdau, empresário graúdo do
ramo da siderurgia; e Cláudio Haddad, fundador do grupo Garantia.
Complicado, não?
Na área propriamente política, a salada
aumenta. Segundo revelações anteriores e as agora atribuídas a Costa, a
farra na Petrobras envolvia Eduardo Campos (PSB, hoje Marina Silva),
parlamentares, governadores e ministros de PMDB, PT e PP e, é bom
lembrar, políticos que apoiam o tucano Aécio Neves.
Um dos mais
expostos desde o início é o "golden baby" Luiz Argôlo, deputado do
Partido Solidariedade. Para quem esqueceu, a legenda é aliada do PSDB.
Isso para não falar que, entre outras alianças, o mesmo PSDB faz
dobradinha nas eleições para governador de São Paulo com o PSB de Campos
e Marina.
Ou seja, poucos se salvam da lambança. E nem se
tocou ainda na ferida do lado corruptor. Quem são as empreiteiras, as
construtoras e os empresários envolvidos no suposto esquema denunciado
por Costa? Aguarda-se ansiosamente a revelação (e a punição) de todos.
Por isso soam como ideias fora de lugar declarações do candidato tucano
Aécio Neves, ao dizer que estamos diante "das mais graves denúncias da
história recente". O candidato, como é notório, adora um aeroporto.
Tenta, agora, reviver o clima de República do Galeão.
Além das
circunstâncias diferentes, faltam a ele a bagagem intelectual e a
oratória de um Carlos Lacerda, que migrou para a direita e morreu no
relento da política. Mesmo assim, Aécio ousou: "Está aí o mensalão 2: é o
governo do PT patrocinando o assalto às nossas empresas públicas para a
manutenção de seu projeto de poder."
E o mensalão 1.0, nascido
em Minas, pai tucano de todos os mensalões reais ou imaginários, onde é
que fica? O tucano Eduardo Azeredo e seus companheiros fazem de tudo
para alongar o processo até as calendas para prescrever condenações. Já o
dito mensalão do PT acabou tal qual mula sem cabeça.
Para o
Supremo Tribunal Federal de Joaquim Barbosa, havia um chefe de
quadrilha, que, como foi decidido depois, não tinha quadrilha a dirigir.
Fora o desejo deliberado do então presidente do STF de ignorar provas
(o inquérito 2.747) que colocavam em xeque a acusação de uso de dinheiro
público.
Tem-se, então, o seguinte: ao que tudo indica, a
Petrobras precisa ser desinfetada, mas os insetos têm origem variada.
Outro dado: durante o governo FHC, a Polícia Federal realizou 48
operações contra corrupção; já no governo Lula, houve mais de 1.270,
resultando em mais de 1.500 presos.
Recentemente, o PT afastou
um deputado envolvido com o doleiro Alberto Youssef, impediu a
candidatura de um outro acusado de ligações com o grupo criminoso PCC,
cortou na própria carne na investigação da roubalheira de impostos em
São Paulo e assistiu à prisão de importantes militantes na Papuda.
Lembre-se que Youssef foi um dos grandes operadores do escândalo da
privatização das teles no governo tucano, conforme nos refresca a
memória o prefácio da reedição do livro "O Brasil Privatizado", do
jornalista Aloysio Biondi (Geração Editorial). Obra que, aliás, ajuda a
entender que a diferença não está na permanência da corrupção. Mas na
disposição de combatê-la.
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